Os participantes no protesto, que inclui uma marcha até ao Ministério da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior, empunhavam cartazes com as inscrições “Pela defesa dos direitos profissionais” ou “Doutoramento é trabalho”.
A manifestação é promovida por várias organizações e estruturas sindicais e realiza-se na data em que se assinala o Dia Nacional dos Cientistas.
Em declarações à agência Lusa, o investigador na área da Química na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) Carlos Lima disse, preocupado, que ainda não há solução para o seu contrato de bolseiro, que terminará daqui a um ano e meio.
“Se calhar, daqui a um ano e meio estamos todos no desemprego. (…) Somos milhares de investigadores nesta situação e queremos uma solução”, afirmou.
Carlos Lima salientou que os investigadores se têm sentido ignorados pelo Governo.
“Oferecem soluções de ‘trazer por casa’. É o que nós sentimos. Não são soluções que deem sustentabilidade. Acho que se fala tanto de sustentabilidade, do ambiente, mas não há uma sustentabilidade do ensino superior”, realçou.
“Somos fundamentais para o trabalho da faculdade. Asseguramos investigação, (…) asseguramos aulas, asseguramos orientação de estudantes, de licenciatura, mestrado e doutoramento. Fazemos isso tudo que é preciso para a universidade sobreviver e no fim temos um reconhecimento muito fraquinho”, acrescentou.
Ao seu lado, Renata Costa, também investigadora no Centro de Investigação em Química da Universidade do Porto (CIQUP), explicou que estão “ao abrigo da norma transitória como os restantes colegas”.
“Trabalhamos na Universidade do Porto e aquilo que pretendemos é que, ao fim desta norma transitória, seja criado um mecanismo de integração destes investigadores tal como aconteceu no PREVPAP [Programa de Regularização Extraordinária dos Vínculos Precários na Administração Pública] recentemente”, sublinhou.
Tendo iniciado atividade como bolseira de doutoramento em 2009, conseguido uma bolsa de pós-doutoramento em 2013 e em 2019 um contrato de norma transitória, Renata Costa perspetivou um futuro incerto a partir de 2025.
A presidente da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), Bárbara Carvalho, disse à Lusa que a instabilidade laboral no setor já leva muitos anos, com muitos investigadores com contratos precários e “sem perspetivas nenhumas de integração na carreira”.
“É importante dizer que a carreira de docente existe e que os gestores de ciência devem e merecem ser integrados. Aquilo que acontece é que as pessoas fazem investigação ou dão aulas (…), há mais de 10/15 anos, de forma precária”, sustentou.
Bárbara Carvalho alertou ainda para o estatuto do bolseiro, que faz com que não tenha “acesso aos básicos direitos laborais”.
“Nós não temos acesso ao subsídio de desemprego, por exemplo, subsídio de férias, subsídio de Natal. Aquilo que nós temos é uma grande desproteção laboral e sabemos (…) que somos necessidades permanentes”, frisou.
O secretário-geral da Federação Nacional de Professores (Fenprof), Mário Nogueira, juntou-se ao protesto e disse à Lusa que a manifestação de hoje já era urgente e que a educação e a ciência “têm estado sujeitas a uma precariedade absolutamente indecente”.
“Estamos a falar de um setor que tem 3.600 investigadores em precariedade para 400 e poucos (…) investigadores no quadro. Esta é uma situação inaceitável e nós sabemos que os investigadores em Portugal têm desenvolvido um trabalho absolutamente extraordinário”, destacou.
Também à Lusa o presidente do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESUP), José Moreira, explicou que é “uma luta que se arrasta há muitos anos”.
“Todos os dias, ou quase todos os dias, da Ciência, temos uma manifestação deste tipo. Esta luta é culminarmos o processo do desenvolvimento científico do país, que teve um grande impulso com [o ministro da Ciência e Tecnologia] Mariano Gago, (…) que vimos o número de doutorados a aumentar, o número de publicações científicas (…) aumentar, o número de alunos de professores do ensino superior a aumentar, mas não vimos os empregos dos cientistas”, observou.
José Moreira esclareceu que todos os cientistas que “fazem um desenvolvimento extraordinário da Ciência” em Portugal continuam “mais ou menos nas mesmas condições em que estavam há 30 anos”.
“Todos esses contratos de trabalho são contratos precários. É este o momento de o país não desperdiçar todo este talento (…), integrando-os quer nas carreiras de investigação quer nas carreiras de docente”, concluiu.
(Artigo atualizado às 19h35)
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