Tem 29 anos e nasceu em Oeiras, para onde foi morar aos três anos, chegado de Itália, com a mãe, a irmã e o irmão mais velhos, depois da morte prematura do pai. "A minha ligação a Oeiras é como a de tantos, os meus avós maternos vieram da província", ela de Valpaços, Trás-os-Montes, ele do Alto Ribatejo. "Oeiras era um concelho pobre nos anos 60", conta Alexandre Poço.
Estudou e viveu em Porto Salvo, fez o liceu e o secundário em Paço de Arcos, nas piores escolas do concelho, a Joaquim de Barros e a Luís Freitas Branco, "que eram escolas agressivas, mas onde se crescia muito". Jogou futebol, foi guarda-redes, fez caiaque e foi acólito, "cheguei a ir a três missas num dia". Hoje diz-se um mau católico por não ser praticante assíduo.
Foi para a política porque cedo ganhou consciência das dificuldades, aos dez ou onze anos já sabia o que era a dificuldade de ter de pagar a conta da água ou da luz. Escolheu o PSD porque "acredito que a política tem de conseguir mudar a vida das pessoas e os sociais-democratas afirmavam-se como o partido do elevador social, que hoje não estamos a conseguir ser".
No percurso académico licenciou-se em Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa e fez um mestrado em Gestão na mesma instituição, mas na faculdade de Economia, então ainda em Campolide. Depois esteve cinco anos na PwC, e através da empresa foi "várias vezes a África fazer trabalho de consultoria e ninguém é livre ali, "porque ninguém é livre a viver num mar de pobreza".
Quando Alexandre Poço nasceu, em 1992, já Isaltino Morais estava no final do seu segundo mandato, e, quando entrou para o partido, em 2009, já Isaltino tinha deixado o PSD. "Já não sou de uma geração de militantes e dirigentes que viveu ou tem memória de Isaltino como um histórico, um nome forte do partido".
Há quatro anos candidatou-se em coligação com o CDS e o PPM, teve 8,77% (7 216 votos), num cenário de várias candidaturas à direita, além da de Isaltino Morais. Este ano aparece com uma campanha diferente. "A política é demasiado séria para que tudo seja indiferente, estou farto de campanhas que têm ótimos programas eleitorais, mas a quem ninguém liga, não geram amor nem ódio. E esta é uma campanha a que ninguém fica indiferente", diz. A sessão de fotografias, das quais ainda só vimos metade, durou quatro horas.
Alexandre Poço não finge: "Oeiras tem um desenvolvimento ímpar", mas "candidato-me com a firme convicção de que precisamos de começar a pensar o futuro de Oeiras hoje". E foi sobre o futuro que falou ao SAPO24 na sede da JSD em Oeiras, um edifício inaugurado em 1996 por Isaltino Morais e por Marcelo Rebelo de Sousa, então líder do PSD.
É mais difícil estar em campanha eleitoral ou estar na Assembleia da República?
São tempos e circunstâncias diferentes. Estar na Assembleia da República tem a intensidade própria do nosso trabalho parlamentar, que também tem alturas bastante intensas, como quando estamos a discutir e a aprovar ou reprovar o Orçamento do Estado. A campanha eleitoral é limitada no tempo e nos recursos, temos de mostrar o que queremos fazer no mais curto espaço de tempo e da melhor maneira possível. Obviamente exige bastante dos candidatos. Há quem diga que as campanhas políticas são quase como startups, tendo em conta que o objetivo é continuar e prosperar. Construímos uma pequena estrutura e a partir dela vamos crescendo, até ao dia em que os resultados são avaliados, que é o dia das eleições.
Com que espírito se parte para uma campanha num concelho que tem à frente da câmara um homem que já esteve 28 anos no cargo?
