Que nova variante é esta?

A nova variante B.1.1.529, designada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como Ómicron, regista mutações múltiplas e é potencialmente mais contagiosa.

Segundo os cientistas, a variante B.1.1.529 terá cerca de 30 mutações na proteína da espícula (a "chave" que permite ao vírus entrar nas células humanas).

Os cientistas sabem que a nova variante do SARS-CoV-2, que causa a covid-19, é geneticamente diferente das outras, incluindo a Delta, a mais contagiosa de todas as variantes do coronavírus em circulação e dominante no mundo.

O que sabe sobre esta mutações?

O virologista Lawrence Young, da Universidade de Warwick, no Reino Unido, disse, citado pela agência noticiosa AP, que se trata da "versão do vírus com mais mutações" genéticas, mas o significado de muitas delas é ainda desconhecido. Por isso, não sabe se estas alterações genéticas tornam a respetiva variante mais transmissível ou perigosa, a ponto de escapar à proteção conferida pelas vacinas contra a covid-19.

O coronavírus sofre mutações à medida que se espalha e muitas novas variantes, incluindo as que têm alterações genéticas preocupantes, desaparecem muitas vezes.

Quando é que foi detectada? 

A nova variante B.1.1.529 foi detetada em 11 de novembro na África do Sul depois de um aumento exponencial de infeções, que levou os cientistas a estudarem amostras de vírus relacionadas com o surto.

E onde já foi identificada?

Depois da África do Sul, esta variante já foi identificada na Bélgica, no Reino Unido, em Israel, Hong Kong (Região Administrativa da China) e Botswana. Há casos suspeitos sob avaliação na Alemanha, nos Países Baixos e em Portugal.

No primeiro caso de infeção detectado na Europa, sabe-se que foi detectado a 22 de novembro na Bélgica e que se trata de uma jovem mulher, não vacinada, que desenvolveu sintomas 11 dias após viajar para o Egito através da Turquia, segundo indicou o Laboratório Nacional de Referência do país.

A paciente parece não ter tido contactos de alto risco fora da sua casa e nenhum membro da família desenvolveu sintomas até agora, acrescentou o laboratório, que está a conduzir uma investigação abrangente a este caso.

Cerca de 30 mutações desta nova variante já foram identificadas em lugares como a África do Sul, Botswana ou Hong Kong, o que tem gerado preocupação a nível mundial e a imposição, por parte de países europeus, de restrições a viajantes oriundos de países da África Austral.

Porque é que é considerada uma variante preocupante?

Em declarações ao The Guardian, Susan Hopkins, a principal conselheira médica da Agência de Saúde e Segurança do Reino Unido, considera que esta variante é a  "mais preocupante que já vimos", com níveis de transmissão nunca registados desde o início da pandemia.

Hopkins disse que é sugerido que o valor do índice de transmissibilidade (Rt) da variante B.1.1.529 em Gauteng, província na África do Sul onde a estirpe foi encontrada, era agora de 2, o que significa que uma pessoa infetada contagiaria outras duas - com um R acima de 1, uma epidemia cresce exponencialmente.

No programa Today da BBC Radio 4, Hopkins afirmou que "o que estamos a ver na África do Sul é que eles estavam com um ponto muito baixo, com uma quantidade muito baixa de casos detectados por dia, e num período mais curto do que duas semanas mais do que duplicaram o quadro epidemiológico.

O investigador do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) João Paulo Gomes afirmou, em declarações à Lusa, que esta nova linhagem está em estudo.

Segundo o microbiologista, é uma linhagem que preocupa a comunidade científica, porque se caracteriza pela presença simultânea de “um anormal número de mutações na proteína de interesse, a proteína ‘Spike’”.

“Muitas dessas mutações estão na zona de ligação às nossas células e outras são mutações conhecidamente associadas à falha de ligação aos anticorpos e, portanto, o problema desta nova linhagem é que tem muito mais mutações destas do que as outras variantes que nos preocuparam até agora”, explicou.

“É importante que os países façam a sua monitorização, estejam atentos e prontos e vamos ver até que ponto é que ela tem algum impacto não desejável”, acrescentou.

João Paulo Gomes lembrou que a África do Sul já foi incubadora de uma variante de preocupação, a variante Beta - que não teve uma disseminação muito vincada por todo o mundo, não passou dos 5%.

No entanto, estima-se que tenha atingido cerca de 90 a 95% de todos casos de infeção na África do sul.

“Agora, obviamente, dado o tipo de mutações que esta nova linhagem tem, a última coisa que queremos é que ela se dissemine pelo resto do mundo e, portanto, acho que temos de ter precaução”.

Esta nova variante afeta a proteção conferida pelas vacinas?

O investigador João Paulo Gomes ressalvou, porém, que não é por ter a presença simultânea das respetivas mutações relevantes que faz com que seja “mais transmissível ou com associação a falhas vacinais”.

“Temos que dar tempo ao tempo. É um motivo de preocupação naturalmente, mas não é motivo de alarme total”, considerou.

No entanto, o laboratório alemão BioNTech e a Pfizer esperam ter em duas semanas os primeiros resultados dos estudos que determinarão se a nova variante da covid-19, detetada na África do Sul, é capaz de afetar a proteção da vacina.

“Imediatamente, lançamos estudos sobre a variante B.1.1.529” (detetada na África do Sul) que “difere claramente das variantes já conhecidas porque tem mutações adicionais na proteína spike”, característica do vírus SARS-CoV-2, explicou o porta-voz da BioNTech à agência noticiosa AFP.

A farmacêutica Pfizer e a BioNTech prepararam-se, há vários meses, para “ajustar a sua vacina em menos de seis semanas e administrar as primeiras doses em 100 dias” se uma variante for considerada resistente.

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) considera “prematuro” fazer previsões sobre uma eventual adaptação das vacinas contra a covid-19 em relação à nova variante. "Estamos a acompanhar de perto a recém-emergida variante B.1.1.529, que tem numerosas mutações na proteína spike", disse a EMA numa declaração à AFP.

Contudo, o regulador europeu admitiu que "se se verificar que uma nova variante mutante escapa à imunidade e se espalha rapidamente (...), tornar-se-ia relevante” uma adaptação nas vacinas actualmente licenciadas no mercado comunitário.

Como proceder? 

Os cientistas monitorizam as sequências genéticas do SARS-CoV-2 em busca de mutações que o podem tornar mais contagioso ou mortal, mas precisam de tempo para determinar se existe uma correlação entre um certo padrão de infeções num surto e as sequências genéticas.

A OMS, que hoje reuniu peritos responsáveis pela monitorização da evolução do SARS-CoV-2, indicou que são necessárias "várias semanas" para conhecer o nível de risco e transmissibilidade da nova estirpe.

“Análises preliminares mostram que a variante tem um grande número de mutações que exigirão mais estudos e vão ser necessárias várias semanas para entender o seu impacto”, acrescentou Christian Lindmeier.

Para já, a OMS aconselhou os países a não tomarem medidas de restrição de viagens, enquanto a virulência e a transmissibilidade da nova variante permanecem desconhecidas. Porém, horas mais tarde classificou a variante como "de preocupação" e designou-a pelo nome Ómicron.

Os Estados-membros da União Europeia (UE) decidiram suspender temporariamente voos de sete países da África Austral, incluindo Moçambique, devido à identificação desta variante do coronavírus na África do Sul.

A informação foi divulgada ao final da tarde na rede social Twitter pela presidência eslovena do Conselho da UE, que informa que o grupo de Resposta do Conselho a situações de crise (IPCR), juntando Estados-membros, instituições europeias e especialistas.“A presidência eslovena apelou aos Estados-membros para testarem e colocarem em quarentena todos os passageiros que chegam”, acrescenta na mesma informação, tendo em conta que a decisão sobre viagens recai sempre sobre cada país.

Por seu lado, o porta-voz da Comissão Europeia, Eric Mamer, indicou através do Twitter que “os Estados-membros concordaram em introduzir rapidamente restrições a todas as viagens à UE de sete países da região da África Austral”, precisando tratar-se de Botswana, Eswatini, Lesoto, Moçambique, Namíbia, África do Sul e Zimbabué.

Em Portugal, o Governo determinou a suspensão dos voos de e para Moçambique a partir das 00h00 de segunda-feira, dia 29 de novembro, no seguimento das preocupações e medidas de contenção na União Europeia.

Em nota, o Ministério da Administração Interna acrescenta que, a partir das 00:00 deste sábado, 27 de novembro, "todos os passageiros de voos oriundos de Moçambique (assim como da África do Sul, Botsuana, Essuatíni, Lesoto, Namíbia e Zimbabué) ficam obrigados a cumprir uma quarentena de 14 dias após a entrada em Portugal continental, no domicílio ou em local indicado pelas autoridades de saúde”.

Como está a ser acompanhada a situação em Portugal? 

O investigador do INSA João Paulo Gomes afirmou, em declarações à Lusa, que em Portugal se continua "a fazer a vigilância contínua das variantes e nunca até hoje identificamos qualquer caso de infeção associado a esta linhagem”.

A ministra da Saúde, Marta Temido, relativamente às novas variantes identificadas na África do Sul, disse que o Governo está atento às informações que estão a ser partilhadas e à evolução da informação técnica e acompanha a situação “com preocupação”.

[Notícia atualizada às 15h28 de 27 de novembro com informação de novos casos e de casos sob avaliação]