Numa publicação na rede social Facebook, a artista e cantora Eugénia Melo e Castro anunciou a morte do pai e poeta português E. M. de Melo e Castro, aos 88 anos.
“Um dos mais importantes Poetas e Homem de Artes e Cultura do Mundo”, escreveu na rede social.
Em junho de 2017, Marcelo Rebelo de Sousa condecorou o artista em São Paulo, com a Ordem do Infante Dom Henrique.
A condecoração, declarou o chefe de Estado na altura, homenageou "um mestre, que é um experimentalista, e nesse sentido, um existencialista".
"A homenagem nunca é tardia, porque é mais saborosa. É prestada no Brasil, quem diria, e ouvindo o próprio a recordar o percurso que fez. Normalmente as homenagens são póstumas, aí todo o mundo passa a génio", comentou.
Filho de Ernesto de Campos Melo e Castro (Covilhã, 1896 — Covilhã, 1973), neto materno do 1.° Visconde da Coriscada e Comendador da Ordem da Instrução Pública a 1 de Agosto de 1955, e de sua mulher e duas vezes prima Maria Gonzaga de Campos e Melo Geraldes.
Foi casado com a escritora Maria Alberta Menéres e é pai da cantora Eugénia Melo e Castro.
E. M. de Melo e Castro foi pioneiro da poesia experimental em Portugal, bem como em engenharia têxtil no país, nas décadas de 1950/1960.
Licenciado em engenharia têxtil, mas com um percurso sempre ligado à literatura, tendo feito um doutoramento em Letras na Universidade de São Paulo, era um dos artistas portugueses mais acarinhados pelo público brasileiro, país onde vivia há mais de 20 anos.
Licenciou-se em Engenharia Têxtil pela Universidade de Bradford (1956) e terminou o doutoramento em Letras pela Universidade de São Paulo (1998). Foi professor no Instituto Superior de Arte, Design e Marketing (IADE) e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil.
Destacou-se como um dos pioneiros da Poesia Visual (concreta) em Portugal. Ideogramas data de 1962 e reúne 29 poemas concretos, publicados sem qualquer introdução ou nota explicativa; este livro é considerado um marco fundador da Poesia Concreta e do Experimentalismo em Portugal. Participou no primeiro e foi um dos organizadores do segundo número da revista Poesia Experimental, em 1964 e 1966, respetivamente. Entre as diversas antologias e suplementos em que colaborou, assinale-se a organização de Hidra 2 (1969) e Operação 1 (1967). Também colaborou revista Arte Opinião (1978-1982).
Em 2006, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves apresentou O Caminho do Leve, uma grande exposição retrospectiva da sua obra; da poesia concreta e experimental à infopoesia, passando pela videopoesia, sem esquecer a criação de imagens fractais, a mostra reuniu uma seleção de obras representativas de quase cinco décadas de trabalho. Em Coimbra, na sua exposição Do Leve à Luz (integrada no ciclo Nas Escritas PO.EX, 2012), apresentou 14 novos Videopoemas.
Marcelo recorda pioneiro da poesia experimental portuguesa
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recordou hoje o poeta Ernesto Melo e Castro como “a personalidade mais destacada”, da poesia experimental portuguesa, na mensagem de condolências, publicada no 'site' da Presidência da República.
“Ernesto de Melo e Castro foi a personalidade mais destacada de um movimento marcante da cultura portuguesa contemporânea”, estabelecendo-se como “sinónimo de poesia experimental portuguesa”, e “um escritor e artista que muito contribuiu para o diálogo cultural luso-brasileiro”, escreve Marcelo Rebelo de Sousa, na mensagem enviada à família do escritor e artista plástico.
“Durante décadas, o nome E. M. de Melo e Castro foi sinónimo de poesia experimental portuguesa, tendência que cultivou como poeta, teórico, crítico, conferencista, editor, dinamizador, logo nos anos 1960, com a revista ‘Poesia Experimental’”, lê-se na mensagem de Marcelo Rebelo de Sousa, publicada ao início da tarde de hoje.
O Presidente da República recorda ainda “o volume ‘PO.Ex’”, de Melo e Castro, publicado com a escritora e artista Ana Hatherly (1929-2015), e as muitas intervenções do criador multidisciplinar, em diversos “encontros e performances”, sem esquecer, a edição da “Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa”, em 1959, que coorganizou com sua mulher, na altura, a escritora, poeta, programadora e pedagoga Maria Alberta Menéres (1930-2019).
"Da poesia visual e gráfica ao uso de tecnologias e à videoarte, Melo e Castro juntou o conhecimento e o gosto dos clássicos (como Camões) com as vanguardas modernas, dando uma feição cosmopolita e avançada à poesia portuguesa, e fazendo pontes com o Concretismo brasileiro, que teve grande repercussão além-Atlântico. Foi aliás no Brasil que o escritor viveu muitos anos, doutorando-se em Letras (na Universidade de São Paulo) e dando aulas (na PUC, na mesma cidade). Mas se no Brasil encontrou interlocutores mais atentos e com mais afinidades estéticas, diversas instituições portuguesas também foram mostrando e reconhecendo o seu trabalho ousado e vanguardista", conclui Marcelo Rebelo de Sousa, na sua mensagem.
Comentários