Parte-se como penso que se deve partir para tudo na vida, de cabeça erguida, com alegria, com espírito positivo e com vontade de fazer o melhor que esteja ao nosso alcance. Em segundo lugar, como em tudo na vida, não há impossíveis. Por mais que a circunstância eleitoral seja difícil, por mais que eu reconheça que os anos têm demonstrado que Isaltino Morais é imbatível — vai para o nono mandato — em democracia também se jogam outras coisas, como a representatividade e a força política dos restantes candidatos, senão mais valia fazer um despacho.
Se for eleito vereador vai acumular o cargo com a função de deputado à Assembleia da República?
Neste momento o meu foco é preparar as eleições de 26 de setembro, mas há uma coisa que posso dizer, as pessoas poderão contar com um político a tempo inteiro. Há quatro anos fui candidato a uma junta de freguesia e estou há quatro anos na minha Assembleia de Freguesia a fazer oposição ao executivo do Partido Socialista na freguesia de Porto Salvo. Desde 2019 estou como deputado à Assembleia da República e não foi por isso que abandonei as minhas responsabilidades autárquicas. Sabendo que a responsabilidade que se exige a um vereador é diferente daquela que se exige a um membro de uma assembleia de freguesia, os cidadãos de Oeiras que estiverem a votar na minha candidatura estarão a votar em alguém que tem um compromisso com o concelho para os próximos quatro anos. Até vou mais longe, não é só para os próximos quatro anos, tendo em conta a minha idade posso assumir o compromisso...
De ser, pelo menos, para mais nove mandatos?
[Ri] Não sei se será para nove mandatos, mas há esse compromisso da minha parte, quem votar na coligação "A dar tudo por Oeiras" saberá que pode contar comigo para os próximos quatro anos e para o futuro, que é preciso começar a preparar. Neste momento a minha prioridade é esta candidatura, mas não descuro as minhas responsabilidades no Parlamento. Já no decurso desta candidatura várias vezes tomei posições relativamente a questões nacionais em áreas políticas às quais estou mais dedicado, nomeadamente os temas relacionados com a juventude. Ainda esta semana, durante um dia de campanha, tive de reagir a declarações do primeiro-ministro no Congresso do PS a propósito do IRS jovem, tendo em conta que o PS chumbou uma proposta da JSD no Orçamento do Estado para 2021 que continha as medidas que agora anuncia. Temos de ter a capacidade de perceber que os desafios acarretam consequências.
O PS chumbou uma proposta da JSD no Orçamento do Estado para 2021 que continha as medidas que agora anuncia.
Falou em áreas a que está mais ligado na Assembleia da República. Pode descrever o que tem sido a sua atividade como deputado ao longo destes quase dois anos?
Há uma realidade à qual estamos sujeitos e que impacta de forma brutal o exercício do cargo no mandato, que é a pandemia. Quando fui eleito, em outubro de 2019, não tinha noção de que viveria um tempo histórico na nossa democracia, não sabia que ia ser um dos deputados que aprovaram sucessivos estados de emergência. Iniciámos o ano de 2020 com determinada perspetiva macroeconómica, mas também o quadro das políticas públicas para o país nos próximos anos foi severamente alterado. No exercício do cargo também teve implicações, estamos com um regime de rotatividade nos plenários, não podemos estar todos dentro das salas das comissões e o acesso é restrito: entrar, falar e sair para dar lugar ao seguinte. A nossa capacidade de fazer deslocações para falar com pessoas ficou limitada, mesmo com muitas reuniões via Zoom, há um impacto grande. Por exemplo, uma iniciativa que comecei em novembro de 2019, receber grupos de jovens na Assembleia da República, ficou sem efeito, porque não são permitidas visitas de grupo. Mas há um sentimento de que 80% a 90% daquilo que fazemos está direta ou indiretamente relacionado com a pandemia. Não é o que eu queria fazer, estar a pensar só em políticas de combate à pandemia ou de minimização dos impactos da pandemia.
