O presidente da China, Xi Jinping, afirmou este sábado que está pronto para trabalhar com o futuro governo de Donald Trump, durante seu último encontro com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, realizado em Lima.

"A China está pronta para trabalhar com a nova administração americana para manter a comunicação, expandir a cooperação e gerir as diferenças", disse Xi segundo um intérprete.

Biden, por sua vez, defendeu que a rivalidade entre as duas potências não deve se transformar em "conflito".

Os presidentes reuniram num hotel na capital do Peru, no fim de uma cimeira do fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico (Apec), marcada pela preocupação com os planos protecionistas de Trump.

A dois meses do bilionário republicano assumir novamente a Casa Branca, o líder chinês garantiu a Biden que " empenhar-se-á para assegurar uma transição tranquila".

O objetivo de manter “uma relação estável, saudável e sustentável entre China e Estados Unidos permanece o mesmo", acrescentou Xi.

Biden destacou, por sua vez, que, apesar das diferenças com Xi, os dois sempre mantiveram respeito mútuo. "Somos a relação mais importante do mundo, e a maneira como nos relacionamos pode impactar o restante do planeta", apontou.

Ambos os líderes participarão na cimeira do G20 nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro.

"União e cooperação"

Durante a cimeira da Apec em Lima, os dois presidentes anteciparam que o regresso de Trump marcaria um período de mudanças e turbulências.

O presidente eleito ameaçou aumentar as tarifas sobre todas as exportações para os Estados Unidos, as da China para até 60% e as do México - o seu principal parceiro comercial - para 25%.

Durante o primeiro mandato (2017-2021), o republicano alimentou a guerra comercial entre as duas superpotências, que, no entanto, estabeleceram uma trégua em janeiro de 2020.

Com Trump à frente da maior potência económica e militar do mundo, a Apec, composta por 21 economias que representam 60% do PIB global, teme ser enfraquecida.

Nesse contexto, Xi Jinping exortou este sábado os seus parceiros a enfrentarem o crescente "protecionismo" com "união e cooperação". Enfatizou a importância de defender o multilateralismo, a abertura económica e a procura pela integração.

Sem mencionar Trump diretamente, o presidente chileno, Gabriel Boric, também pediu este sábado que seus aliados estejam "mais unidos do que nunca" para enfrentar a "ameaça do isolacionismo e da negação da crise climática que alguns promovem".

Resta saber “se os Estados Unidos sairão da Apec com Trump e até que ponto isso seria um golpe significativo para o livre comércio na Bacia do Pacífico", disse à AFP Jorge Heine, ex-embaixador do Chile na China.

O fórum Apec, do qual também fazem parte Chile, Japão, Coreia do Sul, Canadá, Austrália, Indonésia e México, resultou na assinatura de 11 declarações em áreas como energia, segurança alimentar, saúde, mineração e finanças, segundo a presidente peruana, Dina Boluarte.

"Imprevisível"

A cimeira em Lima foi dominada pelo nervosismo gerado pelo regresso do ex-presidente Trump, especialmente nas relações entre Estados Unidos e China.

Há apenas um ano, Washington e Pequim flexibilizaram a relação durante a reunião da cimeira da Apec em San Francisco, depois de terem alcançado acordos antidrogas e de melhoraria da comunicação militar.

"Se alcança um acordo com Biden, o presidente provavelmente cumprirá. O problema com Trump é que, como o próprio se orgulha, é imprevisível", afirmou à AFP o analista peruano de asssuntos internacionais, Farid Kahhat.

O próximo mandato do republicano também provoca dúvidas sobre as alianças dos Estados Unidos.

"Chegamos a um momento de mudança política significativa", disse Biden na sexta-feira no seu encontro com os líderes do Japão e da Coreia do Sul em Lima.

O presidente americano aspira blindar esta coaligação para enfrentar a Coreia do Norte e a sua ameaça nuclear.

Anunciou que dotará a aliança de uma secretaria, com o objetivo de que cumpra a sua "esperança e expectativa" de que dure.

Ao mesmo tempo, fez um alerta sobre a "cooperação perigosa e destabilizadora" da Coreia do Norte com a Rússia.

Pyongyang apoia o governo de Vladimir Putin - ausente da cúpula da Apec - com tropas para lutar contra a Ucrânia.

Trump afirma que deseja acabar com as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, "não porque é um pacifista ou acredita numa solução justa dos conflitos (...) e sim porque acredita que os Estados Unidos não devem dedicar mais recursos a estas guerras", afirma o analista peruano.

Biden diz que rivalidade entre EUA e China não pode resultar em "conflito"

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse este sábado  ao seu homólogo da China, Xi Jinping, que a rivalidade entre os dois países não deve resultar em um "conflito", dois meses antes de entregar o poder a Donald Trump.

"Os nossos países não podem permitir que nenhuma parte dessa concorrência resulte num conflito", afirmou Biden no início do seu último encontro cara a cara com Xi em Lima, no Peru, onde ambos participaram na cimeira da aliança Ásia-Pacífico.