O presidente russo, Vladimir Putin, defendeu que vai ser necessário um acordo “no final” do conflito na Ucrânia — mas diz ter dúvidas sobre a confiança que Moscovo poderá depositar nos seus interlocutores.

“No final teremos de chegar a um acordo. Já disse várias vezes que estamos prontos para essas negociações, estamos abertos, mas isso obriga-nos a pensar com quem estamos a lidar”, disse, à margem de uma cimeira regional no Quirguistão.

O que motivou estas declarações?

Vladimir Putin reagia a comentários recentes da ex-chanceler alemã Angela Merkel, que referiu que o acordo de Minsk de 2014, entre Moscovo e Kiev, assinado sob a égide da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), deu à Ucrânia tempo para se fortalecer e enfrentar um conflito armado com a Rússia.

“O acordo de Minsk de 2014 foi uma tentativa de dar tempo à Ucrânia. Aproveitou-se disso, como vemos hoje. A Ucrânia de 2014/2015 não é a Ucrânia de hoje (...) No início de 2015, Putin podia esmagar facilmente” o país, considerou Merkel, em declarações ao jornal alemão Die Zeit.

Os comentários de Angela Merkel foram vistos por Putin como “uma desilusão” porque “obviamente levantaram a questão da confiança”.

Numa altura “em que a confiança já é quase zero, a questão fica mais complicada depois de tais declarações: como é que chegamos a um acordo? Podemos dar-nos bem com alguém? Com que garantias?”, questionou o presidente russo.

“Talvez devêssemos ter começado antes [a ofensiva na Ucrânia], mas, na verdade, estávamos a contar com a possibilidade de chegar a um acordo dentro da estrutura de Minsk”, argumentou.

O que constava no acordo de Minsk?

O acordo de Minsk 1 (em 2015 foi assinado um segundo) estabelecia um cessar-fogo entre o exército ucraniano e os separatistas russos de Lugansk e Donetsk, territórios pró-Rússia no leste da Ucrânia.

A Ucrânia concedia autonomia às duas regiões separatistas em troca da recuperação da fronteira leste com a Rússia, o que nunca aconteceu.

O acordo foi considerado extinto quando Putin anunciou, em setembro passado, que tinha anexado os dois territórios em causa, mas, na verdade, também nunca tinha saído do papel até porque as duas partes tinham interpretações diferentes sobre o texto.

Ainda assim, foi considerado, em conjunto com o segundo acordo de Minsk, no ano seguinte, uma garantia de paz na Europa.

Nos últimos dias, o que tem dito Putin sobre o atual conflito? 

Na quarta-feira, o presidente russo reconheceu que o conflito na Ucrânia está a ser "longo" e minimizou o risco de recorrer a armas nucleares.

“Não enlouquecemos, sabemos o que são armas nucleares”, disse Vladimir Putin, que falava por videoconferência ao seu Conselho de Direitos Humanos, uma organização subordinada ao Kremlin.

Depois de várias ameaças de uso do nuclear terem emanado de autoridades russas nos últimos meses, o presidente russo enfatizou que essas armas são “um meio de defesa”, destinadas a um “ataque de retaliação”. Em outras palavras, “se formos atingidos, atingimos em resposta”, reforçou.

Além disso, Vladimir Putin, afirmou que o seu país vai continuar a atacar infraestruturas de energia ucranianas, cujos ataques já obrigaram Kiev a enormes cortes de energia e água.

“Sim, estamos a fazer isso, mas quem é que começou?”, questionou, acusando de seguida o Estado ucraniano de ter “destruído as linhas de energia da central nuclear em Kursk”, uma região russa na fronteira com a Ucrânia, e de “não fornecer água” ao reduto separatista pró-russo de Donetsk, no leste do país.

“Não fornecer água a uma cidade de um milhão de habitantes é um ato de genocídio”, criticou o líder russo, acusando os países ocidentais de fecharem os olhos a essas ações das autoridades ucranianas.

* Com Lusa

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