“A ilha que nos sonha precisa de ser protegida e cuidada, porque a ilha é também frágil, é um corpo vulnerável, agredido pelos desequilíbrios, exposto à devastação”, afirmou, numa cerimónia no parlamento madeirense, no Funchal, em que lhe foi atribuída a Medalha de Mérito da Região Autónoma da Madeira, o mais alto galardão insular.
O cardeal, que é natural de Machico, zona leste da Madeira, sublinhou que a “consciência ecológica” está cada vez mais na ordem do dia e realçou a importância de não se considerar a natureza como algo separado dos seres humanos, pois o homem está incluído nela.
“É, por isso, fundamental buscar soluções integradas, que considerem as interações dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais”, disse, vincando que não há duas realidades separadas, uma ambiental e outra social, mas uma “única e complexa realidade socioambiental”.
José Tolentino Mendonça evocou a “intensidade telúrica poderosa” da ilha da Madeira e a sua “inesgotável capacidade de nos integrar na beleza”, mas alertou para os perigos ambientais que também a ameaçam.
O cardeal, também homem de cultura e autor de numerosos livros, apelou, por outro lado, aos deputados do parlamento madeirense para dedicarem uma “especial atenção” à causa da educação, assumindo-a como “desígnio transversal e coletivo”.
“O regime democrático universalizou o ensino e isso é um bem. Mas enfrentamos agora o desafio da qualidade. Tudo o que se puder fazer para qualificar o nosso ensino, do pré-primário ao universitário, reforçando as potencialidades das nossas escolas, investindo na formação das pessoas e fortalecendo as instituições de cultura seja uma prioridade”, disse.
E reforçou: “A sociedade precisa que os percursos de excelência, traduzidos nos mais diversos âmbitos da vida, não sejam uma exceção, mas um possível que se concretiza muitas vezes”.
A atribuição da Medalha de Mérito a José Tolentino Mendonça pelo parlamento madeirense constitui um reconhecimento do percurso de vida do cardeal, poeta e professor, nascido em dezembro de 1965.
Por outro lado, a Câmara Municipal de Machico, sua terra natal, promove esta tarde uma cerimónia de homenagem, em que será atribuído o seu nome a uma rua no centro da cidade.
José Tolentino Mendonça foi criado cardeal pelo Papa Francisco em outubro de 2019, tornando-se aos 54 anos o segundo membro mais jovem do colégio cardinalício, após o cardeal de Bangui (República Centro-Africana), Dieudonné Nzapalainga, de 52 anos.
É autor de numerosos livros pelos quais ficou conhecido nos mais diversos quadrantes sociais. O madeirense, arquivista do Vaticano e bibliotecário da Biblioteca Apostólica, iniciou os estudos em Teologia em 1982 e foi ordenado padre em 1990. Estudou Ciências Bíblicas em Roma e foi professor e vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, a instituição onde fez o doutoramento em Teologia Bíblica.
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