Em 1980, a Companhia de Jesus — também conhecida por Jesuítas — fundou o Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS), uma organização internacional que tem como missão "acompanhar, servir e defender" os refugiados, deslocados à força e todos os migrantes em situação de particular vulnerabilidade.
Em Portugal, o JRS existe desde 1992. Gonçalo Castro Fonseca, padre Jesuíta, decidiu sair deste quadrado à beira-mar para prestar auxílio a quem mais precisa, na Síria. É o único português no meio de Jesuítas sírios, mas isso não lhe diminui as forças. Tem os olhos postos no futuro e nos sonhos que ainda estão por concretizar.
Há um ano na Síria, tem vindo a escrever no seu blog, Varekai, cartas que permitem a quem cá ficou acompanhar o seu trabalho. Agora em Portugal, de férias por alguns dias mas sem estar "desligado" de quem vive a guerra, falou com o SAPO24 sobre o impacto desta experiência na sua vida, traçando um retrato da cidade de Damasco após oito anos de conflito.
Tal como o Pe. Gonçalo Castro Fonseca, os membros do JRS, muitos deles voluntários, espalham-se por cerca de 60 países e querem estar onde mais ninguém vai, ajudando aproximadamente 950 mil refugiados e deslocados à força em todo o mundo.
"Não sabia bem o que ia encontrar, mas sentia que ali era o meu lugar."
Está desde 2017 na Síria com o JRS. Como é que tudo isto começou?
Começou com uma experiência espiritual de há dois ou três anos, uma experiência muito forte em que me senti chamado a levar esperança, sem saber muito bem onde. Depois, houve uma carta do nosso superior geral a pedir jesuítas para o Médio Oriente. Então, conversando com o meu provincial, entendemos que podíamos oferecer-me por três anos. Uma vez lá, a Síria era o lugar onde mais era preciso [intervir] e, de algum modo, era o sítio para onde me sentia mais inclinado a ir. Não sabia bem o que ia encontrar, mas sentia que ali era o meu lugar.
Tem andado muito por Damasco, nas mesmas ruas por onde andou S. Paulo. Como é pensar no que se passou nos tempos bíblicos e olhar agora para estas ruas?
Depois de um ano, andar pelas ruas ganha novos contornos, novas experiências, novas memórias. Mas quando cheguei foi muito importante para mim estar no sítio onde S. Paulo esteve, onde foi a sua grande transformação. No início — se calhar agora não penso tanto nisso — pensava que era chamado a dar vida a partir daquelas ruas, tal como S. Paulo recebeu a promessa de que teria de dar muito da sua vida pela Igreja. Também vivia um bocadinho o dilema de 'como é que é possível dares tanto?'. Hoje já criei outras memórias, já tenho de me obrigar a pensar que S. Paulo esteve ali, atravessou aquelas ruas, viveu ali, porque Damasco já faz parte do meu dia-a-dia.
Podemos falar também em S. Paulo como história de esperança e conversão. Acha que, depois de oito anos de conflito, as pessoas que circulam agora por aquelas ruas ainda conseguem ter esperança?
Damasco é uma cidade, uma capital, onde tudo acontece, e por isso, de algum modo, há a possibilidade de futuro e as pessoas sentem-no. Será difícil, porque perderam muito, mas vive-se nesta lógica de que podemos alcançar um mundo melhor, de que podemos ter uma vida melhor. Não sei se o mesmo acontece fora de Damasco. A Síria é um país enorme e, de facto, em todo o país, a cidade de Damasco é a mais protegida ou preservada. Fora de Damasco há cidades que estão completamente destruídas. Se em Damasco consigo vislumbrar uma experiência de futuro, de esperança, é-me mais difícil fora dali.
O que é preciso para construir este futuro?
