Exibindo uma tarja exigindo "respeito", trabalhadores e ex-trabalhadores concentraram-se pelas 10:00 em frente à entrada da refinaria da Galp de Leça da Palmeira (Matosinhos, distrito do Porto), garantindo que estarão junto das instalações, cuja demolição arranca hoje e deverá demorar dois anos e meio, sempre que se justificar.
"A gente não espera nada, a gente demonstra aqui uma posição, e mantemo-nos firmes nessa posição. A destruição desta refinaria é um crime. É um crime para o país, para os trabalhadores também, mas essencialmente para o país e para os contribuintes, que meteram aqui muito dinheiro", disse aos jornalistas César Martins, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte (SITE Norte).
Para o representante dos trabalhadores, "ao fim de tantos anos, o país vai ficar refém porque vai começar a comprar ao exterior, e a indústria [portuguesa] vai sofrer com isso", sendo que "é a economia que vai perder, toda".
César Martins relembrou que além de ser uma refinaria de petróleo, as instalações da Galp em Leça da Palmeira também eram uma petroquímica, cujo fecho "já ocorreu antes das outras unidades", afirmando que empresas do setor das tintas, colas "tinham componentes" produzidos em Matosinhos.
"Agora veem-se obrigados a comprar ao exterior e os valores são outros, com o transporte", disse, argumentando que "isto de transição [energética] não tem nada", já que "agora vêm barcos de todo o lado para trazer aqui os produtos" e que "não há transição justa no mar, só no território português".
O sindicalista recordou que a refinaria de Leça da Palmeira chegou a registar "picos de quatro a cinco mil pessoas a trabalhar", entre trabalhadores diretos e indiretos, incluindo manutenção.
Atualmente, "há trabalhadores que estão sem trabalho, há trabalhadores que estão a trabalhar com o ordenado mínimo, que não é vergonha nenhuma, mas não foi nada disso que foi prometido", apontou.
"Muitos não podem estar aqui porque têm de trabalhar para comer, e é o que temos. É só promessas", disse aos jornalistas, à porta da refinaria.
César Martins criticou ainda o Fundo para a Transição Justa (FTJ) de 60 milhões de euros criado para lidar com os impactos do encerramento da refinaria, dizendo que "só funciona para a Galp e para a Câmara [de Matosinhos]", mas não para os trabalhadores, apesar de as formações e apoios ao empreendedorismo fomentados pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR), que gere o fundo.
"A maioria dos trabalhadores não vai arranjar emprego, mas isso vamos ter tempo para ver", vaticinou César Martins.
De acordo com a Galp, a demolição "será a face mais visível de um processo de descomissionamento e desmantelamento" iniciado "há cerca de dois anos", e anunciado em dezembro de 2020.
A Galp garante que, "finalizado o desmantelamento, seguir-se-á a fase de reabilitação ambiental dos solos", tendo lançado um 'site' (matosinhos.galp.com) sobre o processo de demolição.
O encerramento da refinaria foi comunicado pela Galp em dezembro de 2020 e concretizado no ano seguinte, num processo muito criticado pelas estruturas sindicais.
Em maio de 2021, a Galp deu início a um despedimento coletivo de cerca de 150 trabalhadores da refinaria, chegando a acordo com 40% dos cerca de 400 colaboradores.
Este ano foi anunciada a instalação de um Centro Internacional de Biotecnologia Azul no local, que contará ainda com a colaboração da Fundação Oceano Azul, depois de ter sido anunciada uma cidade da inovação ligada às "energias do futuro".
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