Desde o final dos anos 1950 até meados dos anos 1970, a corrida espacial entre as duas superpotências mundiais serviu a rivalidade militar apelidada de Guerra Fria, a que o antigo primeiro-ministro britânico Winston Churchill chamou o “equilíbrio de terror”.
As primeiras etapas desta longa corrida espacial foram vencidas pela União Soviética e o primeiro sinal do avanço foram os 'bip bip' emitidos pelo satélite Sputnik 1, o primeiro satélite artificial, lançado em 04 de outubro de 1957.
O Sputnik 1 fez várias órbitas à terra, durante três semanas, antes de as baterias perderem carga, atirando o pesado engenho para a atmosfera, não sem antes criar o pânico entre os líderes norte-americanos, que viam as forças soviéticas assumir a liderança na corrida pelo controlo do espaço.
A vantagem da URSS aumentou ainda mais quando, em 12 de abril de 1961, Yuri Gagarin se tornou o primeiro homem a viajar no espaço sideral, perante o desespero norte-americano, que se via relegado para segundo lugar em cada troço da corrida.
Enquanto isso, no planeta Terra, a corrida espacial jogava-se nos corredores dos quartéis militares e nos meios de comunicação social, com os dois países a digladiarem-se em ações de espionagem e contraespionagem e arremessando provocações que percorriam a distância entre Washington e Moscovo à velocidade da luz.
Do lado norte-americano da barricada, os sucessos iniciais soviéticos conduziram a importantes decisões políticas, como a criação em 1958 da Agência Espacial Norte-Americana (NASA, na sigla em inglês), reformas educativas e investimentos milionários na investigação científica e universitária.
No mundo bipartido herdado da II Guerra Mundial, as duas superpotências lutavam pela supremacia militar, fazendo circular em efeito pendular a tecnologia dos foguetões espaciais e dos mísseis balísticos.
As origens da corrida espacial podem ser encontradas nesse terreno misto da investigação científica e do armamento militar na Alemanha nazi dos anos 1930, quando começaram a ser produzidos mísseis balísticos capazes de voos espaciais suborbitais.
No final da II Guerra Mundial, em 1945, os serviços de informações norte-americanos, britânicos e soviéticos disputaram a captura dos engenheiros alemães de foguetes, bem como dos planos que eles estavam a desenvolver.
Os norte-americanos foram quem mais beneficiou, graças à Operação ‘Paperclip’, que permitiu o acesso aos planos do mortífero míssil V2 e o recrutamento do seu principal mentor, Dr. Wernher Von Braun.
Mas os soviéticos rapidamente recuperaram terreno, em parte graças ao facto de o centro de foguetes nazi estar situado em Peenemunde, na parte leste da Alemanha, sob controlo da URSS, com Estaline a enviar para a região uma equipa com os seus melhores engenheiros espaciais, liderados por Sergei Korolev, na esperança de conseguir dados relevantes para o desenvolvimento de armas e foguetões.
A rivalidade espacial rapidamente se tornou uma peça do complexo ‘puzzle’ que era a Guerra Fria, como expressão da luta ideológica entre comunismo e capitalismo.
Em 1949, os EUA perceberam que tinham perdido o monopólio da bomba atómica, que tinham testado no Japão, quando em setembro desse ano a União Soviética fez explodir o seu primeiro engenho dessa tipologia.
Estava dado o tiro de partida para a corrida ao armamento nuclear, que passou a incluir bombas de hidrogénio, e mísseis balísticos intercontinentais, que deram novo rosto às ameaças de um cenário de holocausto.
Mas a Guerra Fria foi também alavanca da corrida espacial e quando, no espaço de quatro dias, em 1957, ambos os países anunciaram para os anos seguintes o lançamento de satélites de órbita terrestre, foram os mísseis balísticos que serviram de engenho para a exploração espacial.
A viagem de Yuri Gagarin, no lado soviético, e de Alan Shepard, o primeiro norte-americano a viajar no espaço, em 1961, eram o rosto pacífico da guerra espacial que se desenhava nos túneis subterrâneos dos postos de lançamentos de mísseis nucleares.
Em 12 de setembro de 1962, o Presidente dos EUA John F. Kennedy levou o jogo para um novo nível, com um empolgante discurso em que prometia que até ao final da década os EUA colocariam um homem na superfície lunar.
“Decidimos ir à lua”, disse Kennedy, perante o silencio do Presidente soviético Khrushchev, que nunca confirmou ou desmentiu que o seu país tivesse também essa ambição.
O lançamento da cápsula Vostok 4, em 1962, mostrava que os soviéticos tinham capacidade para colocar dois pilotos no espaço, com agilidade e manobrabilidade.
Ao mesmo tempo, o Projeto Gemini, nos EUA, preparou o Projeto Apollo, que na versão 11 colocaria a cápsula Eagle em solo lunar, permitindo a Neil Armstrong tornar-se o primeiro humano a tocar a lua, naquele que foi o ponto alto da corrida espacial.
A alunagem foi a vitória norte-americana perante os sucessos soviéticos iniciais e a rivalidade entre as duas superpotências arrefecia, perante o olhar atento da ONU que, em 1967, tinha conseguido um tratado para a exploração e uso do espaço exterior, assinado pelos EUA, Reino Unido e URSS.
O tratado impedia que qualquer dos signatários colocasse armas de destruição maciça na órbita terrestre, colocando pesadas limitações à utilização do espaço como território de conflito militar e abrindo portas para o fim da Guerra Fria.
Poucos anos depois, em 1975, a rivalidade espacial também chegava ao fim, com a primeira missão conjunta do projeto norte-americano Apollo e do programa espacial soviético Soyuz, que efetuou uma acoplagem em órbita da Terra, unindo astronautas dos dois países num único objetivo.
(Por: Ricardo Jorge Pinto da agência Lusa)
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