Numa altura em que muitos emigrantes começam a chegar a Portugal, o diretor da Unidade de Clínica Tropical do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) alerta para o risco da realização das tradicionais festas e bailaricos nas aldeias.
“Infelizmente, este ano os reencontros das famílias nessas festas e bailaricos vão ter que respeitar as medidas de distanciamento, máscara e lavagem das mãos, senão vai correr-se o risco de ter cadeias de transmissão em populações que antes não as tiveram, isso é um problema muito sério e é uma responsabilidade de quem viaja para ver os seus familiares”, diz Jorge Seixas à agência Lusa.
Para o médico da Consulta do Viajante, as autoridades deveriam limitar o número de pessoas nessas manifestações sociais, culturais, ou impor medidas de distanciamento, para “evitar problemas em setembro”.
No seu entender, deviam ser realizadas campanhas nos media com mensagens criativas e apelativas dirigidas aos emigrantes para que cumpram estas medidas, mas ressalva que não é uma tarefa que “a Direção-Geral da Saúde possa fazer facilmente”.
“A DGS faz comunicados científicos, técnicos” e para a mensagem passar de uma “maneira mais eficaz” teriam se ser utilizadas “técnicas de propaganda” com mensagens positivas, que é o que “funciona para a população em geral”.
“Dizer: não pode, é proibido não funciona tão bem como estimular os aspetos positivos”, como dizer, por exemplo, “se gosta de vir a Portugal ver os seus familiares, os seus amigos, então mantenha-os seguros, protegendo-os e protegendo-se a si”.
Outros argumentos que podem ser utilizados são: “Suponha que chega infetado e transmite a doença a um dos seus familiares. É uma situação muito desagradável” ou “se adquirir a infeção durante as suas férias, não vai poder voltar a tempo para o seu trabalho”.
“Vamos todos contribuir para que Portugal seja um destino seguro e que as pessoas possam movimentar-se no espaço Schengen com segurança, não vamos contribuir para o contrário” é outra mensagem que o médico quer ver dirigida a quem viaja para Portugal.
Sobre relatos de pessoas que vivem em aldeias mais isoladas que manifestam receio de contrair o vírus com a chegada dos visitantes, Jorge Seixas diz ser bom que esse receio exista.
"As pessoas têm de explicar os seus receios aos visitantes e os visitantes têm que respeitar isso claramente”, porque “vai haver, como já houve, muito prejuízo em termos de convivência social”, com “impacto eventualmente económico, mas é o preço a pagar, é a minha opinião”, sublinha.
Mas é uma mensagem “muito complicada” de passar porque “o homem é um bicho gregário, gosta de se juntar, gosta de conviver” e pode tornar-se “um bocado irracional" e deixar de respeitar as medidas.
"É tudo uma questão de comportamento e a dificuldade em alterar o comportamento humano conhecemo-la bem porque fazemos Medicina do viajante e há certas coisas que por mais que nós digamos e assinalemos o risco, as pessoas continuam a fazer".
Contudo é uma mensagem que tem de começar a circular eventualmente pela DGS para precaver essa situação, porque “o passaporte covid, de estar imune, basicamente não existe ainda”.
Por outro lado, “o teste que está a ser exigido pelas companhias aéreas para alguns destinos deteta o vírus naquele momento, vale o que vale”. “É melhor do que nada e de alguma forma é uma proteção, mas a sensação de segurança que transmite não deveria ser grande, não impede que a pessoa tenha que se proteger e proteger os outros na mesma”.
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