As pessoas são muito engraçadas. A diferença entre a prática e a teoria é um mistério tão misterioso quanto a putativa sensibilidade de um paquiderme face a um nenúfar, para citar uma amiga do coração. Esta minha amiga tem a particularidade de dizer tudo como os malucos, tem a fama e o proveito; mas sendo uma mulher muito inteligente, não distingue o que diz do que faz. É uma raridade. E uma bênção.

A quantidade de pessoas que maldiz A e B atinge proporções bíblicas. Pessoas que levantam falsos testemunhos. Que não se dão ao trabalho de apurar factos. Que difamam e manipulam a seu bel-prazer. Que destroem os outros. O disparate está instalado, quer seja no caso de uma criança que desaparece como num caso de ascensão profissional. E sim, se for uma mulher a fazer um percurso ascendente, que ganhe dinheiro facilmente invejável, tudo é três vezes pior. As mesmas pessoas capazes de tudo o que citei, e ainda de impropérios, ameaças e insultos, ficam indignadíssimas quando se tornam o alvo e vêm dizer: ah, coitadinho/a de mim, isto é impressionante, ninguém pode insultar desta forma leviana.

O livro de Cristina Ferreira, Para cima de puta, é exactamente sobre a impunidade desse tipo de comentário, e da falta que faz a percepção exacta de um critério de civismo. A par de outras figuras públicas, Cristina Ferreira é alvo de insultos diários. Outras figuras públicas são alvo de assédio por terem outra etnia – é o caso de Conceição Esteves. Como são figuras públicas, tendemos a desvalorizar. É o resultado da exposição? Não é. É o resultado da falta de civismo e de educação. É o resultado da inveja e do gosto de maldizer. Basta abrir qualquer rede social e lá está o comentário, a mensagem directa, a insultar, a maldizer.

Quando estas personagens do mal são atacadas, vira-se o feitiço contra o feiticeiro e, confesso, dá-me um certo prazer. Quando os “especialistas” ou treinadores de bancada da secretaria da existência pontificam, e a realidade os desmente, como foi o caso com a criança Noah, não há nada a fazer. Não apagam os comentários hediondos, porque têm muitos likes e compinchas no disparate. Vão alegremente a pular para outro assunto, sem se retratarem, sem pedir desculpa, sem rectificar seja o que for. Seguem para a vítima seguinte e está tudo bem, até ao momento em que alguém os insulta ou os processa.

Isto é um fenómeno mundial, já sei, mas caramba, seremos incapazes de aprender a estar, a não invejar o Outro? Incapazes de ver para lá do nosso umbigo e do constante achismo? Eu acho que os pais são culpados, eu acho que ela dormiu com não-sei-quantos, eu acho que ele deveria era ser preso, eu acho que ela é obscena… O achismo nada traz de bom. Acho eu.

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