"Fui muito bem tratado em todos os lugares que fui, tive apenas um pequeno bate-boca, não valou falar tudo aqui porque sou um 'cara' [pessoa] educado. Fizemos escala em Lisboa (...) e fomos no 'free shop'. Não comprei nada, porque para mim está caro, mas de repente chega um 'cara' — e eu não tenho nada contra —, baixinho, barrigudo, cabeludo e barbudo, parecia um anãozinho", começou por relatar Bolsonaro na sua tradicional transmissão em vídeo na rede social Facebook.

"Ele começou a falar em francês e pedi para traduzirem: 'o cara está falando para você parar de atear fogo na Amazónia'. A resposta que eu dei para ele, não posso dar para vocês, mas pedi para traduzirem para aquele picareta [sem-vergonha] que eu quero é saber das florestas da França, da energia da França. (...) Quero saber sobre a reflorestação na França. Porque é que esse idiota veio falar isso com a gente? porque fica lendo notícias mentirosas que vêm do Brasil", disse o chefe de Estado.

Bolsonaro fez escala em Lisboa ao regressar de uma viagem por países do Golfo Pérsico, onde causou polémica ao afirmar a investidores árabes que a Amazónia não arde porque é uma "floresta tropical" e convidou-os a visitá-la, considerando injustos os ataques que o Brasil sofre.

Nas redes sociais nesta sexta-feira, Bolsonaro insistiu que as notícias sobre a desflorestação da Amazónia são falsas.

"Vi essa matéria aqui: 'Em 2010, a Amazónia será uma imensidão de areia'. Bem, em 2010, não aconteceu nada disso. Em 2021, não aconteceu nada disso também. Mas olha a notícia de agora: 'Amazónia está perto de ponto irreversível e pode virar deserto'. A mesma xaropada de sempre. É matéria, na maioria das vezes, patrocinada por brasileiros que estão trabalhando contra o seu país", disse.

"Tem desflorestação ilegal [na Amazónia]? Tem. É só outros países não comprarem madeira nossa, é simples. Tem queimada ilegal? Tem, mas não é nessa proporção toda que dizem aí", alegou o Presidente.

Contudo, a Amazónia brasileira perdeu 13.235 quilómetros quadrados de cobertura vegetal entre agosto de 2020 e julho de 2021, 22% a mais em relação ao período anterior e um recorde dos últimos 15 anos, segundo dados oficiais divulgados na quinta-feira.

Essa superfície devastada, segundo imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), órgão governamental, é maior do que a de países inteiros como Qatar, Jamaica ou Líbano.

Apesar de o aumento da desflorestação ter sido divulgado na quinta-feira, o Governo de Bolsonaro está a ser acusado de ter conhecimento desses dados desde meados de outubro, mas só autorizou a sua divulgação após a conclusão da 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26), que decorreu em Glasgow, na Escócia, de forma a preservar a sua imagem internacional.

Desde que Jair Bolsonaro assumiu a Presidência do Brasil, em janeiro de 2019, a desflorestação e as queimadas aumentaram drasticamente na maior floresta tropical do planeta.

Além de Bolsonaro, também o seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, responsabilizou a imprensa pelas críticas que o Brasil tem recebido pela condução dq sua política ambiental, insinuando que os dados oficiais sobre a desflorestação, divulgados por órgãos governamentais, não condizem com a realidade.

"Na verdade, a grande imprensa do exterior acaba replicando a grande imprensa brasileira. Infelizmente, os europeus não vão à Amazónia para conhecer a realidade, e acabam tendo essa falsa realidade dada pela imprensa daqui", advogou o deputado.