Manuel Pinho, antigo ministro da Economia de José Sócrates, requereu aos serviços prisionais o alargamento do raio da pulseira eletrónica para tratar da sua horta, numa quinta em Braga. Segundo o requerimento apresentado pelo advogado Ricardo Sá Fernandes, Manuel Pinho tem uma horta “onde pratica agricultura de subsistência". O ex-governante já afirmou que empobreceu nos cargos públicos que desempenhou, mas todos calculávamos que a política lhe tivesse dado mais frutos. O que é certo é que devemos todos estar mais alarmados com o aumento da inflação quando um antigo ministro da Economia começa a plantar batatas.

Durante a presente silly season, emergiu uma obsessão com o minifúndio: os adeptos do Benfica só querem que o Horta chegue, o Manuel Pinho só quer chegar à sua horta. Honestamente, quem deve estar incomodado com esta desfaçatez é José Sócrates. É que, enquanto o antigo primeiro-ministro viu o sol aos quadradinhos, Manuel Pinho deseja sol na eira e chuva no nabal. A Justiça, para aceder ao pedido, devia procurar saber se o terreno é mesmo de Pinho ou não - porque, tanto na alta finança como na agricultura feudal, ninguém quer cá novos rendeiros.

Muita gente considera que as medidas de coação aplicadas em Portugal são excessivamente castradoras da liberdade, mas Manuel Pinho está nas (numa das) suas sete quintas. Afastado do combate político, as suas guerras são de alecrim e de manjerona. Pioneiro das renováveis, entretém-se ao domingo com o caixote da compostagem. Há uma reflexão que temos de fazer: será que o povo português foi injusto com Manuel Pinho? É que, na volta, o "saco azul do BES" talvez fosse somente adubo.

É também uma atitude que derrota o desabafo popular consubstanciado na frase "estes políticos deviam era pegar numa enxada". Outras enxadas eram da cooperativa, esta em princípio é do Conselho de Administração. Manuel Pinho tomou um rumo muito diferente da maioria dos ex-políticos. Enquanto muitos ex-governantes ambicionam ir para Bruxelas, Manuel Pinho só quer ir ter com as suas couves de Bruxelas. Esqueçam a Goldman Sachs, o ex-ministro da Economia só pretende a sua Goldman Sachola. Outros querem ser chamados à liça, Pinho só quer ser chamado à hortaliça. Frugal, Pinho nem sequer tencionará ter um espaço de opinião num jornal de referência - já ficará contente se um dia puder contribuir para o Borda d'Água.

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