No início da última semana, a Netflix e a Microsoft surpreenderam ao anunciar que vão trabalhar em conjunto. Mais concretamente, fizeram saber que a Microsoft será o parceiro global da Netflix e juntas vão trabalhar num novo plano de subscrição com publicidade. Simplificando: a segunda vai tratar dos anúncios da primeira.

Era sabido que a Netflix estava à procura de parceiros e que andava em conversações com vários players da indústria como a Comcast (uma mega corporação que é a dona da NBC Universal, dos canais Sky, entre outras coisas muito valiosas) ou a Google. No entanto, a escolha final, sabe-se agora, recaiu pela Microsoft.

Como é que chegámos aqui. A Netflix anunciou no início deste ano aquilo que, em tempos, jurou que nunca iria fazer: fazia intenções de lançar uma subscrição com anúncios para fazer face à perda de receitas, subscritores e investidores.

O que é? O utilizador vai ter mais uma opção para usufruir do serviço, em que vai ter a possibilidade de escolher uma versão mais barata, mas que será suportada por anúncios. Sobre os motivos que a levaram a isso já os abordámos aqui.

Como é que vai ser? A plataforma ainda não divulgou detalhes ou em que moldes será a dita subscrição. Mas a julgar pelo que a concorrência (Hulu) já faz nos Estados Unidos, é possível que antes e durante o episódio passem anúncios à semelhança do que acontece, por exemplo, no YouTube. E que exista publicidade espalhada na plataforma.

Quando é que vai ser lançada? As notícias além fronteiras apontam para que seja lançada ainda no final deste ano. Mas as conversações estão numa fase muito inicial e é difícil de prever exatamente o que vai acontecer. A realidade é que a Netflix não avançou quer datas para o lançamento da modalidade, quer estimativas para o seu custo.

OK: Mas porquê a Microsoft? Segundo um especialista consultado pela Digiday, a globalidade da empresa. É que dos atuais 222 milhões de subscritores da Netflix, 147 milhões estão fora do mercado norte-americano/canadiano. A Microsoft garante a oportunidade de monetizar em todos os mercados do mundo e não apenas nos maiores.

Mas também porque:

  • A Netflix está a apostar muito dinheiro em videojogos e a Microsoft está a trabalhar no sentido de colocar publicidade na consola Xbox — o que pode servir o interesse de ambas as partes;

  • Por último, a tecnologia da Microsoft pode ajudar a Netflix noutra frente de batalha: a caça à partilha de palavras-passe. Segundo a plataforma de streaming, esta prática custa 6,25 mil milhões de dólares anuais em receitas.

E porque não a Google ou a Comcast? Por motivos de concorrência. Afinal, há que pensar no YouTube no caso da primeira e do serviço de streaming Peacock, no caso da segunda.

  • Ainda assim… Há quem alerte que a Microsoft não tem provas dadas no streaming. A Xandr, empresa recém-adquirida pela Microsoft, traz uma muito necessária experiência em venda de anúncios para TV, mas é "verde" na área que mais interessa à Netflix. O que pode resultar num tiro no pé.

E o que é que isto significa para a Microsoft? Depois de ultrapassar os 10 mil milhões de dólares em receitas de publicidade em 2021, para a Big Tech esta parceria não é mais do que a continuação daquilo que tem vindo a fazer nos últimos meses: apostar forte nos anúncios na área tecnológica.

Mas quer isto dizer que a Microsoft está a preparar terreno para comprar a Netflix? Não se sabe. Há, contudo, uma analista que acredita que sim. Laura Martin, da consultora Needham, em entrevista à Yahoo! Finance, sugeriu que a Netflix continua a perder dinheiro e estava à procura de "uma saída" e que o acordo anunciado tem uma "agenda secreta".

  • Em resumo, Martin explicou que a Netflix está à espera que a Microsoft "faça a digestão" e finalize a compra da empresa de videojogos Activision Blizzard para se mostrar — estando com um pé dentro, mostra o que de valioso tem para ser vendida. Mais: diz que mais nenhuma outra empresa com a qual a Netflix pudesse ter feito uma parceria tem liquidez ou capacidade para enfrentar os reguladores enquanto gasta 100 mil milhões de dólares na aquisição. Mas a Microsoft pode muito bem fazê-lo.