Primeiro, é preciso muita paciência, é preciso construir novas memórias. As memórias dos últimos oito anos são muito violentas e, por isso, o instinto é dizer 'não há futuro, não vale a pena'. Segundo, [é necessário] reconciliação. É uma coisa que nós, jesuítas, procuramos ter como base em tudo aquilo que fazemos. É preciso reconciliar com a história, com o vizinho, com as pessoas e também cada um consigo mesmo. Oito anos é muito tempo de guerra. Há muitas feridas, há muita dor, há muita perda. Não é uma questão de passar por cima; não dá, não se consegue passar por cima. Então tem de se fazer ali um esforço de reconciliação e isso também exige paciência. Acredito que vai haver um futuro grande, vigoroso, mas não agora. Tem de se esperar.
"Não nos podemos deixar acomodar no nosso conforto e achar 'isto não é o meu problema'"
Como é que se pode ajudar estando de fora?
Primeiro, acho que importa não esquecer que há ali um povo que sofre, que vive uma situação de injustiça. Não nos podemos deixar acomodar no nosso conforto e achar 'isto não é o meu problema'. É o meu problema, é o problema de cada um. E se eu vejo isso como o meu problema, então posso fazer alguma coisa. Depois, também é preciso perceber que aqui e na Europa estamos a receber refugiados que podem vir a ser o futuro, mas que têm de ser encorajados a voltar ao país de origem. Não porque não são bem recebidos aqui. Pelo contrário, devem ser bem recebidos, devem ser-lhes dados instrumentos e devolvida a dignidade, a esperança, a força, para que então possam ter reunidas as condições para regressar. E, claro, também se pode ajudar com oração e a nível financeiro. Há organizações que estão lá e podem ajudar nisto. Nós, por exemplo, estamos a fazer uma angariação de fundos, e há outras instituições que também o fazem.
"É um povo que nunca desiste, quando acho que têm tudo para desistir"
Todos vemos a guerra nas notícias. Como é chegar à Síria e ver a realidade no terreno?
Quando cheguei, de algum modo fui surpreendido, porque as imagens que nós temos aqui são sempre e só de destruição, e não há só isso. Há o outro lado, também. A surpresa é perceber que não é um povo que está resignado. Existe uma guerra e temos de viver com isto ou temos de fugir? Não! É um povo que tem uma força incrível, que tem muito mais força do que eu, e que é de uma resiliência invejável. É um povo que nunca desiste, quando acho que têm tudo para desistir. Eu estava à espera de encontrar uma realidade muito massacrada — e é verdade —, pessoas sem esperança, sem vida, sem garra, sem força, e não. Encontrei, pelo contrário, pessoas com imensa vida, com imensa esperança, imensa força. Não desistem apesar das dificuldades diárias. Há sempre ali um ânimo muito grande. Aprendi muito: eu fui dar força e ganhei força na experiência da partilha das suas vidas.
Que tarefas desempenha exatamente no centro do JRS? Referiu que não faz propriamente "tarefas de padre".
Assim que cheguei, dediquei-me quase em exclusivo a aprender árabe, porque sem isso dificilmente conseguiria ser útil. Depois de aprender o mais rudimentar, o meu trabalho foi de ordenação e gestão de um centro. Era preciso alguém que ajudasse ou coordenasse a gestão do espaço, que não é muito grande, mas que tem muitas coisas a funcionar. É um trabalho mais prático, mais executivo, e o meu meio árabe e o inglês são suficientes. Mas independentemente deste trabalho executivo, a minha presença como padre, como estrangeiro, seria suficiente. Eu não precisaria de fazer mais nada para que eles sentissem em mim uma razão e um motivo para continuarem. De facto, o meu árabe não é suficiente para poder celebrar uma missa em árabe: toda a dimensão mais sacramental fica condicionada pela língua. Convém também referir que temos nos nossos centros crianças muçulmanas e cristãs. Não é por sermos uma organização religiosa que fechamos a porta a não católicos ou a não cristãos. Aliás, no nosso centro temos muitos mais miúdos que são muçulmanos do que cristãos. O critério tem a ver com a necessidade. Quem tem mais necessidade é quem entra, depois é que sabemos se são muçulmanos ou cristãos.
