A toma de água era o reservatório cilíndrico de metal que ostentava o nome da estação e que foi retirado de Bragança, junto com outro património, aquando do desmantelamento da linha do Tua, no início da década de 1990.

A peça foi para depósito em Vila Nova de Famalicão, distrito de Braga, onde Fernando Sarmento, do movimento cívico, chegou a vê-la, mas a última vez que por ali passou já lá não estava, o que levou esta organização a questionar os responsáveis pelo paradeiro, como contou à Lusa.

As perguntas dirigidas à fundação responsável pelo Museu Nacional Ferroviário, que ficou com o espólio das linhas desativadas, ainda não tiveram resposta e foi a Câmara de Bragança que esclareceu a Lusa do que se passou com aquela peça.

De acordo com o esclarecimento da Divisão de Logística e Mobilidade, o município quis, há cerca de dois anos, transportar a toma de água para Bragança quando estava a construir o Museu Ferroviário, que, entretanto, abriu na antiga estação do comboio.

Devido às dimensões da peça, a autarquia chegou a contratar “o maior operador nacional” para fazer o transporte, “mas o depósito já estava de tal maneira degradado” que a empresa se recursou a transportá-lo.

“Não pode ser transportado, nem reparado devido ao mau estado”, afiançou o município de Bragança, responsável pelo museu local, que é um dos núcleos espalhados pelo país do Museu Nacional Ferroviário.

A Câmara de Bragança indicou à Lusa que “reportou a situação ao museu nacional que promoveu o abate do ativo no cadastro” que existe de todo o património recolhido das ferrovias desativadas.

A toma de água da estação de Bragança encontrava-se depositada na parte traseira do espaço do núcleo museológico do Lousado, em Vila Nova de Famalicão, um espaço dedicado à ferrovia que abriu antes do de Bragança.

O membro do Movimento Cívico pela Linha do Tua Fernando Sarmento viu a peça naquele sítio, em 2017, e achou que devia fazer parte do museu que começa a nascer em Bragança.

No verão deste ano, voltou a passar no local e o reservatório tinha desaparecido, o que levou o movimento a questionar a fundação, sem resposta até ao momento, segundo disse à Lusa este elemento.

Para Fernando Sarmento, o esclarecimento prestado pela Câmara de Bragança à Lusa revela o que o MCLT temia.

“Infelizmente não é o desfecho que nós queríamos, mas é um pequeno exemplo do abandono a que está votada a linha do Tua e região”, considerou.

Fernando Sarmento diz-se “profundamente triste” com o desaparecimento desta peça pela “importância e simbolismo que tinha”, já que pertencia à última estação da linha do Tua, que se encontra atualmente toda desativada.

A Linha do Tua tinha 134 quilómetros, entre o Douro, em Foz Tua, e Bragança.

As estações ostentavam as tomas de água, que anunciavam o nome, e existia uma de 25 em 25 quilómetros, segundo Fernando Sarmento.

“De todas, só restam metade. A título de exemplo, de Mirandela para baixo só há uma toma de água”, concretizou.

De Mirandela até ao Tua está previsto o regresso do comboio do anunciado e adiado Plano de Mobilidade prometido como contrapartida pela construção da barragem de Foz Tua.

A barragem já está a produzir energia há vários anos, mas a incerteza continua em relação ao regresso do comboio e o movimento cívico “lamenta que o projeto não avance”.

O movimento continua a reivindicar uma ligação ferroviária na região e é com satisfação que constata que a reivindicação começa a ser partilhada por outras organizações e forças políticas, mas Fernando Sarmento desconfia das intenções.

“É como São Tomé, só quando vir o comboio nos carris”, afirmou.

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