Quando fui eleito não tinha noção de que viveria um tempo histórico na nossa democracia, não sabia que ia ser um dos deputados que aprovaram sucessivos estados de emergência.
Qual a proposta que lhe deu mais gozo apresentar ou fazer aprovar?
Há propostas diversas propostas que tive orgulho em defender, mas vou destacar uma em especial: pelo segundo ano consecutivo preparávamo-nos para estar na iminência de milhares de alunos do secundário não poderem realizar exames internos de melhoria de nota, porque o PS e o governo decidiram continuar com a restrição. Se, no primeiro ano, mesmo com reservas, demos a mão ao governo por se tratar de uma situação nova, agora não havia justificação para essa limitação continuar. E foi um decreto-lei feito por mim e pelos deputados da JSD que permitiu que este ano milhares de alunos tenham tido a possibilidade de fazer exame de melhoria de nota. Ainda não tenho números, já questionei o Ministério da Educação, para termos a noção de quantos alunos puderam fazer o exame de melhoria de nota, que, por sua vez, lhes permitiu subir a nota de acesso ao ensino superior. Também podia falar da proposta que fizemos para revolucionar o mercado da habitação, o Porta 65, que foi chumbada no Orçamento do Estado, como são chumbadas muitas das nossas propostas pela maioria de esquerda.
Foi um decreto-lei feito por mim e pelos deputados da JSD que permitiu que este ano milhares de alunos tenham tido a possibilidade de fazer exame de melhoria de nota.
Há uma mala pata contra as juventudes partidárias e o carreirismo político. Como líder da JSD, o que tem a dizer sobre isto?
Para começar, somos um país muito engraçado: ou lamentamos que os jovens não querem saber da política, só querem saber das suas vidinhas e não têm qualquer tipo de interesse coletivo, ou quando eles participam é porque se querem entregar ao carreirismo, porque provavelmente são uns inúteis e precisam da juventude partidária para se safar na vida. Muitas vezes as pessoas não saem desta dicotomia, entre o "não quer saber" e o "seguiu o percurso do Mal".
Como chegou à juventude partidária do PSD?
Vim duas vezes bater à porta desta sede, que estava fechada, e acabei por falar com um amigo que sabia que era da JSD e estudava na minha escola secundária, em Paço de Arcos. Contei-lhe isto e ele lá me explicou que as sedes partidárias, por norma, estão fechadas durante o dia e é à noite que há reuniões. A esmagadora maioria dos jovens que conheço não aparece logo com um CV na mão a dizer "estou aqui disponível para fazer assessoria". Sinto que tenho a missão de dizer isto. A realidade que conheço da maioria dos jovens que estão na JSD, e sei que a realidade não é muito diferente nas outras juventudes partidárias, é a de pessoas que estão a fazer o seu ensino secundário, a fazer o seu ensino superior, a iniciar a sua carreira profissional e têm uma atividade cívica. Penso que temos a responsabilidade de desmistificar preconceitos. Não é jogatana, não é uma associação de malfeitores, não é uma associação mafiosa, não tem fins negativos para a sociedade. É uma estrutura de jovens que querem fazer política no espaço da democracia. Esta não é uma realidade única de Portugal, não somos uns aliens. Os partidos encontraram uma forma de criar estruturas juvenis para que os seus jovens quadros pudessem participar no fenómeno político, ter eleições, apresentar propostas, ter escolas de formação. Igual ao meu percurso há "n". Ganhei as eleições na concelhia de Oeiras quando estava no início do meu mestrado na Nova de Economia, a seguir ganhei as eleições na distrital de Lisboa e era consultor na PwC, quando fui eleito presidente da JSD e já era deputado à Assembleia da República. Não ganhei a concelhia porque era assessor do ministro, não ganhei a distrital porque trabalhava na Presidência da República, nem cheguei a líder da JSD quando era ministro da Educação. Sim, há casos que nos envergonham, pessoas sem currículo que aparecem em determinados cargos.