Aprender árabe é um desafio. Já passou por alguma situação caricata?
Todos os dias tenho uma história divertida, mas às vezes é difícil contar porque é preciso saber algum árabe para perceber a graça. Mas posso contar uma, mais fácil. Estava num transporte público — uma carrinha de nove lugares onde entram quinze pessoas —, o condutor fez-me uma pergunta, e eu disse que sim. Só depois percebi que não tinha entendido nada do que ele me perguntou [risos]. Fiquei aflito, até porque fui o único a dizer que sim. Depois [soube que] ele tinha perguntado se alguém queria sair a seguir. Há sempre histórias, mas as pessoas com quem trabalho ajudam-me muito e também nos divertimos com as minhas gafes — que são muitas. Nunca houve nada que me colocasse numa situação constrangedora, mas é sempre muito divertido.
O que foi mais complicado em termos de adaptação na Síria, além da questão da língua?
Uma dificuldade também expectável tem a ver com hábitos culturais: a maneira como se está, a maneira como se cumprimenta ao chegar, ou como agir na despedida. Mas não foi propriamente difícil adaptar-me a isso. Uma dificuldade grande, sim, é a questão do desenvolvimento. Não é que seja um país subdesenvolvido — a questão da guerra, sim —, mas tem estruturas com que nós já não sabemos sequer lidar, como os transportes. Ainda hoje tenho alguma dificuldade em entrar num transporte público [carrinhas pequenas]. Se não me obrigo a entrar não consigo, porque há 50 pessoas que têm de entrar antes de mim. Nas primeiras vezes eu ficava horas à espera de apanhar uma brecha para conseguir. Agora já sei, pego na mochila e vá! Faz parte do dia-a-dia.
"(...) tens nove anos, a guerra começou quando tinhas dois. Claro que não sabes o que é a paz."
Continuemos nas histórias das pessoas com quem se tem cruzado. Há alguma situação que o tenha marcado mais?
Entrar na vida e nas histórias das pessoas vai-me marcando e transformando, e faz-me colocar várias questões. Faço das suas histórias as minhas histórias, e isso obriga-me a pensar sobre mim, sobre a vida, sobre o mundo, a fé, o amor. Posso destacar uma [situação]: precisava de escrever um longo artigo sobre a Síria, e quis perguntar a um miúdo de nove anos o quê que ele entendia sobre a guerra e sobre a paz. Então, pedi ao miúdo — chama-se Khaled, que significa imortal, ironicamente — para me falar da guerra. ‘Guerra: bombas, tiros, aviões, morte, fuga, medo’. Foi-me falando assim, em palavras soltas. 'Ah, ótimo. E agora diz-me: e a paz?'. Eu, no mínimo, estaria à espera que ele me dissesse que é a ausência disto tudo. Mas não. Responde-me assim com um claro 'não conheço'. Caiu-me a ficha, é óbvio que não conheces, tens nove anos, a guerra começou quando tinhas dois. Claro que não sabes o que é a paz. O Khaled e os miúdos mais novos não conseguem conceber um mundo sem guerra, coisa que não acontece com os mais crescidos. Mas, mesmo aos jovens, dos 20 aos 30, foi-lhes tirado tanto. Ainda têm memórias de infância, de tudo o que era bom, mas as memórias recentes têm muita força nas suas vidas. Se calhar os adultos, já nos 40, viveram mais tempo de paz do que de guerra, mas creio que, ainda assim, é difícil pensar no futuro.
Um futuro que pode ter sonhos aparentemente simples, mas difíceis de concretizar.
