Num comunicado divulgado no seu portal na internet, o sínodo da Igreja Ortodoxa Russa anunciou que a comissão, de nove membros, será presidida pelo seu primaz, o patriarca Cirilo de Moscovo.

O pedido para a alteração foi apresentado por elementos da igreja lituana descontentes com o apoio de Cirilo à invasão lançada pela Rússia em 24 de fevereiro.

“Decidimos criar uma comissão para considerar a questão da alteração do estatuto da diocese de Vílnius-Lituânia”, cujos resultados serão submetidos “à consideração do Santo Sínodo”, lê-se no comunicado.

A diocese lituana pertence ao Patriarcado de Moscovo e reúne paróquias e mosteiros no território da Lituânia, segundo a agência russa TASS.

Um dos membros da comissão, o professor da Academia Teológica de Moscovo Vladislav Tsypin, disse que a transferência da diocese para a jurisdição de Constantinopla está fora de questão.

Tsypin admitiu que possa vir a ser concedido à igreja lituana um estatuto de autonomia dentro da Igreja Ortodoxa Russa, como nos casos da Estónia e da Letónia.

Naqueles dois países bálticos, segundo explicou à TASS, 20 a 30% da população nacional é ortodoxa, mas na Lituânia os ortodoxos são bielorrussos e russos.

“Não havia uma lógica especial para que a diocese tivesse o estatuto de igreja autónoma”, disse Tsypin.

O pedido para a alteração da filiação canónica foi apoiado pela primeira-ministra lituana, Ingrida Simonyte, numa carta que enviou ao patriarca Bartolomeu de Constantinopla.

“O apoio público do patriarca Cirilo de Moscovo à guerra da Rússia contra a Ucrânia é inaceitável para alguns cristãos ortodoxos lituanos, pelo que, segundo a primeira-ministra, é natural e humano que […] tenham o direito de praticar a sua fé sem um conflito de consciência”, disse uma porta-voz de Simonyte à agência noticiosa BNS, citada pelo jornal The Baltic Times.

Na carta, segundo a porta-voz, Simonyte disse estar disposta a encontrar-se com Bartolomeu para discutir o possível papel do Governo no restabelecimento das atividades da “igreja mãe” na Lituânia.

Simonyte disse na carta que a Ortodoxia Oriental é a segunda maior religião tradicional na Lituânia, e que a sua comunidade tem crescido com a chegada de mais de 50.000 refugiados ucranianos.

A porta-voz disse que a “decisão de restabelecer uma paróquia ou paróquias do Patriarcado de Constantinopla na Lituânia só pode ser tomada pelo Patriarcado Ecuménico de Constantinopla”.

“O Governo lituano será envolvido neste processo na medida do necessário para assegurar a liberdade de fé, consciência e religião, consagrada no artigo 26.º da Constituição, a todos os cidadãos lituanos”, acrescentou.

A carta da primeira-ministra lituana foi entregue a Bartolomeu pelo embaixador da Lituânia na Turquia, Ricardas Degutis, em 18 de maio, segundo o jornal.

A mudança não tem o apoio do chefe da diocese ortodoxa lituana, Inocêncio, que criticou o Governo por ter patrocinado o pedido sem o seu conhecimento.

De acordo com Inocêncio, a grande maioria dos cristãos ortodoxos lituanos não pensa em mudar de jurisdição.

O chefe da igreja ortodoxa lituana afastou anteriormente cinco padres que criticaram a invasão da Ucrânia e o apoio da Igreja Ortodoxa Russa ao Kremlin.

Inocêncio acusou o clero ortodoxo que pede a mudança para a jurisdição de Constantinopla de tomar o “caminho do cisma”, ameaçando a estabilidade da sociedade lituana.

A Igreja Ortodoxa Lituana, uma das nove comunidades religiosas tradicionais da Lituânia, tem cerca de 5% de seguidores entre os 2,7 milhões de habitantes do país báltico, maioritariamente católicos.

Cirilo, que mantém uma estreita relação com o Kremlin, apelou aos russos nas suas homilias para cerrarem fileiras com o Kremlin e o exército russo na sua guerra santa contra o “Anticristo”, numa referência ao Governo ucraniano e patrocinadores ocidentais.

O patriarca russo promoveu a ideia do “mundo russo”, devendo englobar os locais onde se fale russo e se pratique a fé ortodoxa, e tornar-se zona de influência de Moscovo independentemente das fronteiras internacionais, numa missão messiânica de defesa dos russos e dos seus valores tradicionais.

Também hoje, a Igreja ortodoxa ucraniana (UPTS) anunciou a sua rutura com o Patriarcado de Moscovo, devido ao apoio aberto deste à “operação militar especial” russa na Ucrânia.

“Manifestamos o nosso desacordo com a posição do patriarca de Moscovo, Cirilo, sobre a guerra na Ucrânia”, assinalou o comunicado inserido na página da UPTS na internet.

Por isso, o Concílio da UPTS tomou hoje a decisão de declarar “a plena autonomia e independência da Igreja ortodoxa ucraniana”.

“O concílio apela às autoridades da Ucrânia e Rússia para que prossigam o processo negocial e a procura de uma palavra forte e sensata que possa travar o derramamento de sangue”, acrescenta.

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