Vamos então falar de Oeiras. Mora no concelho?
Vivo em Oeiras desde sempre. Nasci em Oeiras há 29 anos, em 1992. Só não vivi cá nos três primeiros anos de vida, porque os meus pai viviam em Itália, mas desde 1995 que vivo aqui, primeiro em Porto Salvo, desde o início deste ano muito perto do sítio em que nos encontramos, no centro da vila. É comum vir a pé para as reuniões partidárias.
Vive aqui há 26 anos. O que falta a Oeiras, o que é que Oeiras não tem?
Gosto muito de viver em Oeiras e não digo em campanha eleitoral coisas que não sinto sobre o meu concelho. Tenho um grande orgulho em ser de Oeiras, faço uma avaliação positiva daquela que foi a evolução do concelho ao longo das últimas décadas, é um concelho que tem um elevado nível de bem-estar socioeconómico, mas é também um concelho que tem alguns problemas para resolver.
Que problemas?
Vou dizer-lhe antes o que é que Oeiras tem de ter no futuro. Aquilo em que acredito é que o nosso concelho passou por duas fases. A primeira ocorreu entre os anos oitenta e o início dos anos 2000, de planeamento, de estratégia, de infraestruturação, de capacitar o concelho com serviços básicos que não tinha, de resolver problemas sociais gravíssimos, por exemplo ao nível do alojamento e das barracas, que eram uma mancha no concelho. A segunda foi de atração de investimento, de empresas, conseguir que a sua população fosse uma população com elevado poder de compra. Agora precisamos de uma terceira.
E que fase é essa?
Hoje estamos numa fase que acredito que pode ser e quero que seja o meu partido a liderar, a fase do futuro, da transformação daquilo que são as políticas públicas naquilo que deve significar uma mudança na vida das pessoas. A visão que tenho para Oeiras é de que já não basta ser líder a nível nacional — habituámo-nos, ao longo das últimas décadas, a conseguir superar Lisboa, Cascais, Porto em muitos indicadores, num país que está estagnado —, é possível conseguir ter políticas que transformem a vida das pessoas, que coloquem o elevador social a mexer, que garantam que uma pessoa que nasce num meio pobre não está condenada à pobreza na sua vida. Hoje, o desafio que se coloca a Oeiras é olhar para a sua população e perceber que áreas ainda não estão lá.
Quais são? É isso que quero que me diga.
Podemos falar de algumas. Temos um problema grave, que é a dificuldade que as famílias têm no acesso a uma rede de creches. Sabemos que a procura é superior à oferta e sabemos que muitas famílias desesperam para conseguir encontrar uma vaga a custos que consigam suportar no seu orçamento familiar. Entendo que o município tem aqui uma responsabilidade de criar uma rede de resposta privada, social e pública que permita aumentar a disponibilidade de vagas. Temos um problema de habitação, que se prende não só com uma valorização imobiliária no concelho, mas que se deve a dois factos: procura e oferta. A procura de habitação em Oeiras é maior do que a oferta que existe, e os preços, naturalmente, tendem a subir.
E o que pode o município fazer para controlar essa subida? Tem uma estratégia?
Quando estamos no processo de aquisição de uma casa, pagamos um série de taxas e de impostos que penalizam o preço final, e um dos compromissos da minha candidatura é garantir que exista uma isenção do IMT para um jovem que compra a sua primeira habitação. Estamos a falar de alguns milhares de euros de imposto. Temos de ter incentivos ou benefícios fiscais para quem vai comprar casa, mas também temos de conseguir aumentar muito a oferta para quem quer arrendar. O município tem ainda em Oeiras um conjunto de imóveis, e acredito que deve investir muito em tudo o que seja o parque habitacional devoluto, conseguir reconverter o máximo possível para disponibilizar habitação, por exemplo, para jovens. Sabemos que no âmbito do PRR são prometidos milhares de casas por todo o país. Tenho as minhas dúvidas da sua concretização, mas, focando-me em Oeiras, um problema premente é a dificuldade de arrendar para pessoas da minha geração. Uma política que podia ser revolucionária, e que podia pôr Oeiras a dizer que era o primeiro concelho do país a fazê-lo, era transformar todos os prédios devolutos em habitação jovem. Prefiro que seja o município a assumir esse compromisso do que esperar por aqueles programas que existem a nível nacional e que não funcionam.
