A recomendação, sem força de lei, insta o Governo a retirar “o nome General Humberto Delgado da toponímia do aeroporto de Lisboa” e a atribuir “ao referido aeroporto o nome da fadista Amália Rodrigues, um dos maiores nomes da cultura portuguesa”.
Se fosse viva, a fadista teria celebrado 100 anos na quarta-feira.
Em 2016, o anterior Governo (também liderado por António Costa) decidiu homenagear o “General Sem Medo” e atribuiu o seu nome ao então Aeroporto da Portela.
Para justificar esta mudança, o deputado do Chega cita uma notícia do El País, do final de junho, que refere que a organização terrorista luso-espanhola DRIL foi responsável, em 1960, pelo assassínio de uma criança de 20 meses em São Sebastião (País Basco) inicialmente atribuído à ETA.
O DRIL (Diretório Revolucionário Ibérico de Libertação) foi uma organização revolucionária apoiada por Fidel Castro (ditador comunista cubano) que atuou entre 1959 e 1964 com o objetivo de derrubar as ditaduras de António Salazar (Portugal) e Francisco Franco (Espanha).
Os líderes desta organização foram os portugueses Humberto Delgado – militar que deu corpo à principal tentativa de derrube de Salazar, através de eleições, que perdeu em 1958 – e Henrique Galvão – famoso por ter desviado o paquete português Santa Maria, cheio de passageiros, em 1961.
“Sendo estas informações verídicas, o Chega defende que o nome do general Humberto Delgado deve ser retirado da toponímia do aeroporto de Lisboa, pois não é aceitável que um homem responsável pela morte de uma criança inocente dê nome ao principal aeroporto do país quando se tratou, sublinhe-se, de uma ação terrorista”, salienta o líder demissionário no projeto de resolução que deu entrada no parlamento na sexta-feira.
Ventura considera que, “pese embora seja de louvar a luta pelo derrube dos regimes é de todo intolerável aceitar que o general Humberto Delgado continue a dar nome ao aeroporto de Lisboa” e defende que estes factos provocam “um sentimento de embaraço”.
Segundo a investigação do El País, a três dias de se cumprirem 60 anos do crime, um “documento policial inédito” confirma que o “grupo terrorista português” foi o autor do assassínio ocorrido em 27 de junho de 1960, inicialmente atribuído à ETA, uma organização terrorista que lutou pela independência do País Basco espanhol, mas que só iniciou as suas atividades em 1961.
O documento da polícia esclarece que, quando o ataque foi cometido, as suspeitas sobre a sua autoria caíram logo sobre o DRIL, que em 18 de fevereiro de 1960, poucos meses antes, tinha feito explodir quatro bombas em diferentes locais de Madrid.
Uma outra investigação do Memorial das Vítimas do Terrorismo já tinha concluído que Guillermo Santoro, militante do DRIL, foi quem colocou a bomba na estação de comboios de Amara (São Sebastião) cuja detonação assassinou Begona Urroz, de 20 meses, em 27 de junho de 1960.
O autor ou os autores desta operação nunca foram presos ou julgados e acabaram por beneficiar de uma amnistia em 1977.
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