Na noite de 16 de setembro, o fogo entrou na aldeia de Zimão, em Vila Pouca de Aguiar, distrito de Vila Real.

Com poucos meios disponíveis, foram muitos os populares que se juntaram para apoiar no combate ao incêndio que acabou por destruir a casa de Franklim Alves, 52 anos. O próprio ajudava quando se apercebeu que a sua habitação estava completamente tomada pelas chamas.

“Venho cá todos os dias, se não é de manhã é à noite. É aqui que quero continuar a viver”, afirmou à agência Lusa Franklim Alves, referindo que é difícil recordar a noite em que Zimão se transformou “num autêntico inferno”.

Para o fogo perdeu as recordações de uma vida e a casa onde nasceu mas que, espera agora, conseguir recuperar.

O cheiro a queimado ainda se sente dentro da casa, mas de lá dentro já foi retirado parte do entulho. Na antiga cozinha, agora sem telhado nem soalho, permanecem a lareira e um forno antigo, recuperado pelo seu pai, e que quer preservar no novo lar.

O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, entrou ali e espreitou por uma pequena janela para a cozinha aquando de uma visita a Zimão com o primeiro-ministro, Luís Montenegro.

A presidente da Câmara de Vila Pouca de Aguiar, Ana Rita Dias, disse à Lusa que os serviços municipais já fizeram o levantamento topográfico e o projeto da habitação, para que se possa fazer uma estimativa orçamental e submeter a uma candidatura para o apoio à reconstrução.

“Já queria lá passar o Natal do próximo ano”, afirmou Franklim.

Enquanto espera, está em casa da irmã e, neste período, teve também ajuda da comunidade em alimentação e roupa. “Tenho a agradecer a muita gente”, frisou.

No terreno de Ondina Lagoa, 36 anos, ainda é possível ver a cinza do feno queimado. Em segundos perdeu 300 rolos de feno, a alimentação que tinha para as 100 ovelhas 40 vacas e o trabalho de um verão inteiro.

O fogo destruiu ainda alfaias agrícolas, como uma frontal para o trator, um limpa bermas, uma manjedoura e a vedação.

“É complicado recordar aquele dia. Foi um dia que nunca mais se esquece”, afirmou.

Ondina e o marido Bruno Fernandes, 36 anos, estavam dentro da aldeia a tentar conter a progressão do fogo. Ao descer viram “tudo a arder”.

“Havia pessoas com extintores, mas já não havia nada a fazer”, contou, referindo que veio gente de todo o lado para ajudar.

Nas semanas seguintes, a família recebeu um donativo de feno para a alimentação dos animais e candidatou-se ao apoio extraordinário atribuído pelo Estado.

Trata-se de um apoio financeiro que vai até um montante máximo de 6.000 euros e que dispensa a entrega de documentos comprovativos por parte dos agricultores. Foi este o valor que Ondina e o marido receberam.

“Fomos compondo a frontal do trator com o dinheiro que nos veio e vamos indo aos poucos”, referiu, explicando que esta é a alfaia que mais falta lhes faz para os trabalhos, como colocar os rolos nas manjedouras ou tirar o estrume das cortes.

Ondina confessou que não esperava que a ajuda chegasse tão depressa.

“Fiquei surpreendida, sem dúvida nenhuma. Foram impecáveis”, afirmou, explicando que o apoio financeiro não chega para pagar todo o prejuízo, mas é uma grande ajuda para se reerguerem.

Ondina trabalha num lar, Bruno numa pedreira e a agricultura ajuda a equilibrar as contas da família.

No dia 16 de setembro deflagraram quatro grandes incêndios em horas e locais distintos do concelho. Em quatro dias, os fogos queimaram oito mil hectares de mato, floresta e propriedades agrícolas. Houve ainda prejuízos em empresas, armazéns e estufas.

“Dois meses após a calamidade que assolou o nosso concelho, mostramos que a determinação e a vontade de apagar esta memória é o nosso objetivo”, afirmou Ana Rita Dias.

No concelho, foram submetidas 115 candidaturas ao apoio excecional a agricultores com um valor elegível de cerca de 309 mil euros.

Foi ainda criada uma estrutura municipal na área do urbanismo para apoio à recuperação de habitações atingidas e realizadas ações conjuntas com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) para a reposição de flora e de fauna no território.

“Apesar de tudo, podemos fazer um balanço positivo no âmbito do acompanhamento dos incêndios e na resposta aos prejuízos que as pessoas sofreram”, realçou a presidente do município.

*Por Paula Lima (texto) e Pedro Sarmento Costa (Fotos), da agência Lusa