A peregrinação internacional aniversária de agosto, que hoje começou no Santuário de Fátima, é presidida pelo arcebispo do Luxemburgo, o cardeal jesuíta Jean-Claude Hollerich.

Numa noite que habitualmente enchia o recinto de emigrantes, o espaço estava, pelas 21h30, com 70% da lotação e quatro portas encerradas, confirmou ao SAPO24 fonte do Santuário de Fátima. Mesmo assim, o manto de luz foi significativo — recorde-se que, para estas celebrações, o número máximo de pessoas estipulado por celebração é de 15.000. Contudo, após a procissão assistiu-se à saída de grande parte dos peregrinos do recinto.

Na homilia, o cardeal começou por remeter as suas palavras para o Evangelho escutado. "Para viver, todos nós precisamos de água. O calor do Verão não se suporta sem água. A agricultura sem água não produz nada. A indústria sem água não funciona. Sem água, nós não somos nada", disse.

"Para nós cristãos, a água lembra-nos, também, o nosso batismo. Esta água lava-nos das nossas faltas, por esta água a graça de Deus entra nos nossos corações. Sem a água do baptismo, nós não somos nada. Não esqueçamos que a fonte desta água é, como nos mostra o Evangelho, o Corpo de Jesus na cruz: o Seu coração trespassado", apontou, dirigindo-se posteriormente aos especiais visados desta peregrinação.

"Caros emigrantes, caros refugiados, peregrinos de Fátima: cada um de nós tem as suas pequenas cruzes. Por vezes é o trabalho que já não nos satisfaz, é a dureza de um mundo onde somos sempre considerados como estrangeiros. Por vezes, pode ser o caso de ter um parente doente, idoso ou que está a morrer, em Portugal, e nós não podemos ir, nem estar presente. Por vezes, é a incompreensão dos nossos filhos que ignoram as suas origens e os valores cristãos da cultura e história de Portugal: valores que foram o nosso guia, a nossa bússola por terras estrangeiras da emigração. Por vezes, é a doença que bate à porta das nossas casas e das nossas famílias", afirmou.

Referindo que, muitas vezes, há a "necessidade da água da consolação", o cardeal Jean-Claude Hollerich deu o exemplo das muitas igrejas pelo mundo, frequentadas por emigrantes, onde "há habitualmente uma imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima".

"As numerosas velas que ardem diante da imagem de Nossa Senhora são as testemunhas das nossas orações. São também o sinal da consolação de Jesus que Nossa Senhora nos traz. Nossa Senhora mostra-nos o corpo do Seu filho na cruz. Nossa Senhora mostra-nos o coração de Jesus do qual brota a água e o sangue", refletiu.

Centrando-se posteriormente nas mulheres que deixam o seu país, o cardeal lembrou que "o carácter de Maria é semelhante ao carácter de muitas mulheres portuguesas, cabo-verdianas e brasileiras que eu conheço no Luxemburgo".

"Como Maria são mulheres fortes. Como Maria une a igreja primitiva, assim as mulheres portuguesas mantêm a sua família unida. Elas fazem-no pelo seu trabalho. Elas querem assegurar um futuro para os seus filhos. À noite, cansadas, ocupam-se ainda da casa e cozinham alimentos que alegram a alma e o corpo da sua família. Por vezes, como Maria, elas têm o coração amargurado e triste, mas não o mostram para não espalharem desolação e preocupação. Querem garantir a união, desejam caminhar 'rumo a um nós cada vez maior', como o afirma o Papa Francisco na mensagem para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado deste ano", salientou. "Estou certo de que é ao pé de Jesus e de Maria que estas mulheres portuguesas encontram a sua força e a sua alegria".

O cardeal agradeceu ainda às presentes. "Caras mulheres, peregrinas de Fátima que aqui estais com vossas famílias: muito obrigado pelo vosso magnífico testemunho!".

No final da sua intervenção, Jean-Claude Hollerich frisou ainda que "o mundo tem sede, o mundo precisa de mais de amor, o mundo tem sede de amor, paz e justiça!", pedindo para que "não sejamos apenas daqueles que consomem a água que Deus nos oferece para uso próprio; procuremos ajudar Deus, para que a nossa vida sirva para partilhar esta água com os outros, os que têm fome e sede de justiça das bem-aventuranças".

"Permitam-me citar o Papa Francisco na sua Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado: 'A todos os homens e mulheres da terra, apelo a caminharem juntos rumo a um nós cada vez maior, a recomporem a família humana, afim de construirmos em conjunto o nosso futuro de justiça e paz, tendo o cuidado de ninguém ficar excluído'".

"A fraternidade universal começa nas nossas famílias: quer em Portugal, quer nos países da Europa e do Mundo onde a procura de uma vida melhor vos levou", recordou.

O arcebispo do Luxemburgo pediu ainda um compromisso aos peregrinos que acompanham as celebrações. "Como cristãos, nós não somos passivos neste mundo. O mundo está-nos confiado pelo Deus criador, nós devemos fazê-lo frutificar. Isso pode tornar-se num compromisso para com a ecologia, o compromisso por um mundo mais justo, por um mundo mais fraterno, em vista de ‘um nós cada vez maior’".

"Queridas irmãs, queridos irmãos migrantes e refugiados: deixemos que Deus transforme os nossos desertos em terrenos cultivados porque irrigados pela beleza e bondade do Deus de Jesus Cristo, nosso Senhor e nossa Água Viva", rematou.

A peregrinação de agosto assinala a quarta aparição, a única que não aconteceu na Cova da Iria e que aconteceu no dia 19 de agosto de 1917 nos Valinhos, e inclui, na missa de dia 13, a oferta de trigo, iniciativa que começou há 81 anos pela Ação Católica de Leiria.

Esta peregrinação integra a peregrinação nacional do migrante e do refugiado, no âmbito da 49.ª Semana Nacional de Migrações, que começou dia 8 e termina no próximo domingo.

A semana tem como tema “Rumo a um nós cada vez maior”, o título da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que se assinala em 26 de setembro.

Na sexta-feira, às 09:00 é recitado o terço, realizando-se, uma hora mais tarde, a missa, que inclui uma palavra dirigida aos doentes. As celebrações terminam com a procissão do adeus.

Esta é a segunda vez que o arcebispo do Luxemburgo preside a uma peregrinação aniversária no Santuário de Fátima, depois de o ter feito em agosto de 2013.

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