Quando os miúdos chegam ao nosso centro, fazemos uma série de perguntas e uma delas é: então, qual é o teu sonho? É muito frequente ouvir respostas como 'o meu sonho é ter um caderno para poder aprender melhor'. Como é que é possível haver uma realidade onde o sonho é ter um caderno? Os nossos miúdos [em países sem guerra] sonham com tudo e mais alguma coisa! Sinto muito que a nossa missão também é ajudá-los a sonhar. A partir do sonho também se pode construir futuro. De algum modo, a nossa missão é ajudá-los a ter futuro através do sonho e depois da aprendizagem, do estudo, etc.
No centro recebemos crianças, damos ali uma educação formal e proporcionamos-lhes um tempo de qualidade, um tempo em que podem construir boas memórias, em que podem construir futuro. E para as crianças tem sido altamente gratificante e transformador. E por mais que uma vez apareceram mães, pais, famílias, que vieram ter connosco a dizer 'obrigado pelo que têm feito pelos nossos filhos' e 'ajudem-me a ajudá-los'. Ou seja, ensinem-nos também para que nós possamos dar continuidade em casa ao que eles contam daqui.
Com tudo o que tem visto, acha possível haver paz no meio da guerra?
É possível haver uma tranquilidade tensa, mas não é propriamente uma experiência de paz. Tenho dado por mim a tentar perceber e a conceber o que é a paz, a ganhar um novo conceito de paz. Mas não sinto que seja possível. A paz é um lugar de crescimento e numa guerra não se cresce.
Referiu, num artigo, três tipos de pessoas de quem se fala na guerra: os bons, os maus e os inocentes. Sente que há de facto esta divisão?
Nós concebemos uma guerra ou um conflito dividido entre bons e maus… mas a verdade é que não há bons nem maus. Posso mesmo dizer que não há bons, entendam-no como quiserem. Há os inocentes. Não é um conflito tipo Senhor dos Anéis em que temos os bons e os maus. Se calhar, a leitura que se faz do estrangeiro, sem a informação toda, é achar que há os maus e depois os outros são os bons. Não é verdade. Creio que na Síria, como em qualquer outro conflito, só há maus. E no meio disto há os inocentes que não têm voz, os inocentes que perdem, os inocentes que morrem e não têm força sequer para combater. Só têm a inocência, mas a História tem provado que os inocentes nunca vencem uma guerra. São, posteriormente, os vencedores, mas ali no concreto não vencem. A Síria não é exceção. Creio que nós estamos mal habituados, porque desde o princípio brincamos aos polícias e ladrões e a literatura e os filmes fazem-nos ter um imaginário deste elitismo; há os bons e os maus. E não é assim. Ali há os inocentes e os outros.
No seu blog, Varekai, começou por assinar os artigos como Ícaro [figura mitológica que quer voar até ao sol]. Estar na Síria é caminhar para o sol ou afastar-se do sol?
A inspiração é o Ícaro do Varekai [espetáculo do Cirque du Soleil], que vai conhecer o centro do mundo [depois de cair do sol]. Estar na Síria aproxima-me de um centro que se calhar ainda não estou em condições de dizer qual é. Mas é o centro daquilo que sou, de quem sou, o centro da minha relação com a vida, a relação com Deus, com a Companhia de Jesus, com o mundo. Quanto mais estou nesse centro, mais atraído me sinto porque me preenche inteiramente. E claro que nesse preenchimento vou ter de deixar de fora muita coisa, mas acho que é o que me vai fazer — e está a fazer — ir cada vez mais ao essencial. Não usaria a imagem de me aproximar do sol, porque isso queima, mas de um centro, que ainda não consigo descrever bem o que é.
"Até posso dizer que tem sido mais difícil reajustar-me à minha realidade, à realidade de Lisboa, de Portugal, de conforto, de segurança."
Está agora num período de férias em Portugal, mas vai voltar para a Síria. O regresso pode ser um choque?
