Teerão anunciou esta semana a decisão de retirar 27 câmaras que permitiam que inspetores internacionais monitorizassem as suas atividades nucleares, em resposta a uma resolução dos países ocidentais que denuncia a sua falta de cooperação com a agência da ONU.
“Enquanto falo convosco, é isso, essas câmaras foram removidas”, “juntamente com outros sistemas de vigilância ‘online’ que tínhamos”, disse o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, numa entrevista transmitida pela estação de televisão norte-americana CNN.
É “muito, muito grave”, enfatizou e acrescentou: “A história recente ensina-nos que nunca é bom começar a dizer aos inspetores internacionais: ‘vão para casa'”.
Grossi pediu aos líderes iranianos que “voltem à mesa de negociações imediatamente”.
“Devemos remediar esta situação, devemos continuar a trabalhar juntos”, insistiu, porque “a única maneira de o Irão ganhar a confiança de que tanto precisa para que sua economia prospere”, é permitir “a presença de inspetores da AIEA”.
Rafael Grossi explicou que, sem as câmaras, a agência em breve não poderá dizer se o programa nuclear do Irão continua “pacífico” — em outras palavras, ninguém pode garantir que o Irão não esteja a fabricar uma bomba atómica.
E mesmo que os iranianos voltem a ligar as câmaras dentro de alguns meses, o que fizeram durante esse período permanecerá em segredo, o que pode tornar inútil qualquer acordo que enquadre as suas atividades.
No entanto, este novo aumento das tensões ocorre num momento em que os Estados Unidos e as outras grandes potências estão a tentar, com o Irão, salvar o acordo de 2015 que deveria impedir que a República Islâmica adquirisse aquele tipo de armas.
“Ao tomar essas decisões, tornamos extremamente mais difícil o relançamento de um acordo”, alertou o chefe da AIEA.
Os Estados Unidos deixaram o acordo em 2018 sob a Presidência de Donald Trump, que o considerou insuficiente e restaurou as sanções económicas contra Teerão, que em resposta se libertou das principais restrições às suas atividades nucleares.
O atual Presidente dos EUA, Joe Biden, disse que está pronto a regressar ao acordo na condição do Irão renovar os seus compromissos.
Mas as negociações esbarram em obstáculos e parecem mais perto do que nunca do fracasso.
Num contacto no sábado com o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Hossein Amir-Abdollahian, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, também pediu “diplomacia bem-sucedida” para salvar o acordo, segundo um comunicado divulgado hoje.
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