José Pedro Aguiar Branco falava aos jornalistas à margem da conferência promovida pela Academia Nossa Europa, ligada ao Instituto Jacques Delors, no quadro do programa “Jacques Delors Agora, A Próxima Geração na Europa”, que reúne em Lisboa, até quinta-feira, 130 jovens de cerca de 30 países, na presença de altos representantes da União Europeia (UE).
“Acho que tudo preocupa, todas as ideias mais extremistas devem preocupar, mas, repito, a forma de poder combater os populismos, de poder combater as ideias mais radicais, é precisamente criar as condições de melhor governação, de poder satisfazer aquilo que são os interesses e as necessidades das pessoas, e neste caso os mais jovens, de haver mais oportunidades para se poderem realizar do ponto de vista do trabalho, do ponto de vista de poderem também criar estruturas do seu próprio desenvolvimento mais sólidas”, sustentou.
Instado pela agência Lusa a comentar o facto de esse tipo de discurso estar a ser utilizado há mais de uma década, apesar dos sucessivos alertas contra os populismos, Aguiar Branco admitiu que sim, mas defendeu que “a democracia pode demorar muito tempo”.
“Só com o debate, com a discussão e com o confronto de ideias é que se vai lá. Eu não sei qual é a outra modalidade em democracia para se poder criar as condições de as nossas ideias poderem ser aquelas que levam às maiorias. É com o confronto de ideias, é com o debate, é com participação, é com a aproximação dos eleitores, dos eleitos, é com iniciativas deste género”, respondeu.
“Pode demorar mais um ano, mais dois ou mais três, mas é a única metodologia aceitável para que nós possamos, num clima de paz, e de respeito para o outro, levar de vencida as nossas ideias. Não há outra forma. Ou seja, não é pelo silenciamento, não é por não dar liberdade de expressão, não é por nós não podemos confrontar as ideias que podemos afirmar a democracia. É precisamente pelo contrário. A democracia dá muito trabalho”, prosseguiu.
Aguiar Branco disse que construir a democracia é fazer intervenção cívica todos os dias, mas voltou a admitir erros no passado.
“Por vezes, se calhar, no passado, achou-se que as sociedades de bem-estar, que já não era necessário tanta intervenção cívica, e tanto trabalho para podermos construir diariamente a democracia. Talvez os dados fossem adquiridos, achava-se que a liberdade ou a democracia eram dados adquiridos. Não é. A história mostra que assim não é, mas obriga-nos a quê? A mais participação, a mais intervenção, tal como estamos aqui hoje a fazer”, sustentou.
“É a única forma que nós temos em democracia de poder levar as pessoas a se reverem nas dimensões mais moderadas, e é esse o esforço que a União Europeia seguramente fará, e que também parlamentos como o nosso farão, e que eu próprio, alinhando numa dimensão mais, diria, centrista das coisas, também me esforçarei por fazer”, concluiu o Presidente da Assembleia da República portuguesa.
A União Nacional (Rassemblement Nationale, no original francês) foi o partido mais votado na primeira volta das eleições legislativas francesas de domingo, com 33% dos votos, à frente da coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP, 28,5%) e dos centristas Juntos pela República, que integra o partido do Presidente Emmanuel Macron (22%).
A segunda volta das eleições legislativas decorre no próximo domingo, 07 de julho.
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