Holandês, de 55 anos, a viver no meio rural espanhol, Joseph Brech foi detido este domingo "quando saiu para cortar lenha" numa zona montanhosa em Castellterçol, um município a 50 quilómetros a nordeste de Barcelona, indicou hoje a polícia espanhola num comunicado citado pela agência France-Presse (AFP).
As autoridades creem que Brech, um especialista em sobrevivência e montanhista experiente que já escalou o Monte Everest, matou Nicky Verstappen, um rapaz holandês de 11 anos que desapareceu há duas décadas, a 9 de agosto de 1998, num campo de férias no sul da província de Limburgo, na reserva natural de Brunssummerheide, junto à fronteira com a Alemanha.
O corpo de Verstappen foi encontrado um dia depois do desaparecimento junto ao local de campo, mostrando sinais de abuso sexual anteriores à sua morte. Segundo a polícia espanhola, Brech encontrava-se a trabalhar nesse campo de férias à data do desaparecimento.
Na altura, as autoridades fizeram buscas massivas e tanto os media como o público uniram-se em torno do caso. No entanto, o assassino manteve-se em fuga. Passados vinte anos, os desenvolvimentos tecnológicos na perícia forense permitiram dar um novo folgo à investigação, sendo que técnicas avançadas de análise de ADN levaram a polícia até Brech.
Após a detenção, o suspeito foi levado pela polícia para o tribunal de Granollers, Barcelona, onde foi interrogado por videoconferência pelos magistrados da Audiência Nacional, jurisdição espanhola a cargo dos processos de extradição com sede em Madrid.
Após o interrogatório, "a pessoa acusada aceitou a sua entrega à Holanda", indicou a Audiência Nacional à AFP. Brech aguardará a extradição em prisão preventiva e sem fiança, pelo risco de fuga. O suspeito foi acusado de homicídio, agressão sexual e sequestro, e poderá ser condenado a prisão perpétua, acrescentou o tribunal.
Uma cadeia que deu em cadeia
Depois de a polícia o sinalizar-lo como suspeito, os investigadores holandeses fizeram um apelo público no qual partilharam fotografias de Brech. Um holandês a viver em Espanha reconheceu o homem nas fotografias e avisou o jornal 'De Telegraaf', que por sua vez contactou a polícia.
Segundo o colobarador, que pediu para não ser identificado, Brech "estava a viver numa tenda na floresta" junto a uma casa abandonada e isolada onde moram várias pessoas sem abrigo. O mesmo holandês contou ao 'De Telegraaf' que Brech justificou aquelas condições porque "gostava de viver junto à natureza".
Descrito como um especialista em sobrevivência, Brech dispunha de instrumentos de pesca, um livro sobre plantas silvestres comestíveis, baterias e envelopes de comida desidratada na altura da sua detenção.
Numa fotografia divulgada pela polícia espanhola, Brech encontra-se virado para baixo numa estrada de terra com as mãos algemadas atrás das costas e um agente a controlá-lo.
A mãe de Nicki, Berthie Verstappen, revelou que a família não estava à espera que a detenção ocorresse tão rapidamente depois do apelo da polícia na semana passada. À televisão pública holandesa acrescentou, no passado domingo, que temiam que "ele [Brech] se tivesse escondido tão bem que não pudesse ser encontrado durante meses. Adorávamos obter respostas às perguntas que temos, mesmo que receemos saber o que se passou".
A solução estava no ADN
Este foi um caso altamente mediático na sociedade holandesa e recorrente nos meios de comunicação do país nas últimas duas décadas.
O caso, deixado em aberto, teve grandes desenvolvimentos com o uso de novas técnicas digitais que ajudaram a polícia a criar um perfil de ADN em 2008 a partir de vestígios encontrados na roupa de Verstappen.
Na altura, não foram encontradas correspondências. Em fevereiro passado, a polícia pediu a 21.500 homens para doar amostras de ADN para circunscrever as hipóteses. Deste grupo, 16,000 viveram na zona onde Verstappen foi assassinado e aceitaram dar as amostras.
A polícia ficou desconfiada quando descobriu que Brech não se encontrava entre os voluntários, pois até já o tinha entrevistado enquanto testemunha à altura da investigação original. Quando a sua família o deu como desaparecido em abril, membros das polícias francesa e belga fizeram uma busca à sua cabana localizada na região montanhosa de Vosges, em França.
Como resultado dessa investigação, encontraram vestígios de ADN nos seus pertences que correspondiam com as amostras encontradas na roupa de Verstappen. Um mandado de busca a nível europeu foi consequentemente emitido a 12 de junho.
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