A descoberta, cujos resultados foram publicados esta semana na revista Nature, abre portas para novos tratamentos, que, segundo a equipa, devem ser concebidos para travar o movimento destas células.
Cientistas do Imperial College de Londres estudaram, numa experiência com ratinhos, um tipo agressivo de leucemia aguda, a leucemia linfoblástica aguda de células T, um cancro de uma espécie de glóbulos brancos, que se caracteriza pelo aumento descontrolado destas células, responsáveis pela defesa do organismo contra agentes invasores.
Uma das teorias avançadas para explicar a resistência desta leucemia agressiva ao tratamento inicial, a quimioterapia, e a sua reincidência é a capacidade de os tumores se protegerem em locais específicos da medula óssea.
"[Contudo,] surpreendentemente, verificámos que, ao contrário do que tinha sido proposto anteriormente, as células de leucemia são extremamente rápidas e não têm localização preferencial na medula óssea. Ou seja, de forma simplificada, a leucemia 'foge' e resiste à quimioterapia", sustentou à Lusa o investigador Delfim Duarte, a realizar o doutoramento em leucemia e microambiente da medula óssea, no Imperial College de Londres.
A equipa usou uma "técnica inovadora" de observação ao microscópio, 'in vivo', em ratinhos com leucemia linfoblástica aguda de células T.
A técnica, explicou Delfim Duarte, hematologista no Instituto Português de Oncologia do Porto, "permitiu seguir, pela primeira vez, e em tempo real, as células de leucemia dentro da medula óssea", possibilitando "estudar o seu comportamento (movimento e estruturas com que interagem) e a sua localização".
Para o estudo, foi analisado o comportamento das células de ratinhos "doentes", com leucemia, e de células humanas de leucemia transplantadas em ratinhos imunodeficientes.
Os investigadores concluíram que quanto mais agressiva era quimioterapia administrada, mais rapidamente se movimentavam as células tumorais, resistindo ao tratamento.
O grupo observou também que a leucemia linfoblástica aguda de células T, predominante em crianças, destrói os osteoblastos, células do osso "essenciais à produção normal de sangue".
As conclusões a que chegaram os cientistas foram verificadas a partir de biópsias de medula óssea de doentes humanos, na Austrália.
A equipa da qual faz parte Delfim Duarte, um dos primeiros coautores do artigo publicado na Nature, está a averiguar qual a proteína envolvida no movimento das células da leucemia estudada, que possa servir como alvo terapêutico.
Além disso, pretende "explorar tratamentos que protejam os osteoblastos e permitam diminuir algumas complicações da doença", como anemia, infeções ou hemorragias.
O estudo teve a colaboração de investigadores do Instituto Francis Crick, igualmente em Londres, no Reino Unido, e da Universidade de Melbourne, na Austrália.
Comentários