Os grandes incêndios de 15 de outubro de 2017 obrigaram o concelho a "olhar para a floresta de uma forma diferente" e a criar o projeto "A Floresta da Serra do Açor", que prevê a reflorestação de dois mil hectares de baldios do concelho.
O projeto consiste na criação de um modelo florestal que alia a floresta de produção com atividades complementares, como a pastorícia, a apicultura, a criação de caminhos florestais, a aposta em espécies autóctones e a preservação da biodiversidade, ao mesmo tempo que se cria um território mais resiliente aos incêndios que afetam ciclicamente este concelho do interior do distrito de Coimbra, disse à agência Lusa o presidente da Câmara de Arganil, Luís Paulo Costa, que apresenta hoje à tarde o projeto, no seminário "Prevenção de Incêndios Florestais e Resiliência dos Territórios do Interior", na Cerâmica Arganilense.
A iniciativa prevê uma aposta em árvores como o sobreiro, o carvalho, o medronheiro e o castanheiro, esta última uma espécie que já teve "uma relevância económica muito significativa no passado e que agora está reduzida a pequenos nichos" e que o município pretende relançar.
"É uma área já muito significativa do nosso concelho e, sendo uma área significativa, permite uma gestão florestal profissional", salientou, esperando que o projeto possa tornar-se num caso de estudo e num exemplo para o resto do país.
O modelo florestal e o plano de negócios estão a ser realizados com o suporte técnico da Escola Superior Agrária de Coimbra, sendo o financiamento total da primeira fase do projeto (que deverá durar entre cinco a seis anos) inteiramente suportado por um grupo empresarial português, avançou Luís Paulo Costa, referindo que, por enquanto, não pode revelar a identidade dessa empresa.
Cerca de uma dúzia das associações de compartes do concelho (metade do total) já aderiram ao projeto, que vai ter como foco o principal corredor de entrada de incêndios no concelho, que fica a sul, no limite entre a Pampilhosa da Serra e Arganil, referiu.
Os dois mil hectares vão ser geridos por uma associação cujos estatutos estão a ser finalizados e que deve ficar formalizada a tempo do feriado municipal (07 de setembro).
Esta entidade vai ser integrada exclusivamente pelos compartes dos baldios, explicou, acrescentando que, apenas na primeira fase do projeto, a autarquia terá um papel ativo neste órgão.
Para além de prever a plantação de autóctones, também haverá algum espaço para a plantação de pinheiro bravo - "há solos que não têm características para outro tipo de produção" - e de pinheiro manso, referiu.
O presidente da Câmara de Arganil estima que o projeto possa integrar "algumas centenas de cabeças" na pastorícia, que poderão ter um papel importante nos 90 hectares de faixas de gestão de combustível associados à zona integrada no projeto.
Luís Paulo Costa não tem dúvidas de que este projeto será "decisivo na mudança de paradigma" do concelho, considerando que poderá ser um exemplo não apenas para Arganil e para a região como, eventualmente, para o país.
O presidente da Câmara de Arganil sublinha que, apesar da tragédia de 2017, dois anos volvidos, o território está "totalmente desordenado do ponto de vista florestal" e que, apesar das "palavras bonitas" que foi ouvindo do Governo, "nada de objetivo ainda aconteceu".
"Se nada for feito, se continuarmos no campo das intenções e das palavras, aquilo com que podemos contar é que a Natureza não para e daqui a quatro ou cinco anos teremos o mesmo resultado que em 2017", afirmou Luís Paulo Costa.
Nesse sentido, acredita que o projeto "possa ser uma lufada de ar fresco na região e um exemplo para os restantes proprietários".
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