Na quarta-feira à noite, Rui Rio apelou ao Conselho Nacional, que se reúne hoje a partir das 21:00 em Lisboa, que não marque já as diretas e o Congresso - como estava previsto e com uma proposta de calendário enviado horas antes pela própria direção - e só o faça depois de se esclarecer se o próximo Orçamento do Estado é ou não aprovado.
Em declarações à Lusa, Pedro Rodrigues, que tem assento no Conselho Nacional por inerência por ser deputado (mas sem direito a voto), pede que se este apelo se transformar numa proposta formal esta seja “rejeitada de forma clara e inequívoca pelos conselheiros”.
“Foi com alguma surpresa que vi a declaração do presidente do partido, que se comportou uma vez mais como uma muleta do PS e Costa, acenando com uma crise política artificial em que ninguém acredita e contribuindo para que o processo negocial entre Governo e PCP se dramatize”, criticou Pedro Rodrigues, que chegou a coordenar na direção de Rio um grupo de trabalho sobre o sistema político, mas se foi afastando do presidente.
O antigo líder da JSD acusa ainda o presidente de “participar numa farsa orçamental, procurando suspender a democracia interna no PSD”.
“É absolutamente inadmissível e tem de ser rejeitado”, apelou.
Por outro lado, defendeu, ainda que o cenário de crise política fosse verdadeiro, “seria inconcebível que o PSD pudesse ir a eleições com um líder sem legitimidade democrática”, salientando que o mandato de dois anos de Rui Rio (eleito em janeiro de 2020 e confirmado em congresso em fevereiro do mesmo ano) está “prestes a terminar”.
“Se o dr. Rui Rio acreditasse na crise política, convocava rapidamente eleições internas, legitimava-se junto dos militantes e - aí sim, reforçado - enfrentaria o PS. O que parece é que quer enfrentar o PS sem ser líder do PSD, eleito pelos militantes”, criticou, acusando-o de “taticismo” em relação ao Conselho Nacional de hoje.
Por outro lado, Pedro Rodrigues considerou que o calendário proposto pela direção - diretas em 04 de dezembro e congresso entre 14 e 16 de janeiro - “em nada colide” com uma eventual crise política, em que diz não acreditar.
“O partido estaria muito a tempo de enfrentar eleições em janeiro ou fevereiro do próximo ano, com um líder legitimamente eleito e o partido unido”, refere.
O Conselho Nacional do PSD reúne-se hoje em Lisboa e na ordem de trabalhos estava a marcação das diretas e do Congresso na agenda, além da análise da situação política.
Na quarta-feira à tarde, a direção enviou aos conselheiros a proposta de realização das eleições diretas para escolher o presidente do PSD para 04 de dezembro (dia do aniversario da morte do fundador Francisco Sá Carneiro), com uma eventual segunda volta no dia 11, caso nenhum candidato obtivesse mais de 50% dos votos.
A proposta da Comissão Política Nacional (CPN) apontava para a realização do 39.º Congresso do PSD entre 14 e 16 de janeiro, em Lisboa, numa antecipação de cerca de um mês em relação aos dois anteriores atos eleitorais internos.
Os conselheiros nacionais receberam, além desta proposta, uma “hipótese de cronograma” (que só iria a votos se a primeira fosse chumbada), em que as diretas se realizariam em 08 de janeiro (com eventual segunda volta dia 15) e o Congresso entre 04 e 06 de fevereiro.
Cerca de duas horas depois de este calendário ter sido enviado aos membros do Conselho Nacional, o presidente do PSD, Rui Rio, convocou os jornalistas para uma declaração no parlamento, motivada por um “facto político muito relevante”: a possibilidade de o Orçamento do Estado (OE) para 2022 ser chumbado e o Presidente da República ter avisado que esse cenário "muito provavelmente" conduziria à dissolução do parlamento e a legislativas antecipadas em janeiro.
“O que entendo que seria de bom tom era que este Conselho Nacional fizesse a análise das autárquicas, não marcaria diretas, e ficaria marcado um Conselho Nacional para depois da aprovação ou não do OE. Se o OE for aprovado, há condições para diretas, se não for, não vejo como o partido pode fazer internas e legislativas ao mesmo tempo”, disse Rio, apelando a que os conselheiros ponderem esta proposta, em nome "do interesse nacional e do partido".
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