As projeções das sondagens vão variando quase de dia para dia. Ora o republicano Donald Trump está na frente, ora Kamala Harris surge na liderança. As últimas davam mesmo um ponto percentual de vantagem à candidata democrata. Mas tudo pode mudar no próprio dia das votações, onde a imigração poderá ter uma palavra muito importante a dizer.

E nesses imigrantes, com direito a voto, estarão milhares de portugueses, dos cerca de 1,3 milhões que ali residem.

São vários os estados norte-americanos onde um ou outro candidato são claros favoritos, como é o caso da Califórnia, o estado com maior população luso-americana, acima dos 350 mil portugueses. Neste, Kamala Harris é quem deverá ganhar e em conversa com o SAPO24, Jorge Rodrigues, um médico há 34 anos a residir em San Jose, membro da associação Luso-American Education Foundation, explica a aposta em Kamala.

"O meu voto é em Kamala, como a grande maioria dos portugueses na Califórnia o irá fazer. Os outros não sei se o farão pelo facto da Califórnia ser democrata, eu vou fazê-lo porque prefiro as suas políticas às de Donald Trump. Os Estados Unidos têm de demonstrar ao mundo que estão para apaziguar, estão pela moderação e pelos bons exemplos, algo que Trump não é nem nunca será", diz o clínico de 61 anos, salientando depois, no seu entender, as razões pelas quais Trump venceu em 2016.

Convenção democrata arranca hoje e mostrar diferenças entre Harris e Trump é o mote
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"Acho que as pessoas queriam uma mudança e só havia um candidato pela mudança, neste caso Trump. Provavelmente nunca imaginariam as suas mudanças e atitudes radicais, daí os votos na altura, mas penso que a grande maioria se arrependeu", disse, tentando explicar também o equilíbrio nas atuais sondagens.

"Os Estados Unidos têm de demonstrar ao mundo que estão para apaziguar, estão pela moderação e pelos bons exemplos, algo que Trump não é nem nunca será"Jorge Rodrigues

"Penso que é um pouco como em 2016. As pessoas, a grande maioria, estavam cansadas de Joe Biden. Há muito que não era um líder. E essas pessoas, que estavam cansadas de Biden, associam-no, obviamente, a Kamala. Mas as ideias que a democrata apresentou, as medidas mais importantes, diferenciam-na de Biden. Contudo, infelizmente, as pessoas não conseguem fazer essa dissociação do ainda presidente", referiu, sem saber dizer quem ganhará este ano.

"Como as sondagens indicam, está tudo muito apertado. Sei quem quero que ganhe, mas os norte-americanos são radicais, é impossível dizer, em quase todas as eleições, quem estará na frente. Só espero que à última tenham o bom senso de ver que Trump não pode liderar o país mais fundamental do mundo", disse.

Flórida com Trump, mas há dúvidas sobre a vitória

Se Kamala Harris lidera na Califórnia, um dos estados mais importantes, Donald Trump está na frente na Flórida, um estado que os republicanos vencem desde 2012.

Tatiana Vitória, de 59 anos, há 35 a viver em Orlando, já decidiu que vai votar em Donald Trump, mas tem dúvidas que o milionário e antigo presidente vença as eleições.

"Sei que as sondagens estão renhidas, mas acredito que Kamala vença. Se Trump era o meu candidato ideal? Não, sinceramente. Mas entre manter uma política que não tem feito crescer o país, a de Biden e Kamala, prefiro escolher alguém que possa tentar fazer a diferença. E acho que as pessoas pensam assim. Foi assim também com Hillary Clinton em 2016. As pessoas não queriam uma política passiva e viraram-se para Trump. Agora, no entanto, não acredito que isso aconteça. Ainda o desejo, mas não acredito", disse a portuguesa, membro do Florida Portuguesa American Club, salientando depois o que vê em Trump para direcionar o seu voto.

