O capelão Licínio Luís, missionário Passionista e marinheiro, foi exonerado, segundo informação prestada pela própria Marinha: "A Marinha confirma que o Sr. Capelão Licínio teve uma audiência com o Sr. Almirante CEMA. À data de hoje, 29 de Março, o Sr. Capelão encontra-se exonerado."
Apesar de não terem sido indicados os motivos da exoneração, o Expresso refere que esta está relacionada com as crítica do capelão, num post de Facebook, a Henrique Gouveia e Melo, pelas palavras do almirante em relação ao fuzileiros que terão estado envolvidos nas cenas de agressões à porta de uma discoteca em Lisboa, que culminaram no homicídio de agente da PSP Fábio Guerra.
Agora, Licínio Luís, depois de ter apagado a publicação referente ao Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), voltou à mesma rede social para pedir desculpas a Gouveia e Melo. Segundo o Expresso, o afastamento do capelão pode não ter sido definitivo, com a readmissão do clérigo, que serve a Marinha desde 1996, a ficar em cima da mesa. De acordo com o I, um pedido de desculpas público era uma exigência do almirante para que a situação pudessse ser reavaliada.
O que foi dito?
É uma polémica que que não chegou a durar 24 horas. Numa publicação na página pessoal entretanto removida, o capelão escreveu na terça-feira: “Não te deixes levar pelas primeiras impressões. Aguarda pelos que fazem o caminho certo. A justiça que siga o seu caminho…”
“O senhor almirante que aguarde pela Justiça. Julgar sem saber não corre nada bem”, diz ainda o Licínio Luís, que defende que “os jovens estavam a divertir-se e foram provocados”, tendo um deles, afirma, sido “atingido à falsa fé e reagiu”, refere sobre as agressões que ocorreram à porta da discoteca Mome, em Lisboa, e que levaram à morte do agente Fábio Guerra, da PSP.
“Quem não o fazia?”, questiona o religioso, que deixa mais perguntas a Gouveia e Melo: “O senhor Almirante nunca foi para a noite? Nunca bebeu uns copos?”
Na semana passada, o almirante Gouveia e Melo fez um discurso duro ao corpo de fuzileiros da Marinha, no dia do funeral do agente da PSP Fábio Guerra, vincando que não quer “arruaceiros” na Marinha, nem militares “sem valores”.
“Não quero arruaceiros na Marinha; não quero bravatas fúteis, mas verdadeira coragem, física e moral; não quero militares sem valores, sem verdadeira dedicação à Pátria; não aceito quem não perceba que na selva temos que ser lobos, mas em casa cordeiros, pois isso é a verdadeira marca de autodomínio, autocontrole e de confiança dos outros em nós. Nós somos os guerreiros da luz e não das trevas! Quem não agir e sentir isto que parta e nos deixe honrar a nossa farda, o nosso legado de mais de 700 anos de Marinha e de 400 de Fuzileiros”, lê-se numa intervenção escrita à qual a Lusa teve hoje acesso.
No seu discurso no dia 24, o almirante Gouveia e Melo classificou os acontecimentos da madrugada de sábado como “um ataque selvático, desproporcional e despropositado”.
“Os acontecimentos do último sábado já mancharam as nossas fardas independentemente do que vier a ser apurado. O ataque selvático, desproporcional e despropositado não pode ter desculpas e justificações nos nossos valores, pois fere o nosso juramento de defender a nossa Pátria. O agente Fábio Guerra era a nossa Pátria, a PSP e as forças de segurança são a nossa Pátria e nela todos os nossos cidadãos”, vincou.
Gouveia e Melo disse também que “ver Fuzileiros envolvidos em desacatos e em rixas de rua, não demonstra qualquer tipo de coragem militar, mas sim fraqueza, falta de autodomínio, e uma necessidade de afirmação fútil e sem sentido”.
“Já ouvi vezes demais que não se pode ter cordeiros em casa e lobos na selva, eu digo-vos enquanto comandante da Marinha que se não conseguirem ser isso mesmo, lobos na selva, mas cordeiros em casa, então não passamos de um bando violento, sem ética e valores militares, sem o verdadeiro domínio de nós próprios e, se assim for, não merecemos a farda que envergamos, nem os 400 anos de história dos Fuzileiros”, vincou.
Gouveia e Melo disse ainda que agora “é tempo” de acreditar na justiça, “ajudando a que ela se realize nas instâncias adequadas” de modo que se saiba realmente o que aconteceu.
"Evitando a justiça mediática, ou popular, mas intransigente com a realidade e connosco próprios, pois o que está em causa numa primeira fase será o direito à defesa dos acusados, o direito à presunção de inocência destes até prova em contrário, mas acima de tudo o direito à verdade e justiça para com a morte do agente Fábio Guerra, para com a sua família e para com a sociedade", disse.
Mais tarde, ainda na terça-feira, num novo post no Facebook, Licínio Luís pediu desculpas a Gouveia e Melo e aos militares da Marinha. "É muito importante reconhecer perante a Marinha que errei ao dirigir-me de forma incorreta, inapropriada, interpretativa e pública ao almirante CEMA."
O capelão disse que, "agora mais a frio", o almirante "tomou a única posição possível e ética ao traçar para toda a Marinha uma linha vermelha de comportamento."
Licínio Luís, garante que "nenhuma agressão deve servir de resposta a qualquer ato terceiro, muito menos violência que possa ter contribuído para o falecimento de um agente da PSP". Conclui, citando Gouveia e Melo, afirmando que agora "é tempo da Justiça e do direito à defesa dos arguidos, mas também é tempo de verdade e de redenção."
O agente Fábio Guerra, de 26 anos, morreu, no Hospital de São José, em Lisboa, devido às “graves lesões cerebrais” sofridas na sequência das agressões de que foi alvo no exterior da discoteca Mome.
Segundo as informações da PSP, no local encontravam-se “quatro polícias, fora de serviço, que imediatamente intervieram, como era sua obrigação legal”, acabando por ser agredidos violentamente por um dos grupos, formado por cerca de 10 pessoas. Os outros três agentes agredidos tiveram alta hospitalar no domingo.
Um dos suspeitos no envolvimento nas agressões, civil, foi terça-feira passada libertado após ser interrogado pelo Ministério Público e os restantes dois detidos, fuzileiros da Armada, ficaram na quarta-feira em prisão preventiva.
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