São cerca de dois quilómetros que separam as duas margens do rio Guadiana entre Vila Real de Santo António, no Algarve. e Ayamonte, em Espanha, mas a diferença torna-se bem maior quando se olha para os preços dos combustíveis dos dois lados da fronteira.

Em todos os postos de abastecimento da cidade raiana espanhola é fácil ver matrículas portuguesas, num movimento contínuo e onde os veículos chegam a ocupar muitas vezes todos os pontos de abastecimento.

João Lima é um dos muitos portugueses que decidiram rumar a Espanha. Depois de terminar as férias este domingo em Monte Gordo, e antes do regresso a casa, foi a Ayamonte para abastecer.

“Como o preço da gasolina está como todos sabemos, acabei por vir aqui encher depósito e poupar algum dinheiro, porque é necessário olhar a estas despesas”, afirma à Lusa.

Sem ter feito uma contabilização ao total que poupou, considera que há uma “compensação” por se abastecer no país vizinho, algo que já acontece “há algum tempo”, mas que se agravou com os recentes aumentos em Portugal.

Em dois dos postos de abastecimento de Ayamonte, o gasóleo era hoje vendido a 1,364 euros (€) ou 1,374€, enquanto em Vila Real de Santo António variava entre 1,561€ e 1,637€, uma diferença que pode ultrapassar os 0,27€.

Os valores aumentam no caso da gasolina 95 ao comparar os 1,44€ em Espanha com os 1,804€ em Portugal, uma diferença de 0,36€.

Só na bomba de combustível da cidade fronteiriça portuguesa detida por uma cadeia de supermercados é que a diferença descia para 0,10€ no caso do gasóleo e 0,23€ no da gasolina 95, mas, ainda assim, há quem prefira a viagem ao país vizinho.

“Venho aqui a Ayamonte fazer algumas compras e junto o útil ao agradável, já que a gasolina em Portugal está ao preço que está. Temos de fazer alguma coisa e a única solução nesta altura é fazer isto”, assume Eduardo Amaral.

Sempre que se desloca a Espanha, abastece o carro e, apesar de não fazer muitas contas, assume que deve poupar “10 a 15 euros” de cada vez que atesta.

É muito fácil encontrar quem aproveite o fim de semana de sol para um passeio na zona raiana e acabe por atestar o depósito da viatura, porque em Portugal está “impossível”, como afirma Sílvia Calisto.

“Pode olhar aí para as bombas, é tudo português”, comenta, em mais uma das alturas em que todos os veículos no posto de combustível são de matrícula portuguesa.

Quase à hora de almoço de domingo, a chegada de veículos portugueses é uma constante e Gina Afonso é mais uma das algarvias que confirmam ir a Espanha “quase todas as semanas” porque “é mais barato” abastecer-se de gasolina e gás - poupa “quase metade do preço” em cada botija.

Já Mário Martins reside em Faro, a cerca de 65 quilómetros, e aproveita uma ida com amigos à zona de Monte Gordo para atestar o carro, a segunda vez já no mês de outubro, algo que se justifica “ainda mais” com os recentes os aumentos em Portugal.

“Não venho propositadamente para o abastecimento, se tiver perto sim, mas vim na semana passada. Viemos fazer umas compras e, claro, abastecer, porque vale a pena a diferença”, realça.

Atualmente a viver o período com preços de gasóleo e gasolina mais caros dos últimos três anos, Portugal viu esta semana, pela primeira vez, o custo de venda ao público de um combustível ultrapassar a barreira dos dois euros por litro em alguns postos de abastecimento das áreas de serviço nas autoestradas.

A situação resulta de uma conjugação de fatores, desde restrições por parte dos grandes exportadores de petróleo à explosão da procura após a contenção durante a pandemia de covid-19 e à pressão sentida em toda a cadeia logística, na qual se têm registado subidas de preços não só nos transportes, mas também nas operações portuárias e nos seguros.

O Imposto sobre os Produtos Petrolíferos e Energéticos (ISP) diminuiu na sexta-feira dois cêntimos por litro na gasolina e um cêntimo no gasóleo, descida que os operadores podem agora refletir no preço de venda ao público.

O Governo apontou ainda que os indicadores que tem são de que haverá uma descida do preço nos mercados de combustíveis, tratando-se de uma situação extraordinária.

A associação que representa os transportadores rodoviários de mercadorias considera que a descida do ISP terá um "impacto muito reduzido" e lembra que as empresas "estão no seu limite", antevendo insolvências "a breve trecho".

*Por Pedro Miguel Duarte (texto) e Luís Forra (fotos), da agência Lusa

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