O Iniciativa Liberal nasceu há exactamente quatro anos, no dia 13 de dezembro de 2017. Já fez caminho, mas o economista Carlos Guimarães Pinto admite que para alguns o liberalismo, que no passado até já foi usado como insulto, continua a ter em Portugal pior nome do que o fascismo ou o comunismo, pelo menos junto daquilo a que chama "um clima muito paroquial", que ainda liga a ideologia do partido "à selva e à exploração".
Se num país tão pobre como Portugal ser liberal - ter menos Estado e as pessoas serem mais donas de si próprias - pode soar mais a ameaça do que a promessa? O economista responde: "Olhamos para os países que adoptaram políticas liberais e hoje estão numa situação económica melhor do que a nossa, conseguem investir mais em educação, em saúde. Percebo que quem está muito próximo do limite tenha muito medo de arriscar. E é esse o nosso maior drama, enquanto formos um país pobre, grande parte das pessoas nunca quererão arriscar o pouco que têm". E o "socialismo sobrevive desse medo tremendo", remata. "O que empobrece o país é que é radical, não somos nós [liberais]".
E é ainda a este propósito que afirma estar preocupado com a economia do país e o futuro: "Precisamos quase de um milagre de política económica".
Por tudo isto, considera que o Iniciativa Liberal deve crescer a partir da juventude, "pessoas mais abertas à mudança e a geração Erasmus, que percebe que é possível fazer diferente, porque vai para a Europa e tem outra visão do mundo". E conta a sua experiência na Hungria.
Foi também por ter uma visão diferente da política que pouco depois das legislativas de 2019 se demitiu da presidência do partido. Precisava de trabalhar para sustentar a família. "Ninguém que seja bom e honesto ganha dinheiro na política". Resumindo: "Para pessoas medíocres, embora honestas, é uma boa saída. Para pessoas boas e desonestas, financeiramente, também funciona. Para pessoas boas e honestas não é propriamente uma alternativa", a menos que tenham "uma almofada financeira que lhes permita não pensar muito nisso".
De resto, confessa, há um círculo de pessoas que os líderes partidários têm de "aturar" para o qual não tem paciência. E recorda que foi exposto a esse círculo, enquanto presidente do Iniciativa Liberal, logo nos dias que se seguiram às eleições que deram um deputado ao IL: "No mês a seguir aquela eleição, as mensagens que recebi dos maiores oportunistas do país, pessoas a quem uns meses antes tinha dito que precisávamos de 500 euros" e não deram nada, mas "que depois da eleição até milhares de euros davam".
Concorda que ter um ou dois deputados, nesta fase, seria um mau resultado para o Iniciativa Liberal e afirma que se alguma coisa pode prejudicar o IL nas eleições de 30 de janeiro, "é alguma bipolarização". E "a chantagem" do voto útil. E lembra o que aconteceu nas autárquicas, quando o partido decidiu apresentar-se sozinho a eleições, o que poderia ter resultado na derrota de Carlos Moedas em Lisboa. "Arriscávamo-nos a ser o Livre, que foi para a lista de Medina e perdeu". Não sabe se a opção tomada foi certa, mas "teria de ponderar muito bem".
Nesta conversa, Carlos Guimarães Pinto desmistifica ainda o programa liberal para a Educação e a Saúde e critica o processo "absolutamente ridículo" de contratação de professores. Sobre a TAP, relembra "o péssimo negócio que foi a renacionalização" e o erro - "propaganda pura" - que o ministro Pedro Nuno Santos (e o governo PS) está a cometer. Fechar esta e fazer uma nova companhia aérea, embora não seja a solução que defende, demostraria mais respeito pelos contribuintes.
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