“Vai a ASAE [Autoridade de Segurança Alimentar e Económica] supermercado adentro para dizer ao país o que toda a gente já tinha reparado é que nos estão a assaltar e o que o Governo faz é muito pouco e muito tarde para, na verdade, não fazer nada”, disse Catarina Martins durante o jantar de aniversário do partido na Associação de Moradores da Bouça, no Porto.

A ASAE instaurou 51 processos-crime por especulação em fiscalizações a 960 operadores e detetou significativas margens de lucro em diversos produtos. Por exemplo, em produtos como os ovos, laranjas, cenouras e as febras de porco, foram verificadas margens a partir de 40% e até 50%. Acima desta margem, destacou-se o caso da cebola.

Estas conclusões fazem parte da última análise desta autoridade à subida dos preços de bens alimentares, que foi apresentada na quinta-feira, em conferência de imprensa, no Ministério da Economia e do Mar, em Lisboa.

Perante uma sala cheia, a líder bloquista frisou que, inicialmente, o primeiro-ministro António Costa garantia que a inflação era transitória e, por isso, decidiu não tomar decisões estruturais e deixou andar.

Quando a inflação já “galopava”, mesmo estando os salários e as pensões a perder, a decisão que o Governo socialista tomou foi “mandar a ASAE supermercado adentro”, continuou.

Esta inflação é um “assalto” à carteira, aos salários e ao país, sustentou Catarina Martins.

“Dirão que estou a ser injusta, aliás, Cláudia Azevedo, [CEO] da Sonae, ficou chocada e escreveu uma carta aos trabalhadores do Continente para dizer que há uma campanha de desinformação sobre as causas da inflação alimentar”, frisou.

A coordenadora do BE adiantou que, em 2021, Cláudia Azevedo aumentou a sua remuneração de 1,2 para 1,6 milhões de euros por ano, ganhando em cada mês o que cada trabalhador demora nove anos a ganhar.

E ironizou: “Mas, Cláudia Azevedo acha que é pouco porque ali ao lado, na Jerónimo Martins [Pingo Doce], Soares dos Santos [presidente da Jerónimo Martins] ganha 12 milhões de euros.”

Catarina Martins reforçou que as decisões da grande distribuição e dos grandes grupos económicos são “sempre orientadas” pelos seus valores e não pelos dos trabalhadores que “não tiveram sequer 5% de aumento e têm de pagar as cebolas a mais de 50%.

Esta é a "radical desigualdade" que assalta o país e é sobre esta que é preciso agir, vincou.

“Estes tempos de insegurança são provocados por uma radical desigualdade porque não vamos aceitar a ideia de que são tempos difíceis para todos, não são tempos difíceis para todos, são tempos difíceis para quase todos porque há uma elite que enriquece crise após crise”, concluiu.