No sábado, ainda a horas de saber que iria ser reeleito presidente do Partido Social Democrata, Rui Rio disse que fosse qual fosse o resultado iria abrir uma garrafa de champanhe, ou porque tinha ganho a eleição direta ou porque colocava um ponto final na sua vida política e ganhava um quotidiano mais calmo e pacífico. No final da noite de sábado, na conta oficial de Instagram, Rio apareceu a abrir a garrafa da vitória política, numa publicação ao som da música de Elton John "I'm Still Standig" (Ainda estou de pé, em português).

Na ressaca eleitoral, a vitória de Rui Rio, considerada inesperada por as grandes figuras do partido estarem alinhadas com Paulo Rangel, foi pergunta obrigatória aos principais intervenientes políticos do país, entre eles António Costa e André Ventura, duas figuras adversárias de Rio para as legislativas. O primeiro, porque é o atual primeiro-ministro, é o 'alvo a abater'. O segundo, porque ou o PSD vence sem precisar do Chega para formar maioria no Parlamento, ou precisando poderá tornar-se num calcanhar de Aquiles para o antigo presidente da Câmara Municipal do Porto.

António Costa e a possibilidade de uma "escolha clara"

“Tive ontem a oportunidade de felicitar pessoalmente o doutor Rui Rio, que vai ter pela frente uma tarefa muito difícil de procurar unir um partido que ficou dividido praticamente ao meio e de afirmar uma solução credível num contexto em que os principais quadros do partido se opuseram aquilo que ele defende”, afirmou o atual primeiro-ministro.

“A partir de ontem os portugueses têm uma escolha muito clara para fazer: ou um governo liderado por mim, com um PS renovado e reforçado, ou têm uma alternativa que o doutor Rui Rio tentará compor, unindo o seu partido, unindo o seu partido com todos os outros partidos à direita, e essa é uma escolha clara”, considerou António Costa.

O governante afirmou que, “para a vitalidade da democracia, é muito bom que existam estas escolhas muito claras”, apontando que cabe aos portugueses decidirem, nas eleições legislativas antecipadas de 30 de janeiro, “quem querem para liderar o país nos próximos anos”.

Questionado se, com a vitória de Rui Rio, pode estar mais próxima a possibilidade de um “bloco central”, o primeiro-ministro respondeu que “isso são cenários que não se colocam”.

“O doutor Rui Rio rejeita essa hipótese, não creio que seja uma hipótese saudável. Aquilo que é importante é que os portugueses decidam como é que querem que haja a governação”, frisou António Costa.

O primeiro-ministro ressalvou que “uma coisa é a consideração e a estima pessoal” que tem por Rui Rio, além da “simpatia”, e “outra coisa claramente distinta são as opções políticas que cada um personaliza”.

“Como se diz, trabalho é trabalho, conhaque é conhaque. E portanto, quanto ao trabalho, cada um faz a sua parte e os portugueses decidem”, salientou.

Questionado se, à semelhança do presidente do PSD, também está “picado” para vencer as eleições legislativas, Costa respondeu: “Picado? O que me dá energia não são as disputas pessoais”.

Ventura, os 15% e os sociais-democratas “desapontados”

Na primeira vez que subiu ao palanque do IV Congresso do partido, onde foi aplaudido com fogo-preso, o líder do Chega procurou capitalizar com as divisões internas no PSD e CDS, apelando ao voto dos militantes sociais-democratas “desapontados” e afirmando que o Chega “tem de se apresentar como uma alternativa credível e sólida”.

“Vou dar tudo para que no dia 30 nós todos juntos possamos celebrar a enorme vitória de chegar aos 15% nas legislativas”, referiu André Ventura, estabelecendo o objetivo do partido para as eleições legislativas do próximo dia 30 de janeiro.