Que programas?
Por exemplo, o programa Porta 65, apoio ao arrendamento jovem, não funciona. O programa arrendamento acessível, já vamos na segunda secretária de Estado da Habitação a admiti-lo, não funciona. E devíamos conseguir desenvolver a nível nacional algumas soluções mais criativas no mercado de aquisição a crédito para jovens. Por exemplo, para dar uma entrada é preciso ter capacidade poupança, que não existe. Temos de pensar em soluções criativas com o sistema financeiro para garantir que, quando um jovem não tem 10 mil, 15 mil ou 20 mil euros, consegue acesso a financiamento, que não pode ser a uma situação de descontrolo de financiamento a 110%, 120% e 130% que se fazia há alguns anos. O Reino Unido está a avançar com algumas soluções no âmbito daquilo a que chama a capacidade de dar uma entrada, para que os jovens não tenham de ficar dependentes da ajuda dos pais. Há seis anos, desde que o governo de esquerda tomou posse, que oiço dizer que vão revolucionar a habitação e acabar com o período medieval, o período das trevas de gestão da habitação do PSD-CDS. Mas ainda não vi nada.
Afirmou que tem dúvidas em relação ao PRR. Pode especificar?
Sabemos que no âmbito dos fundos europeus temos uma camada de atores intermédios e que o dinheiro acaba por não ter impacto real na economia. Sabemos que o PRR vai ser muito canalizado para alguns investimentos que temos vindo a adiar há algum tempo ou então para o Estado. A nossa crítica é que, se precisamos de começar a convergir com a União Europeia, a garantir melhores salários, a ter um tecido empresarial mais forte, esses recursos deviam ser colocados à disposição das empresas. Não foi essa a opção do governo. Veremos os resultados desta regularização de investimentos prometidos — o investimento público foi tão baixo nos últimos anos que agora é preciso colmatar com o PRR. Há uma significativa disparidade entre aquilo que são os recursos do PRR alocados ao Estado e aquilo que são os recursos alocados à economia e ao setor privado. Mas, claro, há o resultado de uma propaganda que nos é dita todos os dias na televisão... Até a expressão do primeiro-ministro, "bazuca", parece indicar que vamos ter helicópteros espalhados pelas terras de Portugal a distribuir dinheiro às pessoas. Essa não vai ser a realidade, as candidaturas demoram tempo, os projetos de execução demoram tempo, há uma grande burocracia para ter acesso a estas verbas. Acredito que, mais uma vez, veremos a nível local quais são os autarcas mais dinâmicos.
Até a expressão do primeiro-ministro, "bazuca", parece indicar que vamos ter helicópteros espalhados pelas terras de Portugal a distribuir dinheiro às pessoas.
Falou em burocracia, eu podia falar-lhe em taxas e taxinhas cobradas...
