Lançado em 2000 – sim, foi há quase um quarto de século –, o primeiro "Gladiador" não só revitalizou o género épico como deixou uma marca duradoura. A icónica pergunta de Maximus Decimus Meridius, “Are you not entertained?”, ainda hoje ecoa como símbolo de uma luta movida pela sede de vingança e pela justiça, que ressoou em milhões de fãs em todo o mundo. O filme conquistou um total de 12 nomeações aos Óscares e levou cinco estatuetas, transformando Russell Crowe numa estrela global e consolidando Ridley Scott como um dos mestres do cinema.

Agora, 24 anos após o sacrifício de Maximus, a saga continua com o gladiador Lucius Verus (Paul Mescal).

Sinopse: Anos depois de testemunhar a morte do venerado herói Maximus às mãos do seu tio, Lucius é forçado a entrar no Coliseu depois da sua casa ter sido conquistada por tirânicos imperadores que agora lideram Roma com mão de ferro. Com um sentimento de revolta e o futuro do Império em jogo, Lucius terá de olhar para o seu passado como forma de encontrar força e devolver a honra e glória de Roma ao seu povo.

O legado de Maximus

Assumir o papel de Lucius em "Gladiador II" representa para Paul Mescal não só uma oportunidade de consolidar a sua promissora carreira, mas também um enorme desafio. Dar continuidade ao legado de Maximus, o icónico herói interpretado por Russell Crowe, coloca sobre Mescal a responsabilidade de honrar uma história profundamente enraizada na cultura do cinema e muito acarinhada pelo público. O ator irlandês, conhecido pelos papéis em "Normal People" e "Aftersun", foi escolhido pelo realizador pela sua capacidade de transmitir vulnerabilidade e força em cenários adversos – qualidades essenciais para dar vida a uma personagem de peso num ambiente tão exigente e brutal como a arena do Coliseu.

Outra novidade é Pedro Pascal (o Joel de "The Last of Us"), que assume o papel de Marcus Acacius, um general romano treinado sob a tutela de Maximus, mas que agora se encontra do lado oposto — é a grande oposição de Lucius. Coube a Pascal dar vida ao general que decide capturar Lucius e transformá-lo num peão do jogo político da história.

Também no elenco está Denzel Washington, que interpreta Macrinus, um ex-escravo que se tornou um poderoso manipulador de influências nos bastidores de Roma. Ridley Scott descreveu o personagem como um "gangster" no sentido clássico da palavra, um homem cuja ambição e astúcia são movidas pela necessidade de dominar Roma. Engraçado: Scott não tinha pensado em Washington para o papel, mas, inspirado por uma pintura de Jean-Léon Gérôme, visualizou a personagem com a imponência e o misticismo que apenas Washington poderia transmitir. Feita a escolha e visto o filme, há quem já fale em, pelo menos, mais uma nomeação ao Óscar para o veterano de Hollywood.

Digital de ponta, mas só para aprimorar o que é real

Apesar das opções tecnológicas de hoje, Ridley Scott optou por construir cenários físicos para criar uma experiência visual mais autêntica. Em Malta, ergueram-se estruturas gigantes, incluindo uma réplica do Coliseu e o arco monumental da cidade de Roma, decorado com as bem conhecidas figuras de Rómulo e Remo. A produção em Marrocos, por sua vez, exigiu uma logística impressionante para recriar batalhas navais no deserto, com navios transportados por plataformas hidráulicas.

Se isto quer dizer que não há CGI (efeitos gerados a computador)? Claro que há. Com a ajuda da Industrial Light & Magic (ILM), foram acrescentados céus e ambientes digitais para complementar os cenários físicos. Segundo a IBC, foi esta colaboração que trouxe as camadas de realismo que permitiram engrandecer a visão que o realizador Ridley Scott queria, sem comprometer a estética clássica de Roma.

A nível técnico, além dos cenários físicos, Scott adotou uma abordagem que permite o uso de até 12 câmaras em simultâneo para capturar as cenas de batalha de múltiplos ângulos. Esta técnica oferece ao público uma visão dinâmica e contínua dos confrontos no Coliseu, aumentando a imersão e fazendo o espectador sentir-se na arena ao lado dos gladiadores.

Numa entrevista à GQ, o ator Joseph Quinn, que interpreta Geta, uma espécie de co-imperador, ajuda-nos a criar a escala gigantesca do filme: “O set de Gladiador II era algo maravilhoso de se testemunhar. Sabem aquele discurso de Rutger Hauer no final de Blade Runner? ‘Vi coisas que vocês não acreditariam’ – era assim que me sentia ao ver tudo aquilo”, disse, rematando que “a ambição de Ridley Scott é visível em cada frame”. Segundo aquilo que a crítica especializada escreveu, Quinn não está a exagerar. Ridley pode ser acusado de muita coisa, mas não de poupar nas cenas de ação.

O que diz a crítica?

As primeiras críticas a "Gladiador II" foram, em grande parte, positivas. O filme recebeu o certificado “fresh” no Rotten Tomatoes, com 77% de aprovação em 104 avaliações, e 67% de pontuação no Metacritic, refletindo uma receção geralmente favorável, mas com visões diferentes deste regresso à Roma Antiga.

Do lado mais positivo, o jornal The Guardian descreve o regresso de Ridley Scott à arena romana como "algo repetitivo", mas reconhece que, "ainda assim, é um espetáculo emocionante", destacando Paul Mescal como "um protagonista formidável". E conclui, fazendo alusão à frase mais conhecida do primeiro filme: "Estamos entretidos". De forma muito idêntica, a revista Variety descreve o filme como "uma sólida peça de entretenimento neoclássico” e um “épico competente de guerra brutal”, mas longe de ser uma sequela brilhante.

Do outro lado do espectro, e dos que responderam negativamente à questão "are you not entertained?”, está Jorge Mourinha, no Público, que escreveu em bom português que "Gladiador II" é “um desastre, uma sequela sem razão para existir” (embora elogie a atuação de Denzel Washington, descrevendo-a como um ponto alto do filme). Já o britânico The Times também não se mostrou grande fã e realça que esta é uma sequela espalhafatosa “estilo-Marvel”, sem muito para dizer.

Moral da história: este contraste de opiniões demonstra bem a árdua tarefa que o realizador tinha pela frente.

O ciúme e o desconforto de Maximus

Russel Crowe, o protagonista do primeiro filme, tem hoje 60 anos. E há uns meses admitiu num podcast sentir-se “ligeiramente desconfortável” com a ideia de um novo "Gladiador". Crowe, que venceu o Óscar de Melhor Ator pelo papel de Maximus, revelou que esta nova produção lhe trouxe uma sensação de “melancolia e ciúme” ao ver a história prosseguir sem o seu personagem. Para o ator, a perda de Maximus representa algo insubstituível, expressando uma mistura de orgulho e nostalgia pelo impacto cultural do filme original.

Ora, com um pouco de bom senso e uma rápida pesquisa no Google, é fácil perceber que o General Maximus não está sozinho na sua jornada (basta recordar a crítica do Público). Ainda assim, o futuro destes gladiadores romanos pode não terminar aqui. Em entrevista ao The Hollywood Reporter, Ridley Scott revelou ter “uma ideia” para “Gladiador III”, abrindo portas a uma trilogia que narra a dinastia e as lutas de poder em Roma.