Já antes, à entrada do Congresso, Ventura disse que "é importante termos a noção de que o partido tem de se apresentar como uma alternativa credível e sólida, sobretudo com o PSD em estado de pré-destruição, na iminência de mais uma divisão interna fraturante (…) e, portanto, o Chega tem de ocupar esse espaço”, disse.

Comentários à parte, as primeiras missões são a lista de deputados e programa às legislativas

O prazo limite para a entrega da lista de deputados para as legislativas de 30 de janeiro termina em 20 de dezembro, um dia depois de terminar o Congresso do partido, que decorrerá entre 17 e 19 de dezembro, na FIL, em Lisboa.

Se a vitória tivesse sido de Paulo Rangel o processo prometia gerar polémica, já que o eurodeputado defendeu durante a campanha interna que devia ser o líder eleito a conduzi-lo, enquanto Rio invocada os estatutos que atribuem à Comissão Política Nacional (CPN) a tarefa de propor essa lista ao Conselho Nacional, órgão com a competência de a aprovar.

Com a reeleição de Rio, a questão de quem é o responsável máximo está resolvida, mas dificilmente o processo será pacífico, depois de muitos dirigentes distritais e concelhios terem apoiado Paulo Rangel e o atual e futuro presidente já ter perdido várias votações recentes em Conselho Nacional.

"Fazer listas com nomes, seja para o Conselho Nacional, para a Comissão Política Nacional, seja o que for, é sempre difícil em qualquer partido. No nosso sempre foi e continuará a ser”, admitiu, no seu discurso de vitória no sábado.

Segundo o calendário já aprovado pela direção, o prazo para as distritais aprovarem as suas escolhas termina já na terça-feira, abrindo-se depois até 06 de dezembro um período de negociações com a Comissão Política Nacional. O Conselho Nacional para aprovar as listas já foi marcado para 7 de dezembro (com uma segunda data para dia 10, caso ‘chumbem’ na primeira tentativa).

Entre as decisões sobre a lista, estará a de saber se o PSD vai a votos sozinho ou com o CDS-PP: apesar de numa reunião da Comissão Política Nacional a maioria dos seus membros ter manifestado preferência pela primeira opção, o tema não chegou a ir a votos, e, esta semana à Renascença, Rio prometeu levar novamente à direção a proposta de um acordo pré-eleitoral com os democratas-cristãos.

Até ao Congresso, dentro de três semanas, Rio terá ainda de apresentar as suas escolhas para os órgãos nacionais, em particular para a Comissão Política Nacional, e já sabe que pelo menos um dos seus vice-presidentes desde 2018, Nuno Morais Sarmento, não irá manter-se no cargo por vontade do próprio.

Outra tarefa do presidente do PSD será a elaboração do programa eleitoral do partido, que deverá atualizar o texto já apresentado às legislativas de 2019, com os documentos entretanto produzidos pelo Conselho Estratégico Nacional (CEN) do partido.

A moção de estratégia “Governar Portugal” com que Rio se candidatou à liderança do PSD foi um texto curto, com apenas 18 páginas, centrado em mensagens políticas e em que se remetia várias vezes para a sua proposta de estratégia global de há dois anos ou para o anterior programa eleitoral.

Na próxima legislatura, e em função dos resultados eleitorais, Rio terá de decidir se avança com dois diplomas apresentados publicamente durante a sua direção, mas não entregues no parlamento devido à dissolução: o projeto de revisão constitucional e o de revisão da lei eleitoral para a Assembleia da República.

No sábado, tal como na campanha, Rio manifestou abertura para possíveis acordos de governação pós-legislativas, dizendo que “vai a eleições democráticas” para “ganhar” e que irá “respeitar essas eleições quer ganhe, quer perca”, esperando a mesma postura dos outros partidos.

Rui Rio é presidente do PSD desde 2018 e, com a reeleição de sábado, deverá tornar-se o terceiro líder mais duradouro à frente dos sociais-democratas, atrás de Cavaco Silva e Passos Coelho.