“A iniciativa política, neste momento, é ser mais vigilante e esperar um desgaste mais acentuado do Governo, que não vai conseguir autorregenerar-se”, disse o governante insular, sublinhando que a “capacidade de recrutamento e de rejuvenescimento” do primeiro-ministro se esgotou.
“Acho que é um Governo a prazo e um Governo que não se consegue reformular”, salientou.
Miguel Albuquerque falava aos jornalistas à margem de uma visita a uma empresa do setor da saúde, no Funchal, onde reagiu à comunicação do Presidente da República ao país.
Marcelo Rebelo de Sousa prometeu que estará "ainda mais atento e mais interveniente no dia a dia" para prevenir fatores de conflito que deteriorem as instituições e "evitar o recurso a poderes de exercício excecional".
O governante insular, que lidera o executivo de coligação PSD/CDS-PP, considera, por isso, que “a iniciativa política voltou a ser do Presidente da República”, vincando que a expectativa do primeiro-ministro, o socialista António Costa, era que Marcelo Rebelo de Sousa procedesse à dissolução do parlamento e estivesse agora “acantonado”.
“O Presidente não nasceu ontem para a política. Ele sabia que na atual situação, caso houvesse eleições antecipadas e ele não tivesse uma alternativa clara, quem ia ficar encostado à parede era o próprio Presidente”, disse, para logo acrescentar: “Não estou a ver o Presidente ter essa capacidade de masoquismo, de se autoflagelar e de se acantonar a um canto.”
Miguel Albuquerque considerou, por outro lado, que a “clivagem” entre Belém e São Bento vai acentuar-se, porque Marcelo Rebelo de Sousa assumiu uma “divergência de fundo” com António Costa.
“O primeiro-ministro ou reinventa o Governo, o que é difícil, ou faz uma reestruturação do Governo, o que também é difícil, porque a capacidade de recrutamento e rejuvenescimento político está a esgotar”, avisou, sublinhando que “ninguém quer ir para este Governo”, que diz estar “baseado no aparelho do partido”.
Albuquerque disse, por outro lado, que a comissão de inquérito à TAP tem funcionado como “uma torradeira do Governo”, apesar da sua maioria absoluta.
“O primeiro-ministro tem de mandar no Governo e tem de evitar erros, porque tolerância da própria opinião pública relativamente a esta situação é muito limitada”, afirmou.
Na comunicação ao país a partir do Palácio de Belém, em Lisboa, na quinta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que não deseja usar os poderes que a Constituição lhe confere para interromper a governação, mas frisou que não abdica deles.
O chefe de Estado qualificou a sua discordância em relação à decisão do primeiro-ministro de manter João Galamba como ministro das Infraestruturas como uma "divergência de fundo" e considerou que essa decisão de António Costa tem efeitos "na credibilidade, na confiabilidade, na autoridade do ministro, do Governo e do Estado".
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