A lexicógrafa Ana Salgado da ACL, que falava aos deputados da comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, enumerou várias situações em que a ortografia confunde, e demonstrou como diferentes guias institucionais da língua portuguesa se contradizem.
"O guia da Imprensa Nacional - Casa da Moeda (INCM) não é conforme com o da Assembleia da República, por exemplo", disse Ana Salgado, que referiu ainda a existência de contradições em diferentes dicionários.
Ana Salgado disse que o documento de aperfeiçoamento do AO90 da ACL, divulgado no passado dia 27 de janeiro, sugere alterações à ortografia, como "uma alternativa" preferível à "confusão ortográfica atual".
O presidente da ACL, Artur Anselmo, que liderou a delegação hoje ouvida pela comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, disse aos deputados que o documento da academia é “indicativo e facultativo”.
"Em matéria de ortografia, nunca se dirá a última palavra", disse Anselmo, que defendeu que “a força da língua portuguesa está na sua diversidade”.
"O AO90 não é a Bíblia, é um acordo que deve ser melhorado", disse Artur Anselmo que acrescentou: "a academia brasileira já o fez sem 'dar cavaco' à ACL".
O responsável frisou aos deputados que a ACL "não foi ouvida" relativamente ao AO90. E defendeu que, em sua opinião este acordo se devia antes chamar “convenção ortográfica”.
A deputada socialista Gabriela Canavilhas, questionou qual razão de a ACL se ter colocado à parte neste processo, sublinhando que “a academia foi sempre parte do processo”.
Artur Anselmo respondeu: “Só falo de mim, do que conheço, o resto calo e esqueço”.
Acabou porém por dizer que, antes da sua chegada à presidência da ACL, esta não reunia o plenário, e que os pedidos ao Instituto de Camões de apoio financeiro para viagens a Cabo Verde, onde é a sede do Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), foram recusados com o argumento de falta de verbas.
Ana Salgado, por seu turno, informou que as diferentes mensagens de correio eletrónico, enviadas ao IILP “não obtiveram qualquer resposta”.
O escritor Manuel Alegre, também académico da classe de Letras, fez parte da delegação, secundou Artur Anselmo e lembrou que “o poder político não quis ouvir” a ACL.
Alegre afirmou que o AO90 suscitou a oposição de várias instituições e “da maioria dos escritores”, tendo citado os nomes de Vasco Graça Moura e de Sophia de Mello Breyner Andresen.
Referindo-se às propostas de alteração ao AO 90, dirigiu-se aos deputados e questionou: “Vamos ficar no erro e no disparate?”.
Para o ex-deputado socialista “esta unicidade ortográfica causa uma fratura geracional e leva a uma grande confusão”.
O académico Martim Albuquerque, que também fez parte da delegação, usando da palavra, realçou o facto de Angola e Moçambique não terem ainda ratificado o AO90.
Martim Albuquerque acusou o AO90 de fazer tábua rasa das raízes etimológicas da língua portuguesa.
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