EUA/Eleições: Atlanta saiu mais cedo do “Halloween” de Trump
EUA/Eleições: Atlanta saiu mais cedo do “Halloween” de Trump Apoiantes de Donald Trump festejam o momento da abertura das portas para o comício em Atlanta, EUA, 28 de outubro de 2024. Foi um cenário de pavor próprio do “Halloween” (Dia das Bruxas), festa que coincide com a última semana de campanha eleitoral para as presidenciais norte-americanas, que Donald Trump apresentou num comício segunda-feira em Atlanta que acabou com metade do público inicial. (ACOMPANHA TEXTO DE 29 DE OUTUBRO DE 2024). NUNO VEIGA/LUSA créditos: Lusa

"Vejo uma mudança, como já vi em 2016. Vejo políticas concretas para quem vive nos Estados Unidos. Contra a imigração? Não é contra, valoriza, isso sim, mais os norte-americanos. Mas a imigração que ele tanto critica é aquela que outros povos, em outros países, também criticam. Aqueles que não vêm para trabalhar, vêm apenas atrás de subsídios. Trump quer fazer de novo dos Estados Unidos um país que faça a diferença, algo que não tem acontecido com Biden. Não é o meu candidato ideal, não é, mas é alguém que quer fazer a diferença, Kamala não o fará. E não é por ser mulher, pois gostaria muito de ver uma mulher à frente da maior potência mundial, mas não esta mulher. É uma mulher de política Biden", concluiu.

"Se Trump era o meu candidato ideal? Não, sinceramente. Mas entre manter uma política que não tem feito crescer o país, a de Biden e Kamala, prefiro escolher alguém que possa fazer a diferença"Tatiana Vitória

As políticas de Trump para dentro e não para fora

Se na Califórnia a vitória não deverá escapar a Kamala Harris e na Flórida a Donald Trump, há estados ainda indecisos, um deles
Massachusetts. Neste estado está a cidade com mais portugueses nos Estados Unidos, concretamente Fall River, onde residem cerca de 40 mil cidadãos lusos.

As últimas projeções dão ligeira vantagem a Kamala Harris, mas Augusto Inácio, um reformado português de 72 anos, que pertence à Associação Académica de Fall River, não sabe mesmo quem ganhará.

"É mesmo muito difícil dizer quem está na frente ou quem vai vencer aqui e nas votações gerais. E é difícil porque as pessoas estão mesmo dividas. As pessoas não sabem se hão de votar numa política estagnada ou numa política demasiado agressiva, de Kamala e Trump, respetivamente", diz o antigo bancário, nos EUA desde os seus 16 anos.

Augusto Inácio diz que votará em Kamala, mas dia 5, na hora de fazer a cruz, admite que até poderia mudar.

"Se fosse outro candidato republicano, com estas medidas, ganhava facilmente. Mas as pessoas também sabem o que Trump é, o perigo que é, daí não haver uma distanciamento maior nas sondagens, para seu o lado"Augusto Inácio

"Vou votar em Kamala. Pensei muito, mas penso que estou decidido. E penso assim porque a cada comício, de um e de outro, as políticas que apresentam, as ideias, os insultos baratos, etc, fazem com que volte a pensar. Mas neste momento digo que vou votar em Kamala, no dia 5 espero manter esta ideia, porque fico preocupado se Trump vencer", diz.

Sondagens apontam para empate técnico entre Kamala Harris e Donald Trump
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E quais as grandes diferenças entre Kamala e Trump?

"Penso que são muitas, são políticas totalmente opostas. Se a de Trump, embora diga que quer resolver todos os problemas mundiais, as guerras na Ucrânia e entre Israel e o Hamas, se centra essencialmente nos EUA, no seu crescimento, são as políticas de Kamala que são mais abrangentes. Basta ver os milhões alocados dos democratas para as ajudas aos exterior, contra os poucos de Trump. E é por isso que as pessoas estão, desta feita, mais viradas para Trump. Se em 2016 havia uma saturação das políticas que Hillary defendia, agora há uma saturação das políticas exteriores. E Trump sabe disso, daí virar-se quase exclusivamente para medidas que ajudam os norte-americanos, resta saber se serão ou não assim. Penso que se fosse outro candidato republicano, com estas medidas, ganhava facilmente. Mas as pessoas também sabem o que Trump é, o perigo que é, daí não haver uma distanciamento maior nas sondagens, para seu o lado", referiu.