“É estranha a recente missão da Secretaria de Estado do Turismo à Cidade do Cabo [África do Sul] para a promoção do enoturismo. (…) Ou a Secretaria de Estado do Turismo tem uma visão redutora e limitada da promoção das regiões vitivinícolas e do enoturismo ou é um lamentável lapso da constituição dessa mesma missão”, declarou à Lusa o presidente executivo da Associação de Turismo do Porto (ATP), Rui Pedro Gonçalves.
A Secretaria de Estado do Turismo e o Turismo de Portugal realizaram uma missão a África do Sul na semana passada, com o objetivo é reforçar o “conhecimento e a capacitação de entidades com responsabilidades no desenvolvimento e promoção de territórios vitivinícolas e destinos de enoturismo portugueses”, levando representantes de várias entidades regionais de turismo, lê-se num comunicado de imprensa da Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP).
A “missão” de promover os vinhos da região Norte de Portugal em África do Sul aparece na sequência de um “convite da Secretaria de Estado do Turismo” e a iniciativa está “integrada num programa de ação para o enoturismo que o Turismo de Portugal irá lançar em breve”, para potenciar “o ‘cross-selling’ [técnica de vendas cruzadas] entre vinho e turismo”, explicou na altura a TPNP.
Numa entrevista à Lusa, Rui Pedro Gonçalves lembra que no "regime jurídico sobre as áreas regionais de turismo de Portugal", as entidades regionais de turismo apenas “asseguram a realização da promoção da região no mercado interno alargado, compreendido pelo território nacional e transfronteiriço com Espanha” (Lei n.º33/2013, artigo 5.º).
A ATP classifica de ainda de “estranho” que se refira que a missão a África do Sul serviu para se encontrar um “referencial estratégico para o enoturismo”, quando a ATP faz “parte da maior rede de ‘networking’ de entidades ligadas ao enoturismo e as regiões vitivinícolas a nível mundial”, que são as ‘Great Wine Capitals’, onde estão incluídas cidades como Bordéus (França), Adelaide (Austrália), Verona (Itália), Lausanne (Suíça) Mains (Alemanha), Vale Paraíso (Chile), São Francisco Napa Valley (EUA) ou Mendonza (Argentina).
Para Rui Pedro Gonçalves, constituir uma missão apenas com as entidades regionais “significa que o sinal que a Secretaria de Estado está a dar para todo este setor é que a promoção externa vai ficar muito limitada a Portugal Continental e às regiões de fronteira com Espanha, porque é essa, efetivamente, a missão das entidades regionais.
A ATP considera também que houve uma “desconsideração para com todos os empresários do setor” que ao longo dos anos têm lutado para internacionalizar as regiões vinícolas além-fronteiras.
“É esse o nosso espanto, a forma como foi constituída a missão, e é esse o simbolismo que nós conseguimos tirar da forma como foi constituída essa missão à Cidade do Cabo”, conclui.
Questionada pela Lusa sobre a acusação da ATP, a Secretaria de Estado do Turismo confirma que participaram na missão à África do Sul as entidades regionais de turismo “que têm responsabilidade no desenvolvimento turístico do território e na estruturação de produto turístico – neste caso, enoturismo”.
A Secretaria de Estado do Turismo acrescenta ainda, numa nota por escrita enviada à Lusa, que vão ser “desenvolvidas várias ações ao longo do ano na vertente de promoção, nas quais a ATP será naturalmente envolvida”.
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