Estas posições foram defendidas por António Costa em entrevista ao jornalista Miguel Sousa Tavares no Jornal das 8 da TVI, durante a qual reiterou que a ministra da Saúde, Marta Temido, tem confiança política reforçada e sustentou que, até agora, o SNS "não falhou em nada" na resposta à covid-19.
"Se conseguirmos controlar a situação, como temos neste momento - onde praticamente ainda temos uma capacidade de metade das camas de cuidados intensivos alocadas a covid-19 -, se conseguirmos controlar a pandemia agora, vamos conseguir viver sem dramas de rutura", sustentou.
Na entrevista, o líder do executivo recusou que o seu Governo tenha algum preconceito ideológico e que, por isso, não recorra a mais contratualizações com os setores provado e social.
De acordo com os dados apresentados pelo primeiro-ministro em relação à capacidade de resposta do SNS, sem ser necessário proceder a qualquer descontinuidade de outra atividade médica, há 704 camas para cuidados intensivos, estando ocupadas 433. Um número que, no limite, mas com perturbação de outras atividades médicas, pode chegar a 944.
"Temos em execução um conjunto de obras em vários hospitais (casos de Évora, Amadora/Sintra e Gaia) para aumentar a capacidade. Quando começou a pandemia, Portugal era o país da União Europeia com o menor número de camas de cuidados intensivos por cem mil habitantes. Chegaremos a março de 2021, um ano depois da pandemia, tendo passado do último lugar, para a média da União Europeia", disse.
Questionado se a situação da Covid-19 já encontrava descontrolada em Portugal, António Costa serviu-se de um gráfico demonstrar como hoje se está "numa situação bastante mais grave do ponto de vista da pandemia daquela que estávamos no início do primeiro estado de emergência”.
“Estamos naquele momento em que conseguimos ainda ter capacidade de controlar. Hoje temos exatamente o dobro das pessoas internadas que tivemos no pior momento da primeira onda, mas ainda não entrámos em situação de rotura porque felizmente foi possível aumentar entretanto a capacidade de resposta e de acolhimento no SNS”, disse o primeiro-ministro.
Quanto à capacidade de preparação para esta segunda vaga da pandemia, o governante disse que o que podia ter sido preparado, que é "o aumento da capacidade de resposta", aconteceu, citando o aumento da capacidade de atendimento da Linha SNS24, das camas para internamento e do número de testes à Covid-19, entre outros.
Ainda assim, o primeiro-ministro disse que, tal "como todos os outros países da Europa, ninguém previu que esta segunda vaga surgisse tão cedo" antecipando-se que ocorresse apenas "na passagem do outono para o inverno".
“Se me pergunta se estou surpreendido com este crescimento tão significativo na comunidade do número de transmissões, eu estou muito surpreendido”, admitiu António Costa, ressalvando, porém, que não se tratou de uma questão de não ter sido avisado, mas sim que sentiu que "as pessoas no seu conjunto não reagiram tão prontamente como reagiram no passado”.
Neste contexto, António Costa foi questionado por Miguel Sousa Tavares se o Governo não assustou suficientemente as pessoas sobre a gravidade da situação.
"Se calhar. Acha isso? Não sei. Sabe que aqui é muito difícil, é se assustamos de mais ou se assustamos de menos, se as pessoas têm consciência ou não têm consciência", respondeu-lhe.
Por isso mesmo, o primeiro-ministro voltou a colocar o tónico da discussão na ação individual.
“Como ainda ontem disse a ordem dos médicos, esta situação só é controlável se a conseguirmos controlar antes de entrar no SNS, ou seja, na fase em que depende de cada um de nós e só de nós depende, para paramos as cadeias de transmissão, e isso implica um grande rigor e disciplina para todos nós”, apontou Costa.
Quanto às medidas de limitação da circulação aos fins de semana e nos horários noturnos, o primeiro-ministro recordou que 68% dos contágios ocorrem em meio familiar, porque "as pessoas sentem-se em segurança" e baixam as defesas, o que "faz aumentar gigantescamente o processo de transmissão". Segundo António Costa, alguns dos principais focos de transmissão durante o verão foram os eventos sociais que se sucedem aos casamentos, crismas, batizados e até mesmo "grandes almoços das famílias ao domingo".
