“Está a acabar a pandemia, acho que ele [João Doria] quer vacinar o pessoal na marra [contra a vontade] rapidinho, porque a pandemia vai acabar e ele vai falar: ‘Acabou por causa da minha vacina’. O que está a acabar é o governo dele, com toda a certeza”, disse Bolsonaro, numa conversa com apoiantes em Brasília, citado pela imprensa local.
“Vocês têm um governador um tanto autoritário. Quer até dar vacina na marra. O que é que eu vejo na questão da pandemia? Ela está a ir embora, isso já aconteceu, a gente vê em livros de história e ele [Doria] quer acelerar uma vacina agora, falou que ia vacinar 46 milhões, não é? Não sei, não tem autoridade para isso e, no meu entender, é uma arbitrariedade”, acrescentou o chefe de Estado.
Apesar de Jair Bolsonaro afirmar que a pandemia está perto do fim, a Europa atravessa uma segunda onde de infeções e o Brasil continua a ser o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo número de mortos (cerca de 5,5 milhões de casos e 158.969 óbitos), depois dos Estados Unidos da América.
O Butantan, instituto vinculado ao governo de São Paulo, tem um acordo com a farmacêutica chinesa Sinovac para desenvolvimento e produção da vacina Coronavac, que ainda se encontra na terceira fase de testes, mas que já está a ser alvo de uma forte disputa política no Brasil.
O governador João Doria tem-se afirmado como adversário político de Bolsonaro, com quem se tem debatido desde o início da pandemia, numa polémica que se agravou com o imunizante Coronavac, depois de o chefe de Estado brasileiro se ter recusado a investir nessa vacina, da qual São Paulo comprará 46 milhões de doses.
“Eu não sei que adjetivo eu daria para quem quer dar vacina na marra. Ele já fala em aplicar uma vacina que não está 100% comprovada cientificamente, diferente da hidroxicloroquina que existe há quase 70 anos no Brasil”, acrescentou Bolsonaro, defendendo mais uma vez o fármaco que é normalmente usado para combater doenças como a malária, mas sem comprovação científica contra a covid-19.
Em 16 de outubro, João Doria afirmou que a vacinação contra o novo coronavírus em São Paulo será obrigatória, exceto para pessoas que apresentem alguma restrição comprovada por um médico. Já o chefe de Estado, que se mostra cético em relação à gravidade da pandemia, declarou que não obrigará ninguém a tomar o imunizante no país.
A vacina Coronavac tem sido alvo de uma forte politização no Brasil.
O Governo de São Paulo assinou um contrato com a Sinovac que incluiu a aquisição e distribuição de 46 milhões de doses do imunizante.
Por sua vez, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, anunciou na semana passada a intenção do Governo central de comprar mais 46 milhões de doses da fórmula chinesa, ainda em estudo.
Porém, Bolsonaro desautorizou o seu ministro e vetou a compra da Coronavac, argumentando que o imunizante ainda nem sequer havia superado a fase de testes clínicos.
A recusa do chefe de Estado brasileiro contrasta com um outro acordo – firmado pelo seu Governo com a Universidade de Oxford e com o laboratório AstraZeneca – para a compra de 100 milhões de doses da vacina, que ambas as instituições desenvolvem e que se encontra na mesma fase de estudos que o imunizante da Sinovac.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,1 milhões de mortos e mais de 45,1 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
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