Para quem gosta ou segue esta coisa da NBA, a liga norte-americana de basquetebol, passar uma noite mal dormida é simplesmente lidar com as dores do ofício de aficionado. Não adianta pensar muito no caso — até porque nem dá para fazer de outra forma. Quem gosta de seguir os melhores do mundo neste desporto já sabe qual é o sacrifício a merendar: negar horas de sono e descanso ao malfadado canastro que se vai tentar erguer de forma mecânica tipo zombie ao raiar do dia.

Por causa deste gosto peculiar há vários tipos de esgar matinal. Há quem acorde rabugento. Há quem acorde mais sonolento. Há quem acorde com olheiras de pugilista no ativo quando claramente já devia estar na reforma. Mas esta manhã, independentemente de qual for o caso do apaixonado de que se fale ou sirva para encaixar a carapuça, o despertar foi diferente. Porquê?

Ainda não eram cinco da manhã, mas andava lá perto, quando ouvimos Mark Tatum, comissário-adjunto da NBA, a dizer uma das frases mais esperadas pelos amantes portugueses de basquetebol: "com a 39.ª escolha, os Sacramento Kings selecionam Neemias Queta". Quem aguentou até ao fim, quem passou a noite em branco, não deve ter qualquer remorso por isso. Se gosta do desporto da bola de borracha laranja, emana felicidade através dos seus olhos esbugalhados. Tal como o Queta o fez.

A noite mal dormida acontece e é importante porque — pela primeira vez na história — um jogador português pode vir a pisar os pavilhões da melhor liga de basquetebol do mundo. Quem? O Neemias. Nemy. Queta. Quetão. Do Vale da Amoreira para o Mundo. Aquele de quem as pessoas se riram na cara quando disse que queria ir para a NBA e que agora vai fazer uso dos seus 2,13 metros de altura, 2,29 metros de envergadura e 111 kg de peso em Sacramento, pelos Kings, na Califórnia. (Onde até já jogou uma tal de Ticha Penicheiro, o mais próximo de realeza basquetebolística nacional.)

Não sabe quem é ou nunca ouviu falar sobre o atleta luso que o New York Post afirmou tratar-se de "um nome que toda a gente vai ficar a conhecer"? Basta ler aqui o perfil deste jovem de 22 anos que colocou Portugal no Globo NBA. Quer saber o porquê de ser considerado tão especial? De ser a razão de ter um país inteiro nas suas (enormes) asas (braços)? É clicar aqui. Quer saber qual a importância de ter o primeiro jogador português na NBA? João Dinis e Ricardo Brito Reis, os anfitriões do podcast Bola ao Ar, dão uma ajuda.

Carlos Lisboa (nos anos 80) e Betinho (2007) ameaçaram, mas foi o grande Quetão quem concretizou o sonho de ser o primeiro. "Mal posso esperar por ir para Sacramento. Vamos, Kings!", confidenciou o próprio. Mas não é o único. Nós, que gostamos disto do basquetebol, também. Quem sabe até os que não gostam, agora que há um português em ação. 

A realidade é que Sacramento tem agora uma nação inteira num retângulo à beira-mar plantado que está mortinha para ver (e partilhar incessantemente) o primeiro abafo de Neemias. A este que assina pouco ou nada interessa se há um concorrente (Davion Mitchell) que foi escolhido na posição número 9.º do Draft, trinta lugares acima dele. Hélas, até podia ter sido o último a ser selecionado ou até se limitar a fazer asneiras nos minutos que vier a jogar em outubro. Só pelo facto de demonstrar e provar a todos os jovens que o sonho é que comanda a vida já é o número um. 

Abafa neles todos, Neemias! É o desejo deste aficionado de Philadelphia (que já não fala sobre Ben Simmons) e que relegou o Embiid para segundo plano na ordem do dia. O meu "Process" agora é outro e vem do Barreiro. 

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