"Se não reverem o assunto, há aqui pessoas que estão a pensar fazer uma greve de fome", revelou António Silva em declarações à Lusa.

Salientando estar a fazer todos possíveis para evitar este cenário, o lesado do BES e empresário na área das importações indicou que esta semana foi enviado um apelo ao presidente do Parlamento Europeu, David Maria Sassoli, que participa na Cimeira Social do Porto que arrancou hoje, pedindo para que intervenha junto das entidades portuguesas para que o problema dos lesados do BES tenha resolução.

António Silva lembrou que, numa primeira abordagem, a Comissão Europeia mostrou-se favorável à posição dos lesados do BES que reclamam que lhes seja restituído o dinheiro investido, tendo, à data, indicado qual "a diretiva europeia que regula esta matéria e os artigos que têm de ser respeitados".

"Não há dúvida que aquilo que nos fizeram foi uma vigarice porque transformaram clientes não profissionais em investidores à força", disse.

Falando em nome de um grupo de cerca de 20 lesados, António Silva disse sentir-se discriminado em relação aos outros países da Europa e outros clientes bancários em Portugal, salientando que, em Espanha, por exemplo, os tribunais decidiram que tendo o banco dado informação falsa, os lesados têm de ser indemnizados.

"Os tribunais aqui em Portugal, em relação a outros bancos, como o BPN, decidiram que o EuroBIC [que comprou o banco] vai ter de pagar e isso não está a acontecer com os lesados do BES", observou.

António Silva defendeu ainda que este não é apenas um problema dos lesados do BES, sublinhando que esta é uma prática que, ainda que violando uma diretiva europeia, pode tornar-se comum.

"Fizemos uma petição que está a ser analisada pelo parlamento e quero acreditar que, nesta nova avaliação que a petição pede, vão ser respeitadas as normas europeias, como foram respeitadas em Espanha", rematou.

A cerca de 300 metros do edifício dos Paços do Conselho, os manifestantes empunharam cartazes com palavras de ordem: "Paga o que deves'; 'Roubados do Novo" e 'Exigimos Provisão', enquanto os líderes europeus recebiam das mãos do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, as chaves da cidade.

Na mesma altura, cerca de 30 profissionais da PSP manifestaram-se para exigir a atribuição do subsídio de risco e a atualização de salários, aproveitando a Cimeira Social europeia que decorre no Porto, para mostrar "a forma como o Governo português trata" estes profissionais.

A Cimeira Social conta com a presença de 24 dos 27 chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE), reunidos para definir a agenda social da Europa para a próxima década.

Também presentes no evento, que decorre em formato 'online' e presencial na Alfândega do Porto, estão os vice-presidentes executivos da Comissão Margrethe Vestager e Valdis Dombrovskis, o Alto Representante Josep Borrell e os comissários Elisa Ferreira, Mariya Gabriel e Nicolas Schmit, além de outros líderes políticos e institucionais, parceiros sociais e sociedade civil.

Definida pela presidência portuguesa como ponto alto do semestre, a Cimeira Social tem no centro da agenda o plano de ação do Pilar Europeu dos Direitos Sociais, apresentado pela Comissão Europeia em março, que prevê três grandes metas para 2030: ter pelo menos 78% da população empregada, 60% dos trabalhadores a receberem formação anualmente e retirar 15 milhões de pessoas, cinco milhões das quais crianças, em risco de pobreza e exclusão social.

VSYM // JNM

Lusa/Fim