Esse não é um problema de Oeiras, é um problema geral do Estado, para o qual teremos de olhar com atenção mais tarde ou mais cedo. Acredito que se há algo que a minha geração vai ter como uma das suas principais responsabilidades é simplificar muito as coisas; não precisamos de ter "n" taxas, "n" requerimentos, "n" formulários, autênticos universos kafkianos para cidadãos e empresas. As taxas municipais são muito o reflexo de uma administração pública em que parece que o que importa é mostrar que se está a fazer em vez de se fazer. Cada geração tem as suas circunstâncias, não gosto nada de guerras de gerações, tenho mesmo repulsa a esses discursos políticos, mas acredito que há fatores que as caracterizam. Hoje consigo abrir uma conta bancária com recurso a uma aplicação no telefone, fazendo face ID ou anexando o cartão de cidadão. Estamos a viver um mundo que vai ser acelerado pela chegada do 5G — vamos ver quando chega a Portugal —, e vai ser preciso simplificar muita coisa na máquina do Estado. É um trabalho que não foi feito, mas temos de simplificar a relação do Estado com os cidadãos. Se temos um Estado que nem na comunicação que faz por carta ou email é inteligível, é fácil compreender que atingimos um ponto em que temos de rever os nossos fundamentais.
Uma das promessas da sua campanha é trazer a Web Summit para Oeiras. A câmara de Lisboa pagou pelo menos 8,4 milhões de euros pelas edições de 2019 e 2020. O que é que a Web Summit dá em troca?
A proposta da Web Summit não é desgarrada, vem de uma leitura política que faço do concelho. O concelho estabeleceu-se nas últimas décadas como o concelho das grandes empresas, temos diversos parques empresariais. O que não associamos a Oeiras é um concelho de empreendedores.
Apesar do Oeiras Valley?
Apesar do Oeiras Valley, que é uma marca que o município está a tentar implementar, ainda não associamos Oeiras ao empreendedorismo. A proposta da Web Summit faz parte de uma ambição política da minha candidatura, que é olhar para o concelho e pensar: se o concelho foi capaz de passar de ser um concelho pobre, de barracas, para um concelho que tem no seu território um conjunto de indústrias, de parques empresariais com empresas das mais sofisticadas, que geram mais valor a nível mundial, então tem de ter capacidade para ser o concelho daqueles que arregaçam as mangas e criam o seu negócio. Uma das nossas apostas é que Oeiras crie uma estrutura de incubação, aceleração e monitorização de negócios, ou seja, que quem quer criar o seu negócio não o faça em Oeiras por ser um concelho bonito, com uma frente marítima lindíssima, mas porque tem uma estrutura de acompanhamento. Queremos que Oeiras atraia empresas que querem estabelecer-se em Portugal e que são uma referência internacional, farmacêuticas, tecnológicas, mas também que esteja no radar dos que querem começar o seu negócio do zero. Outra proposta associada a esta é a criação de um grupo de investidores de Oeiras. No limite, é a concretização do chavão Oeiras Valley. Sobre o preço da Web Summit, se o município teve 600 mil euros para gastar num obelisco...
Mas o facto de alguém gastar mal dinheiro, se é essa a sua opinião, não quer dizer que gastar mal ainda mais seja positivo.
[Ri] O meu ponto é que acredito que o município tem capacidade financeira para conseguir ser palco de uma montra de grandes feiras internacionais, entre elas a Web Summit, mas não só. E temos parado há mais de dez anos o centro de congressos de Oeiras, ao pé da Quinta da Fonte, por exemplo.
Acredito que o município tem capacidade financeira para conseguir ser palco de uma montra de grandes feiras internacionais, entre elas a Web Summit, mas não só.
É mesmo necessário construir novas estruturas tendo Oeiras tantos palácios e palacinhos ao abandono?
Acredito que as coisas não se excluem. É preciso fazer essa requalificação, e até temos prioridades para alguns desses palácios. A opção de fazer um centro de congressos, que não existe, é uma opção que considero correta, mas não em detrimento de. Acredito que o Palácio do Marquês de Pombal poderia dar origem a um museu e a um centro interpretativo sobre o primeiro conde de Oeiras e Marquês de Pombal. Oeiras devia criar um grande museu nacional de homenagem, de compreensão do seu legado, à figura do Marquês de Pombal. Por outro lado, também viveu em Oeiras Cesário Verde, e temos no nosso programa a construção de uma Casa Museu Cesário Verde. Considero o investimento na cultura uma prioridade, daí querermos criar uma residência para jovens artistas que se queiram fixar em Oeiras. E, atendendo à situação excecional que se vive na cultura, e porque o município tem recursos financeiros, queremos dar um voucher de 500 euros a cada jovem de 20 anos para comprar espetáculos, música, livros. Acredito que é uma política de uma nova fase na nossa organização enquanto sociedade.
E, atendendo à situação excecional que se vive na cultura, e porque o município tem recursos financeiros, queremos dar um voucher de 500 euros a cada jovem de 20 anos para comprar espetáculos, música, livros.
Sabe quantos vouchers teria de entregar?
Sim, cerca de 1500 a 2000. É uma medida que tem alguma inspiração no presidente Macron, que adotou agora essa política — melhor do que o IVAucher, que acho que vai ser um barrete voucher. Quando vi que o custo de montar o programa era de 7 milhões, num orçamento de 200, comecei logo a perceber que aquilo ia dar para o torto. Mas considero que temos de começar a ter este tipo de políticas, é uma aposta clara do município na educação, na formação pessoal dos cidadãos.
Oeiras tem cinco ou seis universidades e institutos. Mas tem falta de residências para estudantes. Tem uma solução pensada?
Aí o município deve fazer aquilo que o governo não está a fazer. Temos um Plano Nacional de Alojamento para o Ensino Superior — é daquelas promessas socialistas — que prevê mais de 20 mil camas nos próximos anos. Sabemos que o plano está atrasado, o ministro Manuel Heitor não o admite, mas basta andar pelo país. Quando o Estado não faz, o município deve ter a capacidade de o fazer. Mas também sabemos que este é mais grave em Lisboa. Numa ótica de pensamento metropolitano, no entanto, até podia ser uma boa aposta do município.
Já criticou o PS e as políticas do governo diversas vezes. Se o PS é assim tão mau, porque é que continua a ganhar eleições?
Isso são os portugueses a decidir, quanto mais tempo ficará o PS no poder.
A oposição não tem nada a ver com o assunto?
A minha análise é que não podemos viver obcecados com as sondagens, mas temos de ter capacidade analítica séria e perceber que há tendências. Não sou indiferente às tendências que as sondagens mostram, mesmo podendo acreditar que uma ou outra seja martelada. E a tendência mostra que o PSD tem tido dificuldade em afirmar-se como alternativa ao Partido Socialista. Somos o maior partido da oposição, mas estamos com dificuldade em conseguir gerar adesão àquela que é a nossa alternativa. Ou seja, penso que a responsabilidade é nossa. Temos de ser mais eficazes na comunicação das falhas do governo, temos de ser uma oposição combativa, o que não quer dizer que sejamos uma oposição irresponsável. Acredito que há uma parte essencial que ainda precisamos de fazer.
Que pastas gostaria de ter para si na câmara de Oeiras?
Isso implicava poder hoje falar sobre aquilo que será a decisão dos oeirenses e depois saber se o PSD terá ou não pelouros no futuro executivo municipal. Penso que é uma assunto extemporâneo. Uma coisa é certa, comigo podem contar com uma oposição construtiva. Não irei fazer bota-abaixo, nem política de terra queimada, mas também não serei um yes-man.
Comigo podem contar com uma oposição construtiva. Não irei fazer bota-abaixo, nem política de terra queimada, mas também não serei um yes-man.
"Por que raio devo votar Poço?" [frase de campanha]
Essa pergunta é boa. Muito simples: quem não quiser votar em Isaltino Morais tem de fazer uma escolha. Acredito que votar Poço é votar "dar tudo por Oeiras", votar numa alternativa de futuro e num programa ambicioso para os próximos dez, vinte, trinta anos. Porque tenho a firme convicção de que precisamos hoje de começar a pensar o futuro de Oeiras.
[Artigo atualizado às 13h21]
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