Depois do discurso de Francisco Assis sobre o significado histórico da operação militar do 25 de novembro de 1975, a maioria dos deputados socialistas levantou-se para o aplaudir, mas a primeira fila, onde estavam a líder parlamentar, Alexandra Leitão, e o secretário-geral, Pedro Nuno Santos, também bateu palmas mas permaneceu sentada.
O presidente do Grupo Parlamentar do PSD, Hugo Soares, explorou este contraste, levantou-se e bateu vigorosamente palmas à intervenção do antigo líder parlamentar do PS, conotado com a ala mais à direita dos socialistas e que se opôs em 2015 à formação da Geringonça no tempo da liderança de António Costa.
Hugo Soares pediu logo a seguir a palavra para dizer que as palavras de condenação dos extremismos na História recente de Portugal antes proferidas por Francisco Assis tinham “incomodado” Pedro Nuno Santos, prova, segundo ele, de que a direção do PS “tinha abandonado a moderação” política em 2015.
Francisco Assis fez hoje, provavelmente, o seu último discurso na Assembleia da República, antes de assumir funções como eurodeputado. E foi aplaudido por deputados de várias bancadas (alguns do PSD, do CDS-PP e da Iniciativa Liberal) e elogiado pelo presidente do parlamento, José Pedro Aguiar-Branco.
O cabeça de lista do PS pelo círculo do Porto nas últimas eleições legislativas falou sobre o significado histórico do 25 de novembro de 1975, numa intervenção em que destacou a importância do fundador do seu partido, Mário Soares, ao nível da ação política para conter o Processo Revolucionário em Curso (PREC).
Mas, na sua intervenção, sem retirar importância histórica à ação militar conduzida pelo general Ramalho Eanes e apoiada pelos militares do chamado “Grupo dos Nove”, Francisco Assis recusou-se a equipar este acontecimento ao 25 de Abril de 1974, a data fundadora da democracia. E, sobretudo, rejeitou a tese de quem procura contrapor a revolução dos cravos e o 25 de novembro.
Para Francisco Assis, os dois acontecimentos fizeram parte de um processo histórico. Um processo histórico que foi sinuoso e até contraditório.
Francisco Assis subiu à tribuna com um livro na mão de Mário Soares, “Um político assume-se” - ensaio de 2011 em que o antigo Presidente da República, que faleceu em janeiro de 2017, reflete sobre as causas e as consequências do 25 de novembro de 1975, sustentando a tese de que se tratou de uma vitória das correntes moderadas, principalmente com a posterior recusa da ilegalização do PCP, “algo que seria um erro tremendo”.
Dirigindo-se à bancada do CDS, Assis saudou a iniciativa dos democratas-cristãos de querer valorizar a operação militar que pôs fim “a um risco real de deriva totalitária em Portugal”.
No plano politico, o “número um” do PS pelo Porto nas últimas eleições, fez questão de acentuar a ideia de que o PS “está à-vontade sobre o 25 de novembro”, porque, na sua perspetiva, Mário Soares foi a figura civil mais determinante nesse episódio histórico.
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