"Como não queremos ter a forma de controlar o que se passa em cada uma das casas, a forma que temos de quebrar estes movimentos é impedir a circulação", disse o primeiro-ministro, adiantando que "única forma de controlar esta pandemia é o máximo de isolamento e de proteção individual" e que "não é possível conter a pandemia sem perturbar as vidas das pessoas e da economia".
Governo vai aprovar esta semana linha específica de apoio à restauração
Nesta entrevista, que coincidiu com o primeiro dia de vigência do estado de emergência, o primeiro-ministro reconheceu que a restauração tem sido muito atingida do ponto de vista económico e referiu que as medidas já tomadas pelo seu executivo na semana passada, com um valor global ordem dos 1550 milhões de euros, são em grande parte a fundo perdido e destinam-se a micro e pequenas, muitas delas da restauração.
"Vamos agora anunciar esta semana um pacote específico para apoiar as empresas da restauração relativamente ao que vão perder de receita nos próximos dois fins de semana", declarou o líder do executivo.
Segundo António Costa, o "e-fatura" do Portal das Finanças permite saber qual é a receita de cada restaurante, ou durante o último ano, ou no último fim de semana em que há dados disponíveis.
"Portanto, podemos saber qual é a receita que cada um tem e que teoricamente vai perder. Vamos fazer a média (pode ser a média do ano, pode ser só o mês de outubro), mas não está fixado o critério", advertiu.
Ou seja, de acordo com o primeiro-ministro, para a concessão dos apoios, O Governo, através do e-fatura, vai saber qual é a receita de cada um dos restaurantes, "porque não é mesma".
"Há restaurantes que faturam sobretudo ao fim de semana e há outros restaurantes que até fecham ao fim de semana, sobretudo nas zonas mais de serviços", justificou.
António Costa disse ainda que o executivo tem estimado "quais são os custos fixos que essas empresas têm".
"Sabemos, também, entre essas que têm custos fixos, aquelas que estão já a ser apoiadas pelas medidas do 'lay-off'. Quanto às outras podemos estabelecer um apoio específico para mitigar os prejuízos destes dois fins de semana", completou, sem referir mais detalhes dessa medida.
Ainda sobre esta linha específica de apoio financeiro, António Costa acrescentou que vai falar com as associações da restauração ao longo desta semana e defendeu que este setor tem uma situação distinta em relação à hotelaria ou a lojas de roupa, porque nos restaurantes a perda pelo encerramento "é absoluta".
Em matéria de estado de emergência, o primeiro-ministro aproveitou para esclarecer que "não há nenhuma limitação de circulação interconcelhia neste período".
"Há uma obrigatoriedade de não circulação em determinadas horas do dia" contrapôs.
Costa espera de Joe Biden regresso da relação transatlântica e do multilateralismo
"Tenho a esperança de que com a eleição de Joe Biden possa renascer a relação transatlântica, o que é particularmente importante para um país como Portugal, precisamente com a sua dimensão atlântica que as regiões autónomas proporcionam, tendo uma relação única com os Estados Unidos da América no seio da Europa. Portanto, acho que isto é uma oportunidade", sustentou.
Para António Costa, "quer a relação entre a Europa e os Estados Unidos, quer o facto de Joe Biden ter dito que no primeiro dia do seu mandato vai regressar ao Acordo de Paris, dá obviamente um alento a todos aqueles que percebem que as alterações climáticas são mesmo a maior prioridade para a subsistência da humanidade".
"Quando Joe Biden diz que quer fazer uma grande convenção global para a defesa da democracia, o combate à corrupção, aos totalitarismos, pela promoção dos direitos humanos, isso é uma boa notícia. Quando [Joe Biden] quer retomar uma visão multilateral - e esperemos que os Estados Unidos regressem à Organização Mundial da Saúde (OMS) -, acho que isto são boas notícias para o mundo", acrescentou o primeiro-ministro.
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