Dentro de duas semanas volto. Não sei se vai ser difícil ou não. Mas não estou completamente desligado, por isso não deve ser um choque. Até posso dizer que tem sido mais difícil reajustar-me à minha realidade, à realidade de Lisboa, de Portugal, de conforto, de segurança. Imagino que já não vá ter um choque cultural quando voltar à Síria, precisamente porque ainda estou ligado e sinto que pertenço ali. Agora sim, tem sido mais difícil aqui. Olhem, tenho um sofá! [risos].
"Sinto-me mais português porque estou fora, gosto mais de Portugal porque estou fora"
Continuando a falar do nosso país. Pela altura do Mundial partilhou uma fotografia com o cachecol da seleção. Como foi assistir a tudo estando na Síria?
Na minha experiência em viver no estrangeiro — e tenho tido o privilégio de fazer experiências fora —, creio que o meu sentimento de nacionalidade vai aumentando. Sinto-me mais português porque estou fora, gosto mais de Portugal porque estou fora. Não num sentimento nostálgico, doentio. Acho que é saudável. E tenho de dizer uma coisa: o Ronaldo abre-me portas incríveis. Sou fã dele pelo que representa em termos de dar a conhecer o país. Eu apresento-me, falo em Portugal... Não sabem bem. Digo que é o mesmo país do Cristiano Ronaldo, e fazem uma grande festa! A minha apresentação já inclui a referência ao Ronaldo. Inevitavelmente, o Mundial e a prestação da seleção foi vivida com muita intensidade, como teria sido estivesse onde estivesse. Mas ali vibravam comigo já nem por ser o Ronaldo, mas por mim, pela amizade de todos aqueles com quem colaboro. É o país do Gonçalo, por isso temos de vibrar e sofrer. Estávamos ali como se fossemos todos de Portugal, muito em nome da amizade e não por ser ou não a melhor equipa. Não entro por aí, até porque os resultados viram-se [risos].
Considerando tudo o que viveu até agora, qual é a grande lição que tira deste tempo na Síria?
É uma lição que já na preparação fui aprendendo e que ali vou confirmando e vou aprofundando: não tomar nada por garantido. Nós sabemos isso, mas viver na pele dá-nos outra aprendizagem. Eu nem a minha vida tenho por garantida; não a posso ter. Não posso ter [garantidas] no mundo relações, uma casa, alimentação... Não posso ter nada por certo. E isso obriga a fazer uma experiência de humildade muito, muito grande. Tenho de me colocar de braços abertos ao que a vida me dá, mas também não numa atitude resignada e passiva, mas sim de confiança, num discurso de fé. Confiança em Deus, confiança na vida. Tenho aprendido muito isto e tem-me ajudado a estar mais dentro, mais com as pessoas, mais imerso na realidade. Também eles [na Síria] não têm nada por garantido, também eles vivem com confiança no dia de amanhã e isto é um grande desafio, principalmente para quem está numa situação de 'eu vou ajudar, eu estou a ajudar'. Se tinha isto quando fui [para a Síria], agora não tenho. Eu não estou a ajudar, estou a viver e a viver com eles. De algum modo, é o que Deus faz connosco, é o que Cristo faz connosco. Tem sido muito transformador, mas ainda estou em processo. Já consigo dizer que o Gonçalo deste verão é diferente do Gonçalo do verão passado. Seguramente muito diferente. Mas ainda não consigo dizer quem é o Gonçalo deste verão, e muito menos o Gonçalo daqui a um ou dois anos, quando vier [da Síria].
"[As memórias da guerra] já cá estão e não há nada que me possa tirar isso. E não quero que me sejam tiradas."
Diz-se que quem vê a guerra nunca mais se esquece dela. É mesmo assim?
Ai, sim. [pausa] Sim. A nossa memória é construída por imagens e experiências, e a imagem da dor do outro, da injustiça, da indignidade... Acho que são memórias que passam a fazer parte da nossa história, da nossa vivência. [As memórias da guerra] já cá estão e não há nada que me possa tirar isso. E não quero que me sejam tiradas.
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