O estudo de 2023 alterou este ano a metodologia habitualmente utilizada e avaliou estatísticas oficiais em 12 dimensões a nível local, como economia, ensino, cultura, emprego e saúde, entre 2019 e 2021, englobando-as em análises tendo em conta a diferença entre os municípios do interior e do litoral e entre municípios de pequena, média ou grande dimensão.
Devido aos anos em análise, e embora não fosse a intenção dos autores, o estudo “na prática quase faz uma avaliação dos impactos também da pandemia” de covid-19, disse à agência Lusa Miguel Pereira Lopes, coordenador do estudo realizado pelo INTEC - Instituto de Tecnologia Comportamental da Universidade Lusófona.
Segundo o coordenador, “um indicador muito crítico” a nível nacional é o das desigualdades de rendimento, “que subiu muito consideravelmente de uma forma geral” em 2021.
“Ele subiu muito a nível nacional, mas os municípios do interior revelaram valores inferiores do coeficiente de Gini [que avalia as desigualdades de rendimento]. Ou seja, as desigualdades agravaram-se no geral, mas agravaram-se ainda mais nos municípios do litoral e de maior dimensão”, disse.
Miguel Pereira Lopes realçou que “há um dado que pode ser surpreendente”, que é o da “taxa líquida de criação de empregos por conta de outrem, que é, no fundo, se o saldo dos empregos é positivo ou negativo”, e que registou um aumento bastante positivo em termos nacionais em 2021, mas “foi superior nos municípios do interior em relação aos municípios do litoral”.
“Nos municípios do interior foi muito melhor e nos do litoral até foi ligeiramente negativa, ou seja, houve perda de postos de trabalho, se quisermos ser mais taxativos”, afirmou, considerando que “o ganho bastante significativo de trabalhadores no interior” pode ser “enquadrado com a pandemia e um aumento do teletrabalho”, por exemplo.
Segundo o coordenador, dois dados em que se registaram melhorias gerais foram a educação, na qual, entre 2019 e 2021, aumentou a percentagem de estudantes que completou o ensino secundário e reduziu a taxa de retenção e desistência no ensino básico, e também o número de médicos e enfermeiros por 1.000 habitantes a nível nacional.
No entanto, na área da saúde, há outro indicador que registou “um grande aumento a nível nacional” e com uma incidência bem maior nos municípios do interior, que foi a taxa de mortalidade por doenças do aparelho circulatório.
Em relação a possíveis efeitos relacionados com a pandemia, entre 2019 e 2021 o número de espetáculos por 1.000 habitantes caiu drasticamente, embora o investimento dos municípios nesta área tenha tido uma ligeira quebra, “mas muito mais ténue”.
“Isso, em princípio, aponta para o facto de os municípios terem mantido algum apoio, mesmo que alguns espetáculos não se tenham realizado”, sublinhou.
Pela primeira vez foram analisados dados sobre a participação cívica dos cidadãos destacando-se que a taxa de abstenção nas eleições autárquicas foi, em 2021, “maior nos municípios do litoral e nos grandes municípios”, enquanto os municípios mais pequenos tiveram mais pessoas a participar.
Também foi registada uma “redução significativa” dos crimes contra a vida em sociedade e uma “descida significativa” do consumo de água por habitante, embora tanto o consumo de água como o de energia seja mais alto nos municípios do litoral e de grande dimensão.
O coordenador assinalou que, através deste estudo, os 308 municípios têm a possibilidade de comparar o seu concelho com outros municípios de referência, da mesma dimensão ou da mesma zona geográfica, e os que o pretenderem podem avançar para um estudo estatístico através de inquéritos sobre a qualidade de vida nos respetivos concelhos.
A edição de 2023 do estudo “Melhores municípios para viver” avaliou os domínios ensino; cultura, lazer, desporto; comunidade e participação cívica; mobilidade e transportes; economia; segurança; saúde; serviços públicos; turismo; urbanismo e habitação; ambiente; e emprego.
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