A 28 de fevereiro deste ano, data em que o Benfica completou 117 anos, Luís Filipe Vieira fez notar, em resposta às pessoas que criticavam o facto de não estar presente nos jogos da equipa, que “há pessoas mesmo pulhas”. Na altura, vários benfiquistas assumiram-se em público precisamente como “pulhas” - um ato perigoso, aliás, já que sabemos que quem critica Vieira corre o sério risco de receber uma oferta de emprego da sua parte. Esta segunda-feira, a lista de pulhas certamente terá aumentado, depois da presença de Luís Filipe Vieira na Comissão Parlamentar de Inquérito ao Novo Banco.

Um dos argumentos dos defensores de Luís Filipe Vieira como presidente do Benfica é que “foram os sócios que o puseram lá.” Ora, infelizmente para eles, Luís Filipe Vieira desmentiu essa afirmação no Parlamento. Aparentemente, quem escolheu aquele que viria a ser o presidente do Benfica em outubro de 2003 não foram os benfiquistas, mas os banqueiros. Não foram os sócios do Benfica, foram os sócios do Vieira. Dir-me-ão: sim, mas o Benfica estava numa situação financeira muito frágil e não seria a primeira vez que credores empurravam um bom gestor, um tecnocrata, para a liderança de uma instituição. Ainda melhor: significa que a banca portuguesa não só domina os clubes que deviam pertencer aos sócios, como escolhe para geri-los o melhor aluno da fornada de estudantes saídos da School of Não Saber o Que São Imparidades and Economics.

Diz-se que não se deve confundir o cidadão Luís Filipe Vieira com o presidente do Benfica Luís Filipe Vieira, mas isso não é possível. Não é possível porque Vieira usa a sua posição no clube mais popular do país como escudo, como plataforma logística para os seus negócios e como motivo de vitimização. Luís Filipe Vieira não está ali porque é presidente do Benfica, mas está ali numa posição mais confortável por sê-lo. Os adeptos do clube já estarão todos cientes de que não é a gestão do Benfica que prejudica os negócios de Vieira, mas os negócios do Vieira que prejudicam a imagem do Benfica, e que o presidente raptou a força social do clube para se defender. E, já que estamos a falar de cercos que apertam no Parlamento, julgo que os adeptos do Benfica não gostam de ser sequestrados, é uma coisa que os chateia.

Quem acompanhou a Comissão de Inquérito a que finalmente Vieira compareceu (possivelmente depois de esgotar o plafond do seu seguro de saúde no que toca a consultas médicas) experienciou o mesmo nível de desfaçatez a que Vieira habituou os sócios do clube a que preside. Luís Filipe Vieira não respeita as assembleias, quer seja a de sócios, quer seja a da República, provavelmente nem a dos condomínios em que tem imóveis. A partir desta segunda-feira, os “pulhas” já não são só os benfiquistas que não o querem apoiar, mas todos os portugueses que não o querem sustentar.