Fung… quê?

Utilizando a sigla para simplificação, os NFTs são ativos digitais que representam uma série de produtos colecionáveis tangíveis e intangíveis: obras de arte, cartas desportivas, cartas Pokémon e semelhantes, GIFS, vídeos, imagens, ténis, entre outras coisas. Até recentemente, a compra e venda deste tipo de produtos enfrentava uma série de desafios, pois era difícil não só comprovar a sua autenticidade como garantir que o criador ou vendedor original do produto era compensado pelas revendas posteriores.

É aqui que entra a blockchain, uma espécie de livro de registo digital público para bitcoin e ethereum, por exemplo, que se tornou popular com a crescente negociação destas criptomoedas, permitindo que todas as transações fiquem anotadas e que possam ser acedidas por qualquer pessoa. Significa isto que uma carta do Pikachu vai subitamente tornar-se numa moeda digital? Nada disso. Simplesmente, significa que, com esta tecnologia, existem mais vantagens na negociação deste tipo de ativos.

  • A diferença: Ao contrário das criptomoedas, as NFTs são distinguíveis (uma carta desportiva do Cristiano Ronaldo irá valer mais que a de um jogador do Olivais e Moscavide, com todo o respeito por este clube centenário, enquanto qualquer bitcoin valerá sempre o mesmo) e são indivisíveis (posso comprar 0.01 bitcoin, mas não posso comprar 0.01 de uma carta do Cristiano Ronaldo).
  • Os benefícios: a blockchain permite que os ativos sejam (1) indestrutíveis (a transação fica registada para sempre), (2) imutáveis (num mundo em que tudo pode ser copiado da Internet, o comprador ficar com um certificado seguro de que é o dono do ativo) e (3) verificáveis (na medida em que ao estarem alojados neste tipo de plataforma é possível, por um lado, verificar de certa forma a sua autenticidade e, por outro, independentemente do número de vezes, fazer um tracking até à transação original do ativo e compensar o criador por potenciais revendas)

De onde surgiu o hype?

Um culpado, para variar, é a pandemia, que levou a que mais uma dinâmica do mundo físico passasse para o mundo online. Outra razão é o próprio paradigma associado a produtos colecionáveis, seja pelo amor que um fã pode ter pelo Cristiano Ronaldo, seja pela crença de que se comprar a carta agora, esta poderá ganhar valor no futuro e trazer lucros. No entanto existem três fatores que ajudam a explicar a crescente popularidade deste fenómeno:

  • Cryptos: O crescimento da valorização criptomoedas, nomeadamente da Ethereum, cuja tecnologia é aquela maioritariamente utilizada na criação deste tipo de ativos. Não foi difícil para quem segue a performance da criptomoeda descobrir este “serviço adjacente”.
  • Christie's: A adoção deste método de compra e venda por parte de uma das mais importantes casas de leilões no mundo inteiro, a Christie's, para vender algumas obras de arte que tinha em catálogo. Num evento online de 14 dias, que termina esta semana, a peça mais sonante pertence ao artista digital Beeple, que viu a sua colagem virtual de fotografias da sua vida, tiradas durante 5 mil dias consecutivos, ir de um preço de abertura de 100 para mais de 1 milhão de dólares, no momento em que escrevemos. Isto mostra a importância de ter sempre uma pose preparada.
  • NBA: O lançamento no final de outubro do NBA Top Shot, um marketplace (à base de blockchain) de cartas com jogadas de atletas da NBA, os Moments, que os fãs podem adquirir para a sua caderneta digital, quer através da compra de packs na plataforma (como se fossem carteirinhas de cromos), quer num mercado secundário onde podem comprar e vender cartas colocadas à venda. Nos últimos quatro meses, a plataforma já ultrapassou os 200 milhões de euros em vendas e, na semana passada, registou-se a maior compra de sempre, quando alguém deu cerca de 200 mil dólares por um cromo uma jogada de LeBron James. Unbelievable.

Qual o futuro do mercado de NFTs? Há três anos, o mercado de NFTs, nos EUA, valia 42 milhões de dólares. No final de 2020, registou um aumento de 705% face ao ano anterior, e já valia 338 milhões de dólares. De acordo com estimativas do Nonfungible.com, que monitoriza a indústria de NFTs, só nos primeiros dois meses deste ano, já tinham sido gerados mais de 310 milhões de dólares em receitas. A curto-médio prazo, o caminho está traçado e é a subir.