Deve ser uma coisa simples de se fazer e deve ter um qualquer intuito que me escapa, mas o que me aconteceu há dias (a poucos de fazer uma idade realmente respeitável) foi o seguinte: o meu irmão enviou-me uma mensagem no Facebook com muitos pontos de interrogação. Associado à perplexidade do meu irmão estava um vídeo que eu, em teoria, lhe teria enviado. Fui rápida a perceber que era pornografia, preciso de poucos desenhos, afinal gosto tanto de sexo como qualquer outra pessoa, sei perceber o que é, nem preciso de ir até ao fim do vídeo. Em meu nome, pois então, circulou pelas caixas de mensagens de quase cinco mil pessoas, todas as que aceitei como amigas virtuais no Facebook, um filme pornográfico em meu nome, tipo prendinha de natal.

À partida, é um episódio quase banal. Tão banal quanto a fotografia do meu belo cão. Há dez anos, confesso, eu teria ficado numa imensa agitação e ansiedade, talvez por entender o mundo com um maior sentido de resposta, todos os porquês teriam então uma explicação. Como naquele livro que tive na adolescência, capa azul, letras a amarelo e um desenho de um rapaz que se interrogava em permanência. No estado em que estamos, o mundo e eu mesma, limitei-me a fazer um aviso à navegação: malta, gosto muito de vocês, mas não vos enviei pornografia.

Existem muitas coisas, demasiadas coisas, que não entendo no mundo da navegação pela Internet. Já vi os documentários, já li artigos, já pensei sobre o fenómeno e sobre a forma como a nossa vida parece perfeita, se formos avaliar pelas fotografias que a maioria de nós publica. Sei que os algoritmos existem e que se eu falar hoje, por hipótese, de Paris, é certo que surgirão, nas minhas redes, inúmeras propostas de viagens e de hotéis na bela cidade francesa. Somos controlados e manipulados e as redes sociais são um engodo comercial, uma armadilha bem montada. Quem é que não comprou algo online para depois verificar que, afinal, não tem bom ar nem aquela qualidade que nos venderam em fotografias ou, até, em filme? Pois, seremos muitos pelo mundo inteiro. Quanto a estes abusos, o que fazer? Como gerir a possibilidade real de uma série de pessoas receberem, em meu nome, o que não é da minha autoria? Não sei responder. Faço o que me recomendam, mudo a password de acesso, denuncio e pouco mais posso fazer. Assim, se receberem um vídeo com pornografia mais ou menos escandalosa, se é que isso existe, não fiquem envergonhados, “é normal”, diz quem anda nas redes há mais tempo que eu. Triste mundo em que podem fazer-se passar por nós sem que possamos reivindicar o que é nosso: o nosso nome, o nosso rosto.

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