Vítor Machado e Laura Serafim, da Parede, Cascais, cumprem mais uma das peregrinações que todos os meses fazem à Cova da Iria. “Só quando estivemos em confinamento e não se podia sair do concelho, é que não viemos. De resto, vimos todos os meses, sem dia certo”, disse Vítor Machado à agência Lusa, enquanto a seu lado Laura preparava as cadeiras, bem junto ao corredor central, que trouxeram para se sentarem no recinto.
Para estes dois peregrinos, que chegaram à Cova da Iria na segunda-feira, “esta peregrinação poderá não ter tanta gente como chegou a ser divulgado. Estamos no parque das caravanas e aquilo está a 70%”.
“As pessoas ainda estão receosas e vão cumprindo as regras de segurança” sanitária, reconhecem, o que os tranquiliza, mesmo que muita gente esteja no Santuário esta noite e na manhã de quarta-feira.
Numa das entradas laterais do Santuário, João Duarte, que chegou hoje a Fátima com a família, oriundo da Amadora, vê outra realidade. “Umas pessoas cumprem, outras não”, garantiu este peregrino habitual, enquanto tira a máscara para comer um iogurte.
Em tempo de pandemia, esta é a terceira vez que João Duarte e a família estão em Fátima e não tem dúvidas em dizer que “agora isto está muito melhor”.
“Já se pode vir. As vacinas foram muito boas. Mas logo, se pudermos, ficamos num círculo marcado no chão do Santuário”.
Ao mesmo tempo que João Duarte dizia o que esperava fazer à noite, a poucos metros um grupo de 12 peregrinos de Alcáçovas, Viana do Alentejo, tirava a foto que assinalava o final de mais de seis dias de caminhada.
Habituais peregrinos da Cova da Iria desde 2015, principalmente nos meses de maio e outubro, apenas a pandemia travou as suas etapas de fé, mas fizeram "nesse período a peregrinação interior”, disse a porta-voz do grupo.
Todos vacinados e testados antes da partida, estes 12 peregrinos sentiram-se “sempre seguros”, até porque tentaram estar sempre “em bolha”.
Quem está ainda um pouco cético face à normalidade anunciada são os comerciantes de artigos religiosos que proliferam em Fátima.
Com pequenas lojas nas imediações do Santuário, Célia Santos e Teresa Silva foram taxativas quando falaram à agência Lusa. “Isto está muito fraquinho”.
“Ao fim de semana, ainda se faz alguma coisa, mas faltam ainda os grandes grupos de brasileiros, espanhóis e italianos. Esses é que compram”, asseguraram.
Meio a sorrir, Célia Santos ainda confessou, “os portugueses compram coisas pequeninas, gastam menos e, mesmo assim, regateiam”.
Teresa Silva acrescentou de imediato: “Não são só os portugueses, os espanhóis também regateiam”.
As cerimónias de hoje e de quarta-feira no Santuário de Fátima vão ser presididas pelo arcebispo de Salvador da Bahia e primaz do Brasil, cardeal Sérgio da Rocha.
Depois de na segunda-feira estar confirmada a presença de 32 grupos organizados, esse número subiu hoje para 48, sendo 19 deles portugueses, das dioceses do Algarve, Aveiro, Beja, Bragança-Miranda, Coimbra, Évora, Lamego, Lisboa, Portalegre-Castelo Branco, Porto, Setúbal e Vila Real, informou o departamento de informação do Santuário de Fátima.
Os restantes grupos inscritos são oriundos de países estrangeiros, com destaque para a Itália, com oito grupos, a França, com cinco, e a Espanha, com três.
Alemanha, Bélgica, El Salvador, Eslováquia, Irlanda, Polónia, Reino Unido, Estados Unidos da América e Suíça são outros países com grupos organizados hoje e quarta-feira em Fátima, onde também se encontra um grupo de filipinos residentes na Holanda.
Tal aponta para o gradual regresso à normalidade no Santuário, que espera a presença de dezenas de milhares de fiéis, a fazer lembrar o tempo antes da pandemia de covid-19.
A peregrinação começa oficialmente hoje, às 21:30, com a recitação do terço, na Capelinha das Aparições, seguida de procissão das velas e celebração no altar do recinto. No dia 13, às 09:00, terá lugar a recitação do terço, seguida de missa internacional, com a palavra ao doente e procissão do Adeus.
Esta peregrinação, que celebra a 6.ª Aparição de Nossa Senhora, com particular destaque para o chamado “milagre do Sol”, é a última grande peregrinação aniversária de um ano pastoral ainda muito marcado pela pandemia, pelo que, “apesar de nesta data estar em curso um progressivo e responsável desconfinamento, será obrigatório o uso da máscara e a higienização das mãos à entrada do Recinto”, informou o Santuário de Fátima.
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