Li no jornal Público de segunda-feira passada uma reportagem sobre a biblioteca pública norueguesa, em Oslo. Sinto a maior inveja possível, fico a sonhar num projecto similar que pudéssemos implementar em Portugal. O meu sonho dura meio minuto, vá, talvez um minuto certo, para não ser tão pessimista. O novo edifício da Biblioteca de Oslo é um espaço monumental que tem a felicidade de receber, diariamente, seis mil pessoas. Aos fins-de-semana o número sobe para nove mil. A Biblioteca – inaugurada no século XVIII – tem 22 outros espaços pela cidade e uma programação que se ajusta à comunidade. Há a pompa e o cerimonial de tantas outras bibliotecas, mas também há workshops, espaços de trabalho, etc. Leiam a reportagem da Lucinda Canelas, que vale a pena.

No nosso país não teríamos uma adesão dos portugueses a um espaço que, na maioria das vezes, as pessoas consideram chato. Há quanto tempo não vai a uma biblioteca pública? Temos muitas e boas. Temos, aliás, bibliotecárias que são uma espécie de super-heróis, esticam orçamentos e fazem magia com a pele da casca do ovo; nem têm propriamente casca para se desenrascar. Programam e tentam animar a comunidade com sessões diferentes, com momentos que podem ser didácticos, mas também apenas de entretenimento. A nossa adesão é fraca. Os noruegueses têm outra perspectiva sobre a cultura e, acima de tudo, sobre o espaço que a cultura deve ocupar nas suas vidas. Para nós, cultura é um live no Instagram. Para eles é um workshop de jardinagem. Os nossos estudos mostram que lemos em média um livro e meio por ano (nunca compreendi como é que um português pode ler livro e meio, mas depois penso que há livros que temos mesmo de abandonar e pronto, cedo à estatística). Não temos educação para a leitura, não temos incentivo, não temos uma política pública favorável às novas gerações, nessa aventura extrema que é viajar nos livros, perceber outras culturas, imaginar novos mundos, adquirir vocabulário, reformular pensamento.

Precisamos muito de um incentivo à leitura, não haja qualquer dúvida, contudo não temos pachorra para pensar no assunto. É mais fácil entreter as crianças e os jovens com aplicações online, ou com outras ferramentas cujo estímulo ao pensamento é significativamente menor do que seria um livro. Nos debates para as legislativas, não sei se alguém deu por isso, mas estas questões nunca surgem, a cultura nunca existe, a educação é sempre tema na perspectiva do investimento e pouco mais. Os noruegueses estão muito à frente. Estão a anos-luz e isto não é um filme de ficção científica, é só a nossa vidinha e das gerações futuras.