Lamento muito que estejamos tão perto da loucura. Da irresponsabilidade e da falta de civismo. O Sporting ganhou, é campeão e levaram 19 anos de espera sofrida. Entendo tudo, tenho a maior solidariedade, mesmo que a minha praia seja a patinagem artística e a ginástica.

Não sou adepta de futebol, nunca fui, costumo dizer que sou do Belenenses, que é coisa que devolve um sorriso ligeiro. A minha avó, que morreu há um mês, precisamente no dia 11 de Abril, era ferrenha do Sporting. Era uma adepta que, mesmo hospitalizada, pedia as ouvideiras – para quem não sabe, são headphones – para ouvir o jogo. Na enfermaria das mulheres do Hospital de Santa Maria muitos entenderam, outros reviraram os olhos, mas o amor por um clube é algo mais forte do que o pragmatismo a lógica.

O desporto carrega as emoções ao rubro, é até bom que assim seja. Desmond Morris explica, num estudo já com umas décadas, intitulado Tribo, as razões para a existência do futebol, dos rituais, das superstições. Li-o há muitos anos e sei que é um tópico fascinante. Por isso, percebo que, se se tivessem enfiado nos carros e apitassem até ao infinito e mais além – caramba! Apitassem a noite inteira, era chato, mas compreensível.

O que não é compreensível nem sustentável é ver a malta agarrada, aos pulos, aos abraços, sem máscara, numa manifestação de júbilo que é um cuspir na cara de todos os confinamentos, de todas as medidas de segurança. Não, lamento, nenhuma alegria merece ser mais forte do que a saúde pública. Nenhuma. Por isso, sabendo que a minha avó, lá onde está, sorriu com a vitória do seu clube do coração, não tenho como aplaudir o comportamento de muitos sportinguistas (não todos, é evidente). Não era um ano para isso. Era um ano para ganhar e dar uma lição de civismo. Já sei, é a tal utopia do costume, que me assalta de quando em vez.