Estas posições foram transmitidas por Jerónimo de Sousa em conferência de imprensa, no final da reunião do Comité Central do PCP, durante a qual ficou assente a realização de uma conferência nacional deste partido, em Corroios, concelho do Seixal, nos dias 12 e 13 de novembro.

Questionado sobre a sua expectativa em relação à proposta orçamental do executivo, que deverá dar entrada no parlamento até 10 de outubro, o líder comunista respondeu: “Por aquilo que conhecemos, até em termos de execução em relação a este Orçamento em vigor, aquilo que vem aí não é bom”.

Para justificar a sua perceção, Jerónimo de Sousa referiu-se a declarações proferidas pelo primeiro-ministro, António Costa, sobre a evolução dos salários da administração pública em 2023, mas também às questões relativas ao Serviço Nacional de Saúde (SNS).

“Vamos ver a proposta que sai perante o atual agravamento da situação económica e social, com os seus impactos na vida dos trabalhadores e do povo. Vamos ver que medidas apresentarão no Orçamento para que os portugueses tenham alguma tranquilidade, mas com a consciência de que vai ser preciso muita luta”, declarou.

Na sua declaração inicial, o secretário-geral do PCP acusou o executivo do PS de estar “cada vez mais inclinado para a direita”, apresentando medidas “corroboradas pelo PSD e Presidente da República, e convergentes com os objetivos do CDS, Iniciativa Liberal e Chega”.

“Medidas que fogem ao essencial e configuram um caminho de prolongamento da perda de poder de compra e de acumulação de lucros por grupos económicos. Medidas nulas no combate à especulação, principal componente da atual escalada de preços, a coberto da ideia de que não há vacinas para combater a inflação, a não ser, como inexplicavelmente defende o Governo, pela erosão dos salários, das pensões e das reformas”, apontou Jerónimo de Sousa.

O secretário-geral do PCP usou as suas palavras mais duras quando se referiu à proposta do Governo de aumento das pensões para 2023 – uma proposta que suspende a aplicação da fórmula legal de atualização anual, dando-se como contrapartida um suplemento de 50% na pensão a pagamento em outubro.

“Não é gato escondido com rabo de fora. É gato à mostra com rabo escondido”, disse.

De acordo com Jerónimo de Sousa, a pretexto da prestação única de outubro, “que não cobre sequer metade do poder de compra perdido em 2022”, o Governo, ao contrário do que anuncia, pretende “impor um corte definitivo no valor das pensões em 2023 e nos anos seguintes”.

“O PCP denuncia também a rejeição do aumento dos salários como elemento de emergência e indispensável reposição do poder de compra e de combate efetivo à pobreza”, completou.

Logo nas suas primeiras palavras, o líder comunista manifestou preocupação pelo “desmesurado aumento do custo de tudo o que é essencial à vida do povo”.

“Uma evolução negativa que é inseparável das sanções, da guerra, do aproveitamento que delas faz o grande capital e das opções do Governo do PS, que notoriamente lhe dá cobertura, negando-se a tomar as medidas que se impunham para enfrentar os graves problemas com que os trabalhadores e o povo estão confrontados”, sustentou o secretário-geral do PCP.

Jerónimo de Sousa, neste quadro, assinalou ainda como fator negativo a recente decisão do Banco Central Europeu (BCE) de aumentar as taxas de juro de referência, o que “terá um enorme impacto, designadamente no crédito à habitação”.