Quais são os profissionais mais solitários? A pergunta foi feita por investigadores norte-americanos e as respostas foram agora publicadas na revista ‘Harvard Business Review’. O trabalho, publicado esta segunda-feira, foi coordenado por Shawn Anchor, Gabriella Rosen Kellerman, Andrew Reece e Alexi Robichaux.
Nos Estados Unidos da América, os trabalhadores mais solitários são solteiros e não têm filhos. Têm formação académica elevada — os advogados e os médicos são os que se sentem mais solitários. Mais: a solidão é mais frequente nos trabalhadores não-heterossexuais e não-religiosos.
Todavia, dizem os investigadores, saber quem está em risco não significa saber o que fazer. Mas há pequenas coisas que podem ser feitas para conseguir grandes diferenças. Ir almoçar acompanhado ou meter conversa com alguém fazendo um pequeno elogio ao trabalho de um colega podem ser suficientes para criar um laço social duradouro.
Estas iniciativas para fomentar a socialização no emprego tornam o ambiente do local de trabalho mais saudável e com uma melhor cultura de apoio aos empregados. E se o ambiente apoia melhor as pessoas que nele trabalham, a produtividade aumenta, tal como aumenta a retenção dos trabalhadores na empresa.
O estudo mostra que os empregados com experiência de apoio social acima da média tinham maior probabilidade de ter sido aumentados nos últimos seis meses. Para além disso, dizem os investigadores, era também menos provável que estivessem a planear demitirem-se do emprego no meio ano subsequente.
Isto leva a equipa que liderou o estudo a concluir que uma rede robusta de apoio no local de trabalho não é apenas algo simpático de ter — “tornou-se num imperativo para os negócios”.
Os empregados inquiridos que reportam um maior sentimento de solidão, têm uma menor satisfação com os respetivos empregos, menos promoções, maior frequência na troca de trabalhos e uma maior probabilidade de deixarem os empregos atuais num período de seis meses. Estes efeitos mostram, assim, o impacto económico da solidão para as empresas.
Também o sentimento de que falta um apoio social no local de trabalho gera os mesmos sentimentos e, por isso, os mesmos impactos económicos nas empresas.
Mas, quem são os trabalhadores mais solitários? A investigação mostra que, nos Estados Unidos, é na área do Direito que estão os trabalhadores mais solitários (estudos dos anos 1990 mostram que os advogados têm uma das profissões com maior prevalência de casos de depressão). Seguem-se as engenharias e as ciências. Pelo contrário, empregos que requeiram muita interação, como o trabalho social, o marketing e as vendas, estão entre as profissões cujos empregados reportam menores sentimentos de solidão.
Outra variável a ter em conta é o tipo de empresa a que o trabalhador está ligado. O estudo mostra que, de todos os analisados, são os empregados que trabalham em indústrias com fins lucrativos quem se sente menos solitário e mais apoiado do ponto de vista social.
Pelo contrário, os trabalhadores da administração pública sentem-se mais solitários que os empregados de entidades com e sem fins lucrativos. Para além disso, relatam ainda menores níveis de apoio social nos respetivos empregos.
Todavia, nem tudo depende do emprego. Aliás, as conclusões apontam que são os fatores para lá do emprego que mais influem nos sentimentos de solidão dos trabalhadores. Quanto mais pessoas rodearem um empregado, na vida privada, mais a solidão está controlada. Em sentido contrário, solteiros, separados ou divorciados são quem se sente mais solitário e menos apoiados — e os solteiros são mesmo quem se sente pior.
Ter filhos ou uma religião também ajuda a manter longe a solidão, concluem os investigadores. Os trabalhadores sem filhos mostram maiores índices de solidão que os pais; tal como os ateus e agnósticos relatam maior solidão que os membros de comunidades religiosas.
Os estudos também têm impacto. Os trabalhadores com mestrado sentem-se menos apoiados e mais solitários que aqueles que são apenas licenciados ou têm só o ensino secundário. Mas são os formados com doutoramento profissional (formação focada na prática de uma profissão, como a medicina ou o direito) aqueles que se sentem mais solitários no emprego — até 25% mais solitários que os licenciados e 20% mais que os doutorados por via não vocacional.
Outro dos fatores que pesam nestes sentimentos é a orientação sexual. Todos os que se identifiquem com orientações que não a heterossexual reportam muito maiores níveis de solidão e muito menores níveis de apoio social no local de trabalho. Os investigadores salientam que, apesar da atenção dada à orientação sexual e às iniciativas inclusivas, ainda há muito trabalho a fazer nesta área.
Há, porém, algumas coisas que não pesam nos índices de solidão no emprego. Sexo, raça, etnia, geografia não são bons indicadores. Tal como não o é o tempo de permanência num trabalho (a solidão decresce pouco quanto mais aumenta o tempo do vinculo ao trabalho).
O salário também não é o melhor indicador. Os trabalhadores inquiridos que levem para casa 80 mil dólares por ano (cerca de 65 mil euros), mostram uma melhoria de 10% na solidão e apoio social, quando comparados com trabalhadores que ganhem apenas metade disso (em 2014, o salário médio anual em Portugal para profissionais seniores era de 22.198 euros).
Naquilo a que chamou “pecado social”, o papa Francisco lembrou, esta segunda-feira, que "muitas vezes os jovens são deixados entregues a si" e que, "por vezes, são obrigados a implorar empregos que não lhes garantem o futuro”.
Na intervenção, Bergoglio abordou ainda os números do desemprego em alguns países europeus e o risco da falta de atenção aos jovens, considerando que isso os poderá levar à "depressão, dependência e suicídios” ou “até mesmo a se juntarem ao grupo Estado Islâmico para encontrarem significado para as suas vidas".
Francisco considerou que "este é um pecado social e que a sociedade